Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
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As lojas de discos do Centro de São Paulo marcaram a vida de muita gente, como a do jornalista Edson Franco, que estreia seu blog de música no A Vida no Centro
Brenno Rossi, Bruno Blois, Casa Manon, Museu do Disco. Para quem curte música da invenção do CD pra cá, essas lojas de discos do Centro de São Paulo fazem companhia a gírias esquecidas como boco-moco, prafrentex e lhufas. As três primeiras na 24 de Maio e a última, numa lateral do Theatro Municipal. Até o começo dos anos 80, os ouvintes prafrentex compravam seus discos nelas. Só quem não soubesse lhufas de música ou fosse muito boco-moco conseguia resistir aos seus encantos.
Sou nascido e criado em Mauá, cidade da grande São Paulo que, durante a minha infância e adolescência, tinha apenas uma loja de discos. Era o local em que os mauaenses encontravam as trilhas de novela, o LP anual do Roberto Carlos, os “’S” de Ray Conniff, os compactos de música “lenta” para animar bailinhos e, com uma boa dose de sorte, alguma bolacha de artistas que conseguiam driblar a ditadura militar.
Lembro-me do dia de 1973 em que minha irmã mais velha entrou em casa com uma cópia do primeiro LP dos Secos & Molhados, a banda que revelou Ney Matogrosso e que responde pelo disco que mais ouvi na vida. Mantenho esse álbum na minha coleção até hoje. A falta de zelo dos meus familiares e uma vitrolinha cor de rosa fizeram com que as faixas “O Vira” e “Rosa de Hiroshima” ficassem irremediavelmente riscadas. Por isso, ao longo do tempo, adquiri outras três cópias, arrematadas em sebos e feiras.
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Os Secos & Molhados despertaram em mim uma vontade incontrolável de conhecer mais música. Folheava a revista Pop nas bancas (a grana não dava para comprar as edições), escutava as rádios Excelsior e Difusora e, nas tardes de sábado, não perdia um programa “Rock Concert” na Globo. Ouvia tudo e não encontrava nada na loja de discos de Mauá.
Em abril de 1975, aos 12 anos, tomei uma decisão importante. Em todos os meus aniversários, minha mãe preparava um bolinho, umas biribas (fatias de salsichas, picles e azeitonas enfileiradas no palito e, nos dias de festa, espetadas em um repolho revestido com papel alumínio) e muita tubaína. Perguntei quanto custava aquilo e vi que dava para comprar meia dúzia de LPs. Decretei que não queria mais festa e, sim, discos!
Graças a essa decisão e ainda conduzido pelas mãos maternas, fazia três ou quatro visitas anuais a essas lojas de música no centro. Foi assim que a minha coleção ganhou “Desire”, do Bob Dylan, “Physical Graffiti”, do Led Zeppelin, e “Deep Purple in Rock”. Era muito disco para pouca vitrola. Meu primo Amaury era louco por Santana e tinha um som da Polivox. Ouvir o baixo de “Oye Como Va” saindo daquelas caixas me despertou um desejo comparável apenas àquele que senti pela dona Geni, minha professora no segundo ano primário na Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau Walt Disney, em Mauá.
Depois de alguns bicos como office boy, em 1979 comecei a trabalhar no arquivo da Folha de S.Paulo. A grana mal dava pra pagar a mensalidade do colégio, mas descobri um jeito de engordar o salário. Todos tínhamos de fazer plantão remunerado aos domingos ao ritmo de um por mês. Logo notei que alguns colegas “vendiam” o plantão. Se eu trabalhasse no lugar deles, eles recebiam o dinheiro e me repassavam. Foi o que fiz por dez meses seguidos.
Com esse dinheiro extra, me enchi de coragem, entrei na Brenno Rossi, parcelei o pagamento em dez vezes e saí de lá com um “system” da Gradiente (esse aparelho deve estar vivo na casa da minha primeira ex-mulher, junto com a minha coleção de James Bond em VHS). Na época, eu devia ter perto de 20 LPs, que ouvia ininterruptamente. Até que chegou o momento em que a minha mãe ficou de saco cheio de ouvir “Kashmir” pela 50a vez.
Exímia costureira, dona Ruth montava em casa as camisas que um judeu vendia no Bom Retiro. Periodicamente, ela pegava o trem para entregar as encomendas e pegar o pagamento em dinheiro vivo. Numa dessas visitas, ela foi comigo às lojas de música do Centro. No Museu do Disco, também pagando a prazo, ela me deu a coleção completa dos Beatles, uma paixão compartilhada entre nós. Aproveitamos para passar na Casa Manon, onde eu comprava palhetas Selmer Paris para o meu saxofone tenor, o instrumento que tocava na época (meu pai não se conformava com o preço cobrado por um pedaço de bambu).
Como o prédio da Folha fica até hoje a poucas quadras desse paraíso musical, foram incontáveis as minhas idas a essas lojas. Conhecia os vendedores pelo nome, passava horas vasculhando os acervos e discutindo sobre como o rock progressivo era chato.
O tempo foi impiedoso com essas lojas. Foram fechando as portas e sendo substituídas por nomes como Baratos Afins e Wop Bop, com gente muito mais informada do outro lado do balcão e que ficam para um próximo post. Este é apenas para dar o devido crédito a Brenno Rossi, Bruno Blois, Casa Manon e Museu do Disco, responsáveis pela origem e sedimentação do meu amor pelo Centro de São Paulo.
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