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Conheça a história e veja o que fazer na Biblioteca Mário de Andrade

Além de guardar um acervo de quatro milhões de títulos, a Biblioteca Mário de Andrade tem espaços de leitura, sala infantil e terraço, entre outras atrações

Por Francine Costanti | Ao passar pela calçada da Biblioteca Mário de Andrade, muitas pessoas não imaginam quantas histórias estão reunidas nos milhões de páginas guardadas lá dentro e a enorme colaboração do local para São Paulo. A primeira sede, de 1925, era chamada de Biblioteca Municipal de São Paulo e ficava na Rua 7 de Abril.

Felizmente, com a ampliação do acervo, rapidamente ficou pequena e um novo edifício foi encomendado. E o projeto coube a ninguém menos do que o arquiteto francês Jacques Pilon. Radicado no Brasil desde 1910 e em São Paulo desde 1934, Pilon morava a um quarteirão dali, no Edifício São Luís, na esquina da Avenida Ipiranga com a São Luís.

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Pilon projetou um edifício em estilo art déco com espaço suficiente para abrigar não apenas a área circulante, espaços para leitura, exposições e auditório para eventos, mas também uma torre de 22 andares para abrigar o imenso acervo daquela que se tornou a segunda maior biblioteca pública do país, atrás apenas da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Inaugurado em 1942, o edifício foi tombado pelos órgãos de proteção ao patrimônio histórico em 1992.

A história da Biblioteca Mário de Andrade

A obra foi feita no período em que o escritor Mário de Andrade ocupava o cargo de diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo. Junto com outros artistas modernistas, Mário era um dos entusiastas da construção e, só em 1960 – 15 anos após sua morte – foi homenageado e imortalizado pela biblioteca, hoje carinhosamente conhecida por seus frequentadores como “a Mário”.

A hemeroteca fica num prédio anexo à biblioteca, e seu acervo também pode ser consultado pelo público

A BMA conta hoje com um acervo de quatro milhões de títulos – entre eles obras raras. Desse volume, cerca de 60 mil estão disponíveis para empréstimo, o que a torna uma das principais referências para estudantes e pesquisadores.

Em 2007, a Mário passou por uma reforma para ampliar o espaço dedicado ao público e sanar problemas de estrutura. Foi reaberta em 2011 com um corredor voltado para a Rua da Consolação, que virou um dos espaços preferidos pelos que a frequentam na hora do almoço.

Cenário cultural

O edifício já foi cenário de diversos encontros de escritores e intelectuais. O autor de novelas Manoel Carlos costumava se reunir no saguão com grandes nomes, como a atriz Fernanda Montenegro. O grupo ficava em frente à estátua “A Leitura”, de Caetano Fraccaroli, no saguão principal, para discutir literatura, filosofia e política. Ficaram conhecidos “Adoradores de Minerva”.

Em 2012 foi inaugurada a Hemeroteca, prédio anexo à biblioteca, na Rua Dr. Bráulio Gomes, onde fica o acervo de jornais e revistas, que também pode ser consultado pelo público.

Conheça todos os ambientes

Fachada: No jardim da entrada há uma estátua do escritor português Luís de Camões. Na lateral, foi incluído um vidro transparente desenvolvido para criar uma barreira térmica e acústica para a biblioteca, que fica logo atrás das vidraças.

Obra do artista Alex Flemming exibe rostos ilustrados de ex-funcionários e usuários da biblioteca em vidro transparente na lateral do prédio

Nessas vidraças há vários rostos ilustrados de ex-funcionários e usuários da biblioteca. Criação do artista Alex Flemming – mesmo autor do painel de rostos na Estação Sumaré do Metrô de São Paulo -, a obra foi feita para chamar a atenção de quem está do lado de fora para que se veja naquele espaço. É uma forma de aproximar as pessoas da arte. Serve também de espaço informal de leitura.

Salão Principal: O local chama a atenção pelo revestimento luxuoso em mármore e, no caminho, pode se observar obras e esculturas de personagens importantes para a história da biblioteca. A maioria dos móveis é original dos anos 1940.

Bem no centro do saguão está a imponente estátua “A Leitura”, inspirada em Minerva, deusa do conhecimento e da sabedoria. Lívia Leoni, coordenadora da Sala Circulante, conta que a obra tem a intenção de convidar as pessoas à leitura: “Por ser um prédio de destaque no meio da cidade e proporcionar um silêncio excessivo, as pessoas entram aqui e se benzem na frente da estátua. Por isso todos nós a apelidamos de santa.” No salão principal também são realizados eventos de livros, como a Feira Miolos, que traz autores e publicações independentes.

Sala Circulante: Espaço mais popular da BMA, por isso costuma estar sempre lotado. No andar térreo há livros relacionados a teatro, literatura, biografias, geografia e história. No mezanino estão assuntos como informática, filosofia, psicologia, religião, economia, educação, matemática, medicina, artes, esporte e lazer. Há computadores no local para consultas. “Recebemos em média 600 pessoas por dia, incluindo estrangeiros que procuram livros em seus idiomas”, diz Lívia.

A Sala Circulante é o ambiente mais conhecido da BMA

Para fazer a carteirinha e emprestar livros, você deve levar pessoalmente à Sala Circulante seu documento oficial e um comprovante de residência. Não é preciso morar na região central.

Sala Oval: Até pouco tempo era usada para exposições, mas já abrigou a Sala de Atualidades e a Sala São Paulo, que hoje fica no 1º andar. Depois de uma reforma, deve ser reaberta para novas exposições e eventos. Lívia conta que o escritor Monteiro Lobato, que morreu em 1948, foi velado ali.

Sala Infantil: Foi inaugurada em agosto de 2017. No projeto original estava prevista uma sala infantil, mas houve desistência durante as obras. A biblioteca já tinha um pequeno acervo de obras para crianças, que ficava dentro da Sala Circulante e agora está toda concentrada nesta sala. O espaço foi criado para que as pessoas não se incomodem com o barulho das crianças e pede-se que os pais as acompanhem nas atividades. “A Mário não é muito conhecida em trabalhos com crianças, porque tem essa personalidade mais acadêmica. Para promover esse espaço já estão sendo desenvolvidas algumas atividades, como contação de histórias aos fins de semana e mediação de leituras às quartas-feiras”, explica Lívia.

Na sala infantil há contação de histórias e mediação de leitura

1º andar

Sala Sergio Milliet (Sala das Artes): É uma sala de estudos que reúne somente obras ligadas a arte. Foi restaurada durante a reforma de 2007 e ainda mantém a mesma estrutura desde a inauguração. Nesse espaço há um fichário original, onde você pode pesquisar os códigos dos livros, mas boa parte das obras já foi catalogada no site. “Recebemos aqui alguns estudantes de biblioteconomia que ficam encantados, pois é raro encontrar fichários em outras bibliotecas”, conta a coordenadora. A sala funciona das 9h às 19h, de segunda a sexta.

Sala São Paulo e Mapoteca: Apenas para consultas de obras sobre o Estado de São Paulo. No mesmo espaço ficam os fichários que concentram a Mapoteca – um acervo de plantas dividido por cidades e muito procurado por quem estuda detalhes de localização de cada parte do Brasil, como altitude e longitude de cada cidade.

Sala de Obras Raras: Acesso permitido somente a pesquisadores. Para consultar uma obra, é preciso agendar um horário e justificar a necessidade da visita, mas os livros não podem ser retirados de lá. A sala de obras raras reúne livros, manuscritos, mapas, periódicos e gravuras e a obra mais antiga é de 1477. Boa parte também está armazenada na torre anexa. Um dos critérios para que o livro seja considerado “raro” é a quantidade de tiragens, edições especiais ou se foi escrito manualmente. Não é permitido tirar fotos.

Auditório: É um espaço destinado a shows musicais e teatro e acomoda 170 pessoas entre o 1º andar e o mezanino, que dá acesso para o 2º andar. Também não sofreu alterações na reforma e mantém a estrutura original.

2º andar

Sala Silenciosa: Para quem quer estudar e precisa de um silêncio maior ou caso não encontre mesas disponíveis na Sala Circulante. Aqui você pode trazer seu notebook e há computadores para consultas online. Ao olhar pela janela desse andar é possível ver na calçada a palavra “biblioteca”, escrita em vários idiomas em estilo ponto-cruz.

3º andar

Terraço: Com vista para a R. Dr. Bráulio Gomes, onde fica a Hemeroteca, é possível apreciar a enorme quantidade de árvores que cerca a Praça Dom José Gaspar. Antes da construção da Biblioteca, o terreno era uma chácara, por isso boa parte da vegetação foi conservada. No terraço, também são realizados exposições e eventos especiais.

Com vegetação conservada, o terraço é uma área bastante agradável

A programação da biblioteca é bem intensa então fica mais fácil acompanhar os horários e datas dos eventos acessando o site.

Para conhecer todos os espaços é só agendar uma visita monitorada, que acontece todas as terças e quintas, às 11h ou às 15h. Mande e-mail para: circbma@prefeitura.sp.gov.br

Horário de funcionamento: consulte o site do BMA
Telefone: (11) 3775-0002

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Francine Costanti

Francine Costanti é jornalista, e seus textos - na maioria sobre cultura e entretenimento - já passearam por algumas redações de portais e agências. Como inspiração pessoal, a ideia aqui é explorar a cena de música e literatura do Centro de São Paulo, desde os contos literários de Mário de Andrade até as letras de Emicida. Esse espaço é feito para e por todos. Por isso fique à vontade para deixar sugestões.