Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
O guia de turismo Laércio Cardoso de Carvalho fala sobre a história da igreja Santa Efigênia, que é oficialmente uma basílica.
Laércio Cardoso de Carvalho conta a história de várias mulheres que foram pioneiras em suas áreas de atuação
Laércio Cardoso de Carvalho
Dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Dia de homenagearmos as mulheres pelas suas lutas e conquistas. As mulheres de São Paulo, desde a Vila de Piratininga, foram lutadoras, guerreiras. Mulheres pioneiras, que além de cuidar da família, tiveram que assumir o papel de cuidar da família, com o marido longe nas viagens dos bandeirantes pelo interior do país. A mulher tinha que cuidar de tudo, gerando renda para sustentar a família.
Infelizmente, na atualidade, muitas mulheres vivem situação ainda pior. O marido foi embora para não mais voltar, precisam cuidar da família e ganhar o sustento com trabalho muitas vezes mal remunerado, utilizando deficitário transporte público por várias horas para chegar ao local de trabalho. Verdadeiras heroínas.
As mulheres em São Paulo sempre trabalharam muito. Não tinham acesso a estudo e nem a uma série imensa de atividades, mas trabalharam muito nas indústrias, e ganhando ainda menos do que os homens. Devemos lembrar que a greve geral de 1917, que parou São Paulo, foi iniciada por MULHERES, tecelãs do Cotonifício Crespi na Moóca e operárias da Tecelagem Mariângela da Indústrias Matarazzo, no Brás.
Ao publicar o livro Quando Começou em São Paulo? 458 respostas pelo guia de Turismo Laercio Cardoso de Carvalho, relatei uma série de pioneirismos em São Paulo, e sempre que obtive a informação, mencionei o início da participação feminina em várias atividades. Por isso, para homenagear as mulheres, optei por destacar MULHERES PIONEIRAS, e pelo site ser focado no centro de São Paulo, entre as pioneiras escolhi aquelas relacionadas à região central.
Veja algumas delas:
MARIA AUGUSTA SARAIVA (31/1/1879 -28/9/1961) – Primeira mulher a entrar na Faculdade de Direito no Largo São Franciso, em 1898, setenta anos após o início do curso. Foi aluna brilhante. Recebeu como prêmio uma viagem à Europa. Foi também a primeira mulher a atuar num Tribunal do Júri logo no ano de sua formatura, 1902, no dia 11 de julho, sendo vencedora na causa que defendia. Em 24 de setembro de 2018 mais um pioneirismo: foi entronizado seu busto em bronze no Tribunal de Justiça. Primeira mulher entre os 17 homens homenageados pela atuação naquele Tribunal.
ESTHER DE FIGUEREDO FERRAZ (6/2/15 -23/8/2008) – Em 1965, ao ser nomeada reitora da Universidade Mackenzie, se tornou a primeira reitora no Brasil e na América Latina. Foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Ordem dos Advogados do Brasil) em 1949. Foi a primeira mulher a dar aulas na USP, na Faculdade de Direito. Foi a primeira mulher ministra de Estado, ocupando de 24/8/1982 a 15/3/1985 o Ministério da Educação no governo do general João Batista Figueredo.
NADIR GOUVEA KFOURI (1913-13/9/2011) – Filha de imigrantes libaneses, assistente social, professora, primeira mulher no mundo a ser empossada como reitora de uma pontifícia universidade católica, a de São Paulo. Tinha todas as qualidades necessárias para o cargo, era querida por todos, mas, por ser mulher, precisou da interseção de D. Paulo Evaristo Arns junto ao Papa Paulo VI para que fosse nomeada. Exerceu a reitoria por duas vezes. A primeira, entre 1976 e 1984. Em 1977 enfrentou o coronel Erasmo Dias, então Secretário da Segurança Pública, que havia invadido o Campus da PUC onde ocorria o proibido Congresso de Estudantes. Outro pioneirismo de Dona Nadir, como era chamada: foi a primeira reitora no Brasil escolhida em eleições diretas, com 7058 votos de professores, alunos e funcionários no segundo período, entre 1980 e 1984.
ANNA LAMBERGA ZEGLIO (10/8/1914-1990) – Primeira mulher a exercer o mandato de vereadora. A Câmara Municipal de São Paulo foi criada em 1560, só em 1952 mais de 370 anos depois, uma mulher exerceu um mandato. Foi na segunda legislatura (conta-se após a deposição de Getúlio Vargas). Em 1947, na primeira eleição após a redemocratização, Elisa Kaufmann foi eleita, mas o Superior Tribunal Eleitoral cancelou a inscrição do Partido Social Trabalhista pelo qual ela disputou a eleição, invalidando a votação dada aos candidatos dessa legenda.
Em 2013, em sessão solene na Câmara Municipal, o cargo foi devolvido a todos os que haviam sido cassados, uma forma de reparação, mas ela havia falecido em 4 de janeiro de 1963. A Câmara Municipal passou a considerar ELISA KAUFMANN a primeira vereadora eleita de São Paulo. Detalhe interessante, a Câmara Municipal já esteve instalada em diversos locais, mas sempre na área central.
THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO (Barretos 29/5/1930-22 /0/2020) – Foi a primeira vereadora negra da Câmara Municipal de São Paulo, em 1970, sendo a segunda colocada na eleição. Primeira deputada negra de São Paulo, eleita em 1974, ocupou o cargo de vice-presidente da Assembleia Legislativa. Sempre lutou contra a discriminação racial e na defesa do Direito das mulheres. Em 2014 a Assembleia criou a medalha “Teodosina Rosario Ribeiro” para os que destacarem nessas lutas.
LUIZA ERUNDINA DE SOUZA (30/11/1934-PB) – Primeira mulher a ocupar a Prefeitura em São Paulo. O cargo de prefeito foi criado pelo decreto lei 734 de 21/11/1898, mas a primeira mulher a ocupar a Prefeitura de São Paulo foi Luiza Erundina Sua gestão foi de 1/1/1989 a 1/1/1993). Com sua eleição venceu dois preconceitos: mulher na Prefeitura e ser nordestina. Trouxe do Parque Ibirapuera a sede da Prefeitura novamente para a região central (Palácio das Indústria, hoje Museu Catavento).
PRISCILIANA DUARTE DE ALMEIDA (Pouso Alegre MG 3/6/1867 – SP 13/6/ 1944) – Foi a primeira mulher a entrar na Academia Paulista de Letras que ajudou a organizar. Escreveu versos e crônicas na imprensa. Fundou em 1899 a revista quinzenal A Mensageira, uma das primeiras publicações femininas em São Paulo.
LENIRA FRACAROLLI (Rio Claro 21/4/1906 -17/01/1991) – Talvez um nome desconhecido para grande parte das pessoas, mas com certeza muitos se beneficiaram e se beneficiam de seus projetos. Bibliotecária, em 1935 organizou com Mario de Andrade, secretário de Cultura do Município, a primeira biblioteca infantil. Dirigiu essa instituição até 1961. A biblioteca infantil já esteve em três lugares. Desde a noite de Natal de 1950, como presente para as crianças, está na Praça Rotary, na Vila Buarque. Em 1955 passou a se denominada Biblioteca Monteiro Lobato. Lenira foi pioneira em muito sentidos. Incentivou as crianças não apenas a ler, mas também a escrever. Em 1936 criou o jornal A Voz da Infância escrito e produzido totalmente pelas crianças que frequentavam a biblioteca. Algumas dessas crianças tornaram-se consagrados escritores, como o poeta Paulo Bonfim.
Lenira queria que todas as crianças tivessem acesso aos livros e por isso em 1947 criou a seção em braile. Em 1952 fez construir junto à biblioteca o primeiro teatro infantil do mundo, o Teatro Leopoldo Froes, com 658 lugares. Foi demolido em 1973, no local está uma quadra de esportes e uma marquise agora levando ao nada, mas que conduzia até o teatro.
Lenira auxiliou na implantação de diversas bibliotecas infantis, fora da região central da cidade. Em 25/1/1946, na rua Santelmo (atual Cojuba), junto ao Parque Infantil, a primeira. Em outubro do mesmo ano, nessa mesma biblioteca, cinema para crianças. Em 1953, a Biblioteca Hans Christian Andersen no Tatuapé, com um teatro completo com palco, camarins, no mesmo terreno, mas separado da biblioteca.
MARIA RENNOTTE – Primeira mulher a fazer parte do Instituto Histórico Geográfico de São Paulo. Criado em 1/11/1894, passou a ter uma mulher fazendo parte do Instituto em 4/5/1901, quando foi admitida Jeanne Françoise Josephine Marie Rennotte. Nascida na Bélgica em 11/02/1852 e falecida em São Paulo em 21/11/1941, formou-se professora na Europa. Em 1876, aos 26 anos, chega ao Brasil para ser preceptora, (uma professora particular em residências de pessoas ricas) no Rio de Janeiro. Aos 40 anos, vai para os Estados Unidos para se formar em Medicina. Retorna ao Brasil em 1895, fixando-se em São Paulo até seu falecimento. Em 1912 ajuda a instalar a Cruz Vermelha em São Paulo e, preocupada com o alto número de falecimento de crianças, inicia uma campanha para a construção de hospital exclusivamente para crianças, que funcionou até 1980.
Teve que enfrentar várias batalhas, preconceitos contra mulheres e preconceitos religiosos, pois lecionava no Colégio Metodista em Piracicaba e recebia ataques das freiras católicas de Itu. Fez muito pelos pobres e morreu pobre, pois aos 80 anos já não conseguia exercer a Medicina. Em 1938 o interventor federal José Joaquim Cardoso de Melo Neto, atendendo pedido do jornalista Mario Guastini, concedeu uma pensão vitalícia de mil cruzeiros. Uma vida muito interessante, lutou tanto pelas mulheres, pelas crianças e é muito pouco conhecida. Num próximo post contarei mais detalhes de sua vida de lutas.
LINA BO BARDI (ACHILLINA BO BARDI) – Italiana de nascimento (Roma 5/12/1914) e brasileira por opção, naturalizou-se em 1951. Aqui não vamos falar apenas de seu trabalho como arquiteta PIONEIRA ao introduzir o estilo brutalista em SP na construção do MASP. Vamos destacar aqui o pioneirismo ao organizar o MASP. O empresário Assis Chateaubriand, patrono do museu, queria uma galeria de arte. Lina fez do MASP, desde o início, em 1947, um centro cultural. Décadas à frente do Centro Cultural Georges Pompidou na França, inaugurado em 1977;
Na rua 7 de abril, número 230, no edifício Guilherme Guinle, ficava a sede dos Diários Associados. Ali estava instalada a administração, o parque gráfico e as redações dos jornais Diário de S. Paulo e Diário da Noite e a sucursal de O Cruzeiro, a revista com maior circulação no Brasil. Em 2 de outubro de 1947, no segundo andar, foi inaugurada a coleção particular de consagradas obras de arte que Chateaubriand, com a ajuda do professor e marchand italiano Pietro Maria Bardi, marido de Lina, compraram na Europa. Lina realizou várias adaptações no andar, criando o espaço. A ideia era ser não apenas um museu, mas um centro difusor de arte. Foram realizados cursos de História da Arte, manifestações de teatro, cinema, música, e o local se tornou um ponto onde os quadros seriam expostos, uma sala de exposições didáticas sobre História da Arte, duas salas para exposições temporárias e um auditório com cem lugares.
Em 1950 o MASP passou a ocupar três andares, com quadros no terceiro e no quarto, cursos e palestras no décimo quinto. Espaços para exposições, bibliotecas e livraria ficavam no segundo andar. Nesse ano é instalado o Instituto de Arte Contemporânea, com cursos de desenho, gravura e escultura. Lina Bo Bardi cria a Escola de Desenho Industrial, pioneira no Brasil. Os professores eram artistas consagrados, como Warchavchik e Lasar Segall, entre outros. Também eram oferecidos cursos de fotografia.
DORINA NOVILL (SP 28/5/1919-29/8/2010) – Ficou cega aos 17 anos em virtude de uma infecção ocular, que ocasionou uma hemorragia. Cursou Magistério na Escola Caetano de Campos ao convencer a escola que iria conseguir acompanhar o curso, como qualquer outra aluna, mesmo sem ter nenhum material adaptado, nem um livro em braile. Após a formatura, ganhou do governo norte-americano uma bolsa de estudos na Universidade de Columbia para se especializar na área de deficiência visual.
Em 1946 cria a Fundação Para o Livro do Cego no Brasil, primeira imprensa de grande porte em Braile. Criou a fundação que leva seu nome para cuidar da inclusão do deficiente visual. Uma grande conquista feminina que se tornou um pioneirismo mundial.
DELEGACIA DE DEFESA DA MULHER – Em 6 de agosto de 1985 é inaugurada a primeira Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, pioneira no mundo. Foi criada no governo Franco Montoro pelo decreto 23.769/85. Na época, vários delegados de polícia se manifestaram contrários à criação dessa delegacia. O decreto estabeleceu a competência dessa delegacia especializada para investigar e apurar, entre outros, delitos de lesão corporal, ameaça, constrangimento ilegal, atentado violento ao pudor, adultério etc.
Rosmary Corrêa foi a primeira delegada e toda a equipe da Delegacia era formada exclusivamente por mulheres
Foi instalada na região central.
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