Origens paulistanas

Vera Lucia Dias atua como guia cultural na cidade de São Paulo. Tem graduação em Turismo e pós em Globalização e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Conselheira de Turismo, representou a Secretaria Municipal de Cultura e o Sindicato de Guias do Estado de São Paulo. Nascida no bairro da Mooca, publicou em 2008 “O Tupi em São Paulo Vocabulário de nomes tupis nos bairros paulistanos” pela editora Plêiade. Busca a reflexão sobre a presença Guarani nas aldeias da cidade.

Tamanduateí, uma história de desamor

Tamanduateí: rio de tamanduás verdadeiros, “tamanduá eté y” ou rio de ocorrência de tamanduás: “tamanduá tyb y” em tupi

Vera Lucia Dias

Rio de tamanduás verdadeiros: “tamanduá eté y” ou rio de ocorrência de tamanduás: “tamanduá tyb y” em tupi.

Onde está o rio, onde estão suas águas, quais águas, lágrimas? Onde indígenas por ele passavam, dele se alimentavam, nele brincavam e o denominaram. Tantas voltas deu, tantos peixes que secaram, e muitas roupas lá foram lavadas.

Marcou a Baixada da região central na cidade de São Paulo e trouxe embarcações para a ladeira do Porto Geral. Recebeu como herança desatinada pontes, cimento, escuridão, dejetos, canos escuros. Mudaram seu curso, mancharam o riozinho suave.

Brilhava e avançava no tempo das cheias, dezembro a fevereiro. Depois no baixo movimento das águas, via peixes secando, via formigas (ysá) a devorar os peixes (pira), o nariz do mamífero tamanduá a buscar as tais formigas, daí “rio de tamanduás”. Onde estão?

Recebeu até uma ilha, a Dos Amores. Seu dasague é no rio “verdadeiro” ou “por excelência” = o Tietê.

Nascendo na Serra do Mar, em Mauá, o Tamanduateí passa por Santo André e São Caetano, recebe a foz do Anhangabaú e juntos desaguam no Tietê.

Lavadeiras no Rio Tamanduateí, no centro, hoje canalizado e encoberto pelo asfalto. Foto: Guilherme Gaensly

A partir de 1848 começam a roubar suas curvas. Os portos próximos ao Centro eram Figueira, Tabatinguera ou Porto Geral. Pelas proximidades da rua 25 de Março ficava até a charmosa Ilha dos Amores. No início do século 20 sua segunda destruição de curvas roubando várzeas e afastando de suas águas os barcos, as casas, o olhar e uso das pessoas.

Local de entrada da cidade para quem vinha do Rio de Janeiro. Mudaram seu lindo traçado e suas áreas verdes. Usaram o discurso da higiene, focos de lixo, doenças e epidemias; então vamos canalizar, vamos não ver, passaremos veículos sobre essas águas. Esquece a beleza.  Que não venham mais inundações, sua calha será uniforme e mais profunda. Dos anos 1930 a 1959, a bacia do Tamanduateí foi tamponada por 29,8 quilômetros para dar lugar a avenidas.

Nos perdoe, Tamanduateí!

Fontes:

Diário Grande ABC

Open Edition Journals “A cidade de São Paulo e seus rios: uma história repleta de paradoxos”

Revista USP

Wikipedia

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