A Vida no Centro

Blog da Denize Bacoccina

Denize Bacoccina é jornalista e especialista em Relações Internacionais. Foi repórter e editora de Economia e correspondente em Londres e Washington. Cofundadora do projeto A Vida no Centro, mora no Centro de São Paulo. Aqui é o espaço para discutir a cidade e como vivemos nela.

E o Minhocão vai virar um parque suspenso. A ideia é ótima. Cadê o projeto?

Prefeitura anuncia parque suspenso no Minhocão até o fim de 2020. Bem a tempo da eleição. Mas será que sai?

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O assunto parecia esquecido. Fadado ao destino natural dos projetos envolvendo decisões que dependem do poder público: as gavetas dos burocratas. Mas, da noite para o dia, o prefeito Bruno Covas encontrou a sua receita para conquistar o tão almejado status de prefeito-hipster (posto vago com a saída de Fernando Haddad e a eleição de João Dória).

Assim, na tarde de quinta-feira, 21 de fevereiro, o prefeito tirou da gaveta o projeto de construir um parque num trecho de 900 metros do Minhocão, entre a Praça Roosevelt e o Largo do Arouche. O projeto já tem cronograma: fim de 2020, bem a tempo de estrelar na campanha de reeleição, e um orçamento de R$ 38 milhões. No papel, ele se junta a outro parque prometido para o Centro: o Parque Augusta. Na prática, a ver quando ele finalmente será realizado e entregue à população.

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A ideia é excelente: um parque linear suspenso, com equipamentos de lazer, pequenas áreas verdes (provavelmente de baixa estatura, já que não será possível plantar árvores na estrutura elevada de concreto), acessos por escada e elevador em vários pontos da Avenida Amaral Gurgel, ligações tipo ponte com os prédios que ficam em frente ao elevado. Enfim, uma grande área público em pleno Centro de São Paulo. Um High Line paulistano.

Na prática, o Minhocão já funciona como um parque nos horários em que fica fechado ao trânsito – segunda a sexta das 20h às 7h e o dia todo nos fins de semana. O grande volume de pessoas andando a pé, de bicicleta, skate, com os cachorros, tomando sol, conversando com amigos ou simplesmente não fazendo nada ao ar livre mostra que os paulistanos já aderiram ao local como área de lazer – hackeando seu uso e subvertendo sua origem espúria, como um monstrengo de concreto construído numa época em que os carros importavam mais do que as pessoas.

Devolver o espaço para as pessoas é muito bom.

Mas é preciso que o prefeito Bruno Covas explique como pretende fazer isso de forma que realmente seja bom para um grande número de pessoas. Estudar e avaliar o impacto no trânsito. Até agora, o que o prefeito fez foi jogar um factoide na imprensa. Não existe um projeto. Apenas um apanhado de ideias a partir dos vários projetos elaborados ao longo dos anos para ressignificar o espaço.

Veja fotos e projeções de como seria o parque:

Um deles, citado pela Prefeitura, foi doado pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner – mas não será totalmente executado. Mas as entrevistas da equipe responsável mostram que por enquanto a Prefeitura tem pouco mais do que uma ideia na cabeça e alguns desenhos na mão.

Desta vez, pelo menos, a ideia é boa.