Vera Lucia Dias

Qual é a origem da Rua Tabatinguera? Na língua tupi, Tabatinguera significa “tabatinga velha, abandonada”. Tabatinga, barro branco, argila. A Rua Tabatinguera fica próximo da Praça da Sé, fazendo a ligação com a Avenida do Estado.

Cada busca para compreender significados dos nomes dados às ruas nos remete a encontros históricos das diversas sociedades e da geografia do lugar.

Em São Paulo, vemos a importância da cultura indígena e seus acréscimos sobre as formas do viver pelos campos de Piratininga ou as adaptações encontradas para essa diferente morada de povos oriundos do continente africano mesclados com a presença europeia, todos galgando caminhos da serra para a formação da primeira vila nas montanhas que se tornaria uma cidade e depois uma metrópole. Que possamos revisitar origens e influências das culturas para valorizar mais cada etnia na formação do povo paulista.

No trecho inicial da via, saindo da Sé, há uma singela construção religiosa para a Santa Luzia, protetora dos olhos. Trata-se da Capela do Menino Jesus e Santa Luzia, inaugurada em 1901, um patrimônio tombado. Mais adiante, a igreja da Boa Morte, de 1810, outra importante preciosidade preservada. De sua torre vigilante chegava o aviso ao povoado sobre a presença de viajantes vindos do litoral pelos caminhos de barro, pelo Lavapés.

Descendo da Sé em direção à baixada do Glicério o trajeto curto tem esse nome de Tabatinguera. Uma pequena rua em ladeira com ligeira curva terminando no espaço antes ocupado pelas águas do Tamanduateí, é a Avenida do Estado. Esse trajeto do rio, antes todo serpenteado e percorrendo a Várzea do Carmo, nos remete a reflexões sobre as origens da formação do lugar, assim como à necessidade urgente de preservar o manancial paulistano.

Terminando a rua pode-se observar uma grande construção que pede por cuidados e reformas. Ate 1903 era o antigo Hospício dos Alienados, onde esteve por um período o poeta de Santo Amaro, Paulo Eiró. Depois se tornou almoxarifado da Secretaria de Justiça e por fim Quartel da Guarda Civil.

A via é geralmente utilizada para acesso aos bairros do Brás, Mooca ou Ipiranga. Nesse espaço, areias claras podiam ser retiradas servindo ao clareamento das casas durante o século XVIII. O material superficial era, originalmente, constituído por argilas. “Embora predominasse nas moradias o branco da tabatinga, saibro ou barro branco tirado de certos locais da beira do Tamanduateí, de onde se originou o nome Tabatinguera…”, (E. Silva Bruno).

Atualmente, na rua são encontrados comércios de essências, a sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo e ainda o Centro Médico Trasmontano, desde 1938 na região.     

Vera Lucia Dias é Guia e Turismóloga e autora do livro O Tupi em São Paulo. Vocabulário de nomes tupis nos bairros paulistanos, Plêiade 2008 e Edição de Autor, 2020. vera@passeiopaulistano.com

Consultas: páginas do Arquivo do Estado e Prefeitura de São Paulo.

Bueno, Silveira. Vocabulário Tupi-Guarani Português, Brasilivros,1982

Bruno, Ernani Silva. História e Tradições da Cidade de São Paulo, Hucitec, 1984.

Navarro, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo, Vozes, 1998.

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