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Peça Meu Deus
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Espaço dos Satyros: Bauman e Nietzsche em peças que discutem relações humanas e a tecnologia

Nó na Garganta e Meu Deus falam sobre o efeito das redes sociais no relacionamento das pessoas e com deus

A tecnologia e as redes sociais aproximam as pessoas ou acabam por deixá-las ainda mais distantes? Como o nosso comportamento, neste universo virtual, se relaciona com a existência divina? Duas peças com esta temática, escritas e dirigidas por Ronaldo Fernandes, estão em cartaz no Espaço dos Satyros.

As peças ficam em cartaz até o dia 29 de outubro, se revezando nos fins de semana. “Nó na Garganta” tem apresentações aos sábados às 19h, enquanto “Meu Deus…” fica em cartaz aos domingos, às 18h.

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Zygmunt Bauman

“Nó na Garganta” tem como ponto de partida a pesquisa sobre a obra “Amor Líquido”, do filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017). “Bauman analisa as relações amorosas dentro do que ele chama de ‘modernidade liquida’, ou seja, tempos em que nada dura, nada permanece, onde tudo muda muito frequentemente, como as relações que não duram, não permanecem como antigamente”, conta Fernandes.

Apresentação do espetáculo Nó na Garganta, no dia 28/06/17. Foto: Bruna Quevedo.

Completando a imersão no tema das redes sociais e tecnologia para “Nó na Garganta”, o diretor e os grupos também realizaram várias vivências com diferentes aplicativos de relacionamento. No palco, estão os atores Alex Felix, Ana Paula Silva, Karla Lacerda, Marco França e Pedro Norato.

Os atores “mergulham” nas telas, tablets e teclados para percorrer um dia na vida de Dino, Teresa, Nuno, Paty e Érico, pessoas comuns, mas que são reféns das relações cotidianas. A peça mostra os encontros e desencontros criados a partir de uma vida paralela, vivida com pseudônimos, com os personagens que vivem ora no mundo on-line, ora no off-line.

Friedrich Nietzsche

Já em “Meu Deus…”, os estudos partiram da afirmação do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), de que “Deus está morto” e também de estudos do psiquiatra americano Daniel J. Siegel sobre os efeitos dos programas de mensagens instantâneas nos cérebros dos adolescentes.

“Para Nietzsche, o homem, na busca por sua segurança metafísica, cria a convicção de ver Deus como objeto último de sua esperança. Porém, ao defendermos que Deus também é o homem, a morte de Deus trazida por Nietzsche, representa também a morte desse homem. É esse o mote: quem muda o mundo somos nós mesmos, não adianta apelar apenas para o divino, mas é preciso agir”, diz o diretor.

Seguindo um dos estudos de Daniel Siegel, o espetáculo também aborda como a superficialidade das redes sociais pode amortecer os nossos sentimentos.

“Meu Deus…” narra a história de um grupo de jovens amigos – interpretados por Dafne Carina de Oliveira, Felippe Alves, Flávia Simões, Marcus Di Bello e Paola Caruso – que compartilham questionamentos sobre sexualidade, entretenimento, aborto, abuso sexual, drogas e violência e refletem sobre o papel do divino em um mundo em que crueldades cometidas pela humanidade são instantaneamente publicadas, compartilhadas e esquecidas. Será que a superficialidade das redes sociais está nos amortecendo?

Para o diretor, o ponto em comum entre as duas peças é a mudança das relações interpessoais. “A tecnologia aproxima quem está distante e afasta quem está próximo, pois o contato via rede social vem tomando o lugar dos encontros. As relações se misturam e se condensam com laços momentâneos, frágeis e volúveis, pois vivemos num mundo cada vez mais dinâmico, fluído e veloz. Seja no real ou virtual”.

SERVIÇO

Nó na Garganta

Quando: até 28 de outubro

Horário: sábados, às 19h

 

Meu Deus…

Quando:  até 29 de outubro

Horário: domingos, às 18h

 

Preços: R$ 30,00 (Inteira) e R$ 15,00 (Meia)

Promoção: R$ 45,00 pelos dois espetáculos, ao longo da temporada

Espaço dos Satyros – Estação Satyros

Endereço: Praça Franklin Roosevelt, 134

Fone: (11) 3258-6345