A Vida no Centro

Origens paulistanas

Vera Lucia Dias atua como guia cultural na cidade de São Paulo. Tem graduação em Turismo e pós em Globalização e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Conselheira de Turismo, representou a Secretaria Municipal de Cultura e o Sindicato de Guias do Estado de São Paulo. Nascida no bairro da Mooca, publicou em 2008 “O Tupi em São Paulo Vocabulário de nomes tupis nos bairros paulistanos” pela editora Plêiade. Busca a reflexão sobre a presença Guarani nas aldeias da cidade.

Duas canções e nomes de origem Tupi

A guia de turismo Vera Lucia Dias, autora de um livro com nomes de ruas tupi em São Paulo, fala sobre nomes indígenas em músicas

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Vera Lucia Dias

“Logo se deram conta os recém-chegados de que os antigos donos da terra, que inicialmente receberam amistosamente os invasores, como quase-deuses vindos do desconhecido em naus desmesuradas, apesar do tremendo mau cheiro que exalavam em suas roupas abafadas no calor dos trópicos e depois de meses ao mar, já haviam batizado tudo que era lugar, planta e bicho, e passaram a aproveitar esse acervo formidável: Ceará, Paraná, Pernambuco, Piratininga.” Homero Fonseca no livro “Pernambucânia o que há nos nomes das nossas cidades”.

Passeando um pouco por canções que se referem à cidade de São Paulo, descobrimos palavras originadas do tronco linguístico Tupi.

O Centro de São Paulo irradia linhas de transporte e caminhos que ligam os mais de 2 mil bairros. Estes em geral receberam nomes de santos (como Santo Amaro, Santana, Penha) ou denominações indígenas. Atualmente são encontradas aldeias Guarani no extremo sul ou na zona norte. Outras etnias, como Pankararus, também se estabeleceram por aqui.

Podemos observar em muitas músicas referências ao viver e às características da sociedade plural que habita a metrópole, e que mesmo com esse gigantismo ainda oferece oportunidades de encontro e afeto. Aqui temos duas delas.

A primeira, Trem das Onze, do paulista Adoniram Barbosa, gravada em 1964, cita o bairro do Jaçanã.

“Não posso ficar nem mais um minuto com você

Sinto muito amor, mas não pode ser

Moro em Jaçanã

Se eu perder esse trem

Que sai agora às 11 horas, só amanhã de manhã

JAÇANÃ – “ya-ça-nã”/ iasanã, ave jacanídea, o que grita alto.

Na outra composição, o grupo Premeditando o Breque em 1983 elaborou a letra de São Paulo, onde são citados vários bairros com denominação de origem Tupi. Na letra também estão dois lugares que, mesmo não sendo bairros paulistanos, têm origem indígena, Utinga e Embu.

“É sempre lindo andar na cidade de São Paulo

O clima engana a vida é grana em São Paulo

Tomar um banho no Tietê ou ver tv

Chora Menino, Freguesia do Ó

Carandiru, Mandaqui, aqui

Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpina

Vila Carrão, Morumbi, Pari

Butantã, Utinga. Embu e Imirim

Brás, Brás, Belém

Bom Retiro

Barra Funda

Ermelino Matarazzo, Mooca, Penha, Lapa, Sé

Jabaquara

Pirituba

Tucuruvi, Tatuapé

Um ponto de partida pra subir na vida em São Paulo

Terraço Itália, Jaraguá, Viaduto do Chá

TIETÊ – rio por excelência

CARANDIRU – carandá, palmeira ou cesto de flores da planta

MANDAQUI – feixes verdes

MORUMBI – morro entre ribeirões ou mosca verde ou marombi, rio dos marombas, peixe ou marumbi, lagoa de taboas

PARI – pesqueiro, canal ou armadilha de taquara para apanhar peixes

BUTANTÃ – “yby-tãtã”, terra dura

UTINGA – rio branco

EMBU – “mboy”, cobra   

IMIRIM – rio pequeno

MOOCA – casa de parentes ou fazer casas

JABAQUARA – “yaba-quara”, quilombo, lugar de fugitivos

PIRITUBA – “piri tyba”, onde há muito junco

TUCURUVI – “tukur-oby”, gafanhoto verde

TATUAPÉ – “tatu ape”, no caminho dos tatus

JARAGUÁ – “uyragua”, o senhor do vale ou planta das gramíneas

Com a finalidade de reunir palavras cujos sons ouvimos na cidade, percorri variados livros, dicionários, conversei com nossos representantes Guarani. É tema de difícil pesquisa já que divergem autores e tradutores. E, por vezes, encontramos mais de um significado para a mesma expressão.

O contexto dos falares encontrados na edição do “O Tupi em São Paulo”, livro de minha autoria agora com nova edição, sem buscar aprofundar lições de gramática, propõe trazer luz às denominações, muitas designadas pelos povos originários. Para saber mais sobre o tema recomendo o Método Moderno de Tupi Antigo elaborado pelo Professor Eduardo de Almeida Navarro, Editora Vozes. 

“O Tupi em São Paulo – vocabulário de nomes tupis nos bairros paulistanos”

Vera Lucia Dias

Segunda edição revista e atualizada

Como comprar: contato pelo (11) 99253-8846 ou vera@passeiopaulistano.com

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