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CalçadaSP

Wans Spiess e Tony Nyenhuis são publicitários e criadores do CalçadaSP, iniciativa de ativismo urbano com olhar artístico. Aqui, eles usam as calçadas do centro para caminhar sobre diferentes temas da região mais pulsante da cidade.

A arte abre espaço para o caminhar na Ladeira Porto Geral

ONGs que defendem a mobilidade ativa fazem intervenção na Ladeira Porto Geral para chamar atenção sobre o caminhar

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Tempo de leitura:5 minutos

Por Wans Spiess

Quem passar pela Ladeira Porto Geral nos próximos dias poderá ver uma faixa colorida, com flores e folhas, pintada no local em que antes era permitido parar veículos. Esta é a primeira ação de urbanismo tático da mobilização Ruas para Mobilidade Ativa na Pandemia, que pretende transformar o espaço das ruas em lugares mais caminháveis e seguros para as pessoas.

Intervenção artística na Ladeira Porto Geral. Arte: Cleo Moreira. Imagem: Sampapé. Foto de 18 Outubro 2020.

A pandemia desencadeada pela Covid-19 potencializou a discussão sobre a forma como nos locomovemos e ocupamos as ruas. Cidades no mundo todo investiram na reorganização do espaço público com o urbanismo tático, ou seja, em soluções temporárias de rápida implementação e de baixo custo. Caminhar ou pedalar foram entendidos como alternativas importantes para garantir o distanciamento social, o que acelerou a implementação de novas ciclovias, o alargamento do espaço das calçadas e até ruas inteiras foram abertas para as pessoas a fim de minimizar os efeitos do isolamento forçado.

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O Brasil, mais especificamente a cidade de São Paulo, demorou para dar respostas a estes desafios. Embora as ONGs que defendem a mobilidade ativa venham pressionando desde o início da pandemia, só agora a Prefeitura está implementando projetos piloto em alguns lugares identificados com maior fluxo de pedestres. A Ladeira Porto Geral faz parte dos locais escolhidos.

A aglomeração de pessoas na Ladeira é conhecida. Localizada no Centro de São Paulo – esquina com outra rua famosa, a 25 de março – é o lugar preferido para compra de bijux baratas, fantasias de carnaval ou halloween ou outros tipos de acessórios. “Bater perna”, ou seja, caminhar sem destino certo, é a melhor forma de explorar a área, embora o espaço seja disputado com promotores de lojas, camelôs e até mesmo carros, já que a calçada não é larga o bastante para acomodar a multidão de pedestres, que acabam ocupando o asfalto.

Ladeira Porto Geral em 2016 Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

No final de março, a quarentena imposta pelo município em razão da pandemia do novo coronavírus trouxe restrições relacionadas à abertura de comércio não essencial, transformando a área. Foi preciso investir na conscientização de ambulantes e comerciantes em manterem os estabelecimentos fechados e limitar os acessos do metrô na região para chegar no cenário incomum que vemos na imagem abaixo.

Comércio fechado na rua 25 de Março durante a quarentena Foto Rovena Rosa/Agência Brasil

Porém, logo no primeiro dia de reabertura parcial do comércio de rua em São Paulo, em junho, várias regiões da cidade registraram movimentação e até aglomeração. A área da rua 25 de Março recebeu muitos consumidores, como nos dias normais antes da pandemia, e na alameda Porto Geral, pouco antes das 11h, horário permitido para a reabertura do comércio, filas e aglomerações se formaram em frente às lojas. Uma situação que só tende a se agravar com a chegada das compras de final de ano.

Por isso, a Ladeira foi o primeiro local a sofrer intervenção. A pintura artística, realizada no dia 18 de outubro, muito em breve receberá sinalização definitiva com desenho da linha de bordo e balizadores. Idealizada pelo SampaPé em adequação ao projeto da CET, fez parte do Festival Bike Arte promovido pelo Instituto Aromeiazero com arte da artista Cleo Moreira. Tem o objetivo de chamar a atenção para o projeto e trazer mensagens que reforcem a importância de manter distância entre as pessoas nesse período de pandemia do novo coronavírus.

Apesar do caráter temporário inicial, esta e as demais intervenções que estão por vir têm potencial para transformar permanentemente a paisagem da cidade. Mas não se trata apenas do desenho urbano. Acompanhada de linguagens lúdicas e criativas, incentivam as pessoas a refletir sobre a forma como ocupamos e experimentamos a cidade. São iniciativas que apontam desejos de futuro para cidades mais caminháveis, sustentáveis, seguras e saudáveis.

Ladeira Porto Geral com a intervenção Foto: Sampapé

A iniciativa Ruas para Mobilidade Ativa na Pandemia, é fruto da mobilização de ONGS que defendem a mobilidade ativa – como Sampapé, Cidadeapé e Aromeiazero. Elas conseguiram costurar a articulação com a Secretaria Municipal de Transporte (SMT), a Companhia de Engenharia de tráfego (CET), o Instituto dos Arquitetos (IAB), a Associação de Comerciantes e a Academia representada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie (FAU-Mack).

Wans Spiess, uma das fundadoras do CalçadaSP, é mestranda na FAU-Mack e Diretora de Relacionamento da Cidadeapé, onde lidera o projeto Ruas para Mobilidade Ativa na Pandemia pela instituição.

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