O espaço urbano nem sempre é confortável para as mulheres. Os desafios vão das dificuldades para o caminhar (salto alto enterrado no meio da calçada de pedra portuguesa mal acabada – quem nunca?), acessibilidade (quando se é mãe, então, como fazer com o carrinho do bebê?), sem contar questões de segurança e assédio. Circular pela cidade é um desafio extra para mulher.

Nosso amado Centro de SP, historicamente um lugar para caminhar, pode e deve melhorar a experiência do andar a pé especialmente pelas mulheres. Quem olha seu desenho percebe que as necessidades femininas não são prioritárias nem determinantes. O espaço público nos lembra que é um território essencialmente masculino.

Mas há esperança! Nas nossas leituras sobre o tema, encontramos alguns dados interessantes: um levantamento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil mostra que, dos arquitetos e urbanistas registrados no órgão, 62% são mulheres. A proporção tende a aumentar, já que a presença feminina é ainda maior entre os mais jovens: na faixa até 30 anos, elas representam 73% do total.

Embora os números acima ainda não tenham refletido na consolidação de novas diretrizes para projetos urbanos, há mulheres que já fizeram importantes contribuições para a visão de cidade. Elencamos a seguir algumas delas: ativistas, pesquisadoras, planejadoras, ou artistas que contribuem para que a cidade seja mais bonita, inclusiva e para que verdadeiramente dialogue com seus cidadãos.

E você, quem elegeria? Precisamos  valorizar as mulheres que fazem diferença. Deixe seu comentário.

JANE JACOBS

Jane Jacobs (1916-2006) foi uma escritora, urbanista e ativista americana-canadense que defendeu as vozes das pessoas comuns no planejamento de bairros e na construção de cidades. Criticava com veemência especialistas no campo do planejamento urbano dominado por homens e sofria com o desprezo destas figuras estabelecidas. Recebeu muitas críticas por não possuir um diploma universitário ou nenhum treinamento formal em urbanismo, mas ela sabia que o verdadeiro conhecimento para planejar uma cidade é encontrado nas pessoas que nela habitam. É dela esta frase estampada no muro da Cristie Street, California: “As cidades têm a capacidade de fornecer algo para todos, apenas porque, e somente quando, elas são criadas por todos.”

MELI MALATESTA

Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP, Meli Malatesta lançou em dezembro de 2018 o livro A Rede da Mobilidade a Pé (editora AnnaBlume). Na publicação, ela assinala que embora as caminhadas tenham sido reconhecidas como modo de transporte, elas continuam sendo a forma menos prestigiada de locomoção, herdando apenas as ‘sobras’ do desenho das vias públicas. Como exceção à regra, ela faz um passeio muito interessante sobre os “caminhos pedestres” na cidade de São Paulo, representados não apenas pelo calçadão central inaugurado em 1976, mas pelos “caminhos ocultos” criados pelas galerias tão presentes no nosso centro de Sampa.

HAYDÉE SVAB

Haydèe Svab é uma das mais recentes e interessantes pesquisadoras em mobilidade urbana e ativista pela equidade de gênero e direito à cidade. Foi responsável pela pesquisa sobre a evolução dos padrões de deslocamento na Região Metropolitana de São Paulo, em que demonstrou haver diferentes padrões segundo o gênero da pessoa. Defende principalmente a importância dos processos participativos (de fato) para formulação das políticas públicas.

 REGINA SILVEIRA

Regina Silveira é gaúcha, mas vive e trabalha em São Paulo. Artista multimídia, gravadora, pintora, professora. Várias de suas obras remetem a discussões sociais e políticas, permitindo reflexões sobre diversas questões como poder, violência e também sobre o papel social da mulher, como em Carrinho de Chá (1986). A partir da década de 1990 iniciou uma longa sequência de instalações de grande formato e obras públicas utilizando meios de produção gráfica próprios de comunicação de massa para criar intervenções em espaços arquitetônicos. Um dos trabalhos dessa fase é a Calçada da Biblioteca Mario de Andrade, na esquina da Av. São Luis x Av. Consolação. Sem dúvida uma das nossas calçadas favoritas, foi tema do nosso primeiro artigo aqui no Blog.

MIRTHES BERNARDES

Para finalizar, nossa musa inspiradora Dona Mirthes Bernardes. Já fizemos um artigo inteiro dedicado a ela. Em uma de nossas conversas, a criadora do “piso paulista” nos confidenciou que não esperava ganhar, e que o apoio do seu chefe e colegas da Secretaria onde trabalhava na época foi fundamental para que ela tivesse coragem de se inscrever no concurso. “Concorri com arquitetos experientes e desenhos mais sofisticados, para mim foi uma surpresa que uma meninas de 20 e poucos anos pudesse ganhar o concurso”, contou Seu engajamento é um exemplo de como a simplicidade e sensibilidade feminina podem ganhar toda uma cidade.

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