Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
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Uma recaída com a ex, o retorno dos militares e a audição de um clássico de Belchior na esteira da academia exemplificam como o verbo pode transitar entre o bom e o ruim
Entre a infinidade de verbos da língua portuguesa, voltar é aquele que mais provoca em mim sentimentos conflitantes. Por um lado, sempre o associei a um erro, daqueles que obrigam a pegar um retorno e reiniciar a trajetória. Por outro, ele reserva uma dose singela de generosidade, ao abrir espaço para recomeçar, redirecionar e realinhar expectativas e realizações. Em comum entre as duas visões, o fato de estar inescapavelmente ligado à repetição. Basta ver a quantidade de verbos começados com “re” nas linhas acima.
Voltar pode ser bom ou ruim, dependendo de sentimentos e consequências. É restaurador, quando ganhamos mais uma chance de aproveitar a experiência adquirida e driblar as arapucas constantemente montadas pela vida ou por nossos colegas de espécie. E é triste, ao escancarar a convicção de que a volta não valeu a pena.
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Meu segundo casamento durou quatro anos e meio. Parecia a união perfeita. Fogo, paixão e, sobretudo, admiração vitaminavam nossa história e tornavam tudo lindo. Dos passeios no parque de mãos dadas às noites mais selvagens, tudo salpicado com doses elevadas de amor. Devo à minha segunda mulher o resgate de um adolescente que eu achava irrecuperável, derretido que estava pelo banho-maria morno da união anterior.
Uma crise de depressão, desalinhamentos de prioridades e várias discussões provocaram o fim daquela que, passados mais de 15 anos, continua sendo a maior epopeia romântica da minha vida. Quatro meses depois da separação, tivemos uma recaída. Foi bom, mas extremamente distante da apoteose de tempos anteriores. O que eu pensava tratar-se de química era amor. E ele tinha ido embora, para nunca mais (olha o verbinho aí) voltar. Doeu.
Militares também voltaram
Os militares estão de volta ao poder. Filho de metalúrgico do ABC que sou, achei que iria terminar a minha passagem pela Terra livre de governantes que batem continência. Ainda mais levados ao Planalto pelo voto. E, junto com os homens de farda, vieram outros retornos, ainda mais mofados. Regredimos à Idade Média no que diz respeito aos costumes, estamos prestes a mergulhar numa nova Inquisição aberta pela ingerência religiosa nas coisas de Estado e assistimos ao restauro de um ódio que parecia enterrado junto com o Eixo da Segunda Guerra.
É certo que evoluímos, e as coisas podem ter um destino diferente nessa volta. Os militares no entorno do poder mostram, pelo menos por enquanto, que aprenderam com os erros do passado. Descartam, por exemplo, qualquer possibilidade de intervir diretamente na Venezuela e vivem consertando as bobagens ditas, escritas e feitas por seu atual chefe. Mas, apesar disso, a meteorologia prevê tempo fechado, com muita golden shower nos próximos quatro anos. Sei não.
Voltei a malhar…
Voltei a malhar em dezembro do ano passado. A medida fez parte das resoluções de Ano Novo. Três meses depois, comemoro os quilinhos a menos, a disposição reconquistada e as melhores noites de sono dos últimos dez anos. Não tem sido fácil superar a preguiça matinal e vencer os 80 metros que me separam da academia. Mas estou começando a pegar gosto por ver as minhas camisetas empapadas de suor.
Essa volta motivou uma outra, também benéfica. Creia, não há nada mais tedioso do que passar 40 minutos sobre uma esteira. Mas, graças aos avanços tecnológicos, hoje temos o Spotify como um estimulante personal trainer. Na semana em que escrevo esse texto, já um tanto farto das playlists animadinhas com disco music ou brasilidades dançantes, lembrei-me de que em abril completam-se dois anos da morte de Belchior.
… e a ouvir Belchior
Sobre a esteira, voltei a ouvir “Coração Selvagem”, disco de 1977 do compositor cearense. Embalado por melodias e versos como “para a turma do outro bairro ver e saber que eu te amo”, “no Corcovado, quem abre os braços sou eu” e “quando adoçava o meu sono e meu sonho no bagaço de cana do engenho”, venci a prova de resistência na academia. E redescobri a magnitude daquela obra.
Voltei a escrever hoje para este blog. Espero que seja uma experiência tão boa quanto ouvir Belchior na esteira.
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