A Vida no Centro

CalçadaSP

Wans Spiess e Tony Nyenhuis são publicitários e criadores do CalçadaSP, iniciativa de ativismo urbano com olhar artístico. Aqui, eles usam as calçadas do centro para caminhar sobre diferentes temas da região mais pulsante da cidade.

Para apreciar a cidade

Às vezes tudo o que precisamos é de um outro olhar. Foi esse o tema de um dos debates do Satyrianas 2018: um outro olhar sobre São Paulo

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Tempo de leitura:5 minutos

Por Wans Spiess

Em tempos conturbados como o que estamos vivendo, nada melhor do que acreditar na resistência do amor. Este foi o tema da edição do Satyrianas 2018, na Praça Roosevelt, no coração-centro da cidade de São Paulo.

Na minha estréia no evento – como espectadora e como participante em um dos painéis – fui testemunha da convivência harmoniosa de centenas de pessoas de diferentes estilos mas tão iguais em sua humanidade.

Em dias festivos torna-se fácil apreciar o encontro, as artes, a música, as conversas. Imagine, porém, se perguntassem no seu dia-a-dia corrido o que você acha da cidade. Provavelmente acabaria reclamando do trânsito, da poluição, dos problemas de transporte público, dos caminhos esburacados, apontaria vários responsáveis. Desse ponto de vista, nossa metrópole pode ser uma cidade bem “cinza”.

É exatamente aí que entra o papel do CalçadaSP no Satyrianas do Amor. Ao lado ao lado do São Paulo Free Walking Tour e da Associação de Moradores da Praça Roosevelt fomos provocados a debater: é possível um outro olhar para a cidade?

O CalçadaSP é uma iniciativa que acredita no poder do olhar apreciativo como primeiro passo para ocupar e valorizar a cidade. Um convite para caminhar com cidadania, sim senhor!

Agora você deve estar se perguntando: ‘ Por que raios apreciar a calçada se todo mundo sabe que as calçadas são uma lástima? Em que mundo esse pessoal do CalçadaSP vive? Ou melhor, em qual cidade? ‘ 

Se a gente mostrasse o que todo mundo vê, não teria sentido o nosso trabalho, não é mesmo? A própria Praça Roosevelt é um belíssimo exemplo de mudança de percepção. Antes ninguém acreditava que viraria o que virou, um cartão-postal de cidade.

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Acontece que desde criança somos programados e educados a partir de um olhar baseado na carência: ‘o que nos falta’, ‘o que não funciona’, ‘o que perdemos’. E nossa rotina mental nos leva a pensar constantemente em ‘quem foi o culpado’, ‘qual foi o erro’, ‘quem deve resolver o problema’.

“Quando só temos olhos para o que nos falta, nos faltam olhos para ver e apreciar coisas preciosas que estão disponíveis e não nos damos conta.”

Ana Jácomo

Praça Roosevelt - A Vida no Centro - CalçadaSP

Chegou a hora de sermos capazes de olhar com bons olhos o que se passa à nossa volta, partindo do positivo e da abundância, com o olhar da apreciação. O que poderá acontecer se começarmos a pensar, a ver as coisas, a dialogar com nós próprios e com os outros a partir de pontos fortes, do que podemos fazer melhor, a partir do que queremos, desejamos e sonhamos alcançar?

Ser apreciativo é dar chance para um olhar atento, que permita descobrir o que existe de bom nas estruturas da cidade e no ser humano com quem esbarramos nos nossos caminhos diários.

Praça Roosevelt - A Vida no Centro - CalçadaSP

Por isso, nossa proposta é simples! Ao invés de seguirmos o paradigma: problema – causa – solução – plano de ação, propomos valorizar o melhor do que já existe, imaginar ou considerar o que pode vir a ser, dialogar e construir entre todos essa nova visão.

Vamos assumir que a cidade é um território aberto, pronto para ser explorado e ocupado por todos. E que a mudança do nosso olhar pode fazer toda diferença. Vamos descobrir o que há de melhor no sistema e, a partir daí, instruir o futuro que desejamos.

É preciso prestar atenção onde a gente pisa!

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