A Vida no Centro

CalçadaSP

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Wans Spiess e Tony Nyenhuis são publicitários e criadores do CalçadaSP, iniciativa de ativismo urbano com olhar artístico. Aqui, eles usam as calçadas do centro para caminhar sobre diferentes temas da região mais pulsante da cidade.

“Eu vi São Paulo nascer”

Como se deu a fundação de São Paulo, que neste ano comemora 464 anos

Já faz muito tempo, e desde já me desculpo por qualquer imprecisão neste relato cheio de velhas lembranças. Embora seja bem verdade não haver alguém mais apto que eu para descrever como se deu a fundação da cidade de São Paulo, no longínquo dia 25 de janeiro de 1554. Rapaz, isso faz séculos.

Todos os personagens envolvidos (jesuítas, índios, colonizadores portugueses) não estão mais entre nós, obviamente. Até o Pateo do Colégio (originalmente Colégio de São Paulo de Piratininga) que se vê aqui, é uma construção ou reconstrução recente. Mas eu, amigos, testemunhei a história. Sou o chão deste lugar!

Aproveito para dizer que pela minha vontade as pedras que hoje me cobrem (a quem dão o nome de “calçada”) seriam tiradas para a população poder tirar os sapatos e andar descalça aqui. Como os meus amigos índios. Para sentir a verdadeira energia que emana da terra. Isso sim seria uma experiência de verdade. Hashtag fica a dica.

Pois bem. Frequentemente eu ouvia os portugueses reclamarem que a Serra do Mar era quase uma muralha intransponível a quem vinha do litoral –e eles todos vinham de lá, mais precisamente de São Vicente. Vida de colonizador não era fácil, e para ser sincero sempre pensei que a muralha da Serra do Mar deveria ser ainda mais difícil de transpor, pois realmente gostava quando a vida era mais livre e natural com os índios.

Um nome fundamental na fundação de São Paulo foi Tibiriçá, cacique maioral da tribo dos Guaianás da nação Tupiniquim. Era chefe da aldeia de Inhapuambuaçu, a principal aldeia indígena dos campos de Piratininga, da colina que se ergue na confluência dos rios Anhangabaú e Tamanduateí. Tibiriçá estabeleceu-se onde hoje é o Mosteiro de São Bento, espalhando seus companheiros pelas imediações. Graças à sua influência, os jesuítas agruparam as primeiras cabanas nas proximidades do Pateo do Colégio.

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Ele ficou brother de José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, destes você já deve ter ouvido falar. Ao redor do colégio se formou, então, uma pequena povoação de índios convertidos, jesuítas e colonizadores. Os religiosos sonhavam instalar o colégio para ministrar aos indiozinhos ensinamentos cristãos e letras (sempre achei desnecessário, mas tudo bem). O dia 25 de janeiro de 1554 marca a inauguração do segundo colégio dos jesuítas, maior do que o casebre original. E comemora-se em 25 de janeiro a conversão de Paulo (apóstolo) ao cristianismo –por isso, “São Paulo” de Piratininga, nome do tal colégio.

Com a missa solene rezada pelo padre Manuel de Paiva inaugurava-se o que viria ser uma das maiores cidades do planeta. O resto é história. Claro que a gente, naquele dia, não imaginava as proporções que a coisa ganharia. Não vou dizer que a missa foi um evento qualquer, tinha uma energia diferente no ar. Inclusive nos índios. Mas daí a virar o que virou são outros quinhentos. Como faz tanto tempo e minha memória não é lá uma Brastemp, vale dar um Google para saber como se deu cada ato da fundação e seus personagens. Vale pesquisar principalmente sobre o cacique Tibiriçá, cujos restos mortais estão na Catedral da Sé. Saudades desse cara.

Feliz 464 anos, terra de São Paulo.

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