Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
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Ivam Cabral conta sobre um passeio com Cacilda, sua vira-lata mais linda do mundo, e um encontro na Praça Roosevelt
ivampsic@gmail.com
Aconteceu num domingo, uns anos atrás.
Eu e Cacilda, nossa vira-lata mais linda do mundo, estamos passeando pelo centro da cidade. Depois de uns giros pela feirinha da Praça da República e pelas avenidas Ipiranga e São João, chegamos à nossa Roosevelt.
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Estou sentado na borda de uma floreira em frente ao Espaço dos Satyros, enquanto Cacilda se diverte com uma poça d’água. Depois de algum tempo, aproxima-se uma senhora, uns 80 anos.
— Nossa, tive uma igualzinha!
— Verdade? Esta é a Cacilda.
— Que nome lindo! Cacilda era o nome de uma tia-avó minha. Meu Deus, nunca mais tinha me lembrado dela… Pra ver como o tempo passa…
— É, o tempo voa!
— E parece que foi ontem! Por falar no tempo, ainda hoje pela manhã eu estava me lembrando do meu casamento. Sabe há quanto tempo foi isso? Sessenta e dois anos, contadinhos.
— Verdade?
— Por Deus! Hoje faz 62 anos que me casei aqui na Igreja da Consolação.
— Dia especial, então. Parabéns! E a senhora sempre morou na Praça?
— Não. Morei a vida toda em Higienópolis. Faz menos de seis meses que cheguei aqui. Vim pra terminar meus dias aqui.
Não sei direito como continuar a conversa. Estou emocionado.
— Foi onde tudo começou. Fui muito apaixonada pelo meu marido, sabe? Meu melhor amigo e meu único homem.
— Que história bonita!
— Acho triste.
Silêncio. Começa a garoar. Ela continua:
— Porque acabou… Como tudo na vida.
Mais silêncio. Estou com vontade de chorar.
— Faz tempo que ele morreu?
— Sabe que faz? Mas parece que foi ontem. Morreu na Copa de 1970.
— Nossa, isso foi há mais de 40 anos!
— Mas vivemos 22 anos de pura felicidade.
Nesse momento começamos a ficar encharcados. A chuva aumenta.
— Eu vou morrer se não sair dessa chuva. Tenho bronquite crônica e na semana passada fiquei na cama durante cinco dias.
— Então vamos entrar, podemos sentar ali dentro — sugiro, apontando para as mesinhas do café do Satyros.
— Não, não. Eu tava precisando sentir a chuva. E está tão bom, não está? Eu gosto de chuva. Com este calor, então!
— Mas vai fazer mal para a senhora. É melhor entrarmos.
— Que nada, se eu morrer vai ser um descanso. Saí pra isso. Quando vi que tava armando temporal, resolvi sair sem sombrinha, sem guarda-chuva, sem nada. Queria mesmo me molhar.
— Não é melhor falarmos com alguém da sua família, algum de seus filhos?
Ela sorri um sorriso encabulado.
— Nasci com o útero seco.
Silêncio.
— Vou indo, então.
— Não quer que eu a acompanhe até sua casa?
Mais silêncio.
— Qual o nome dela mesmo?
— Cacilda.
— Que nome lindo! Cacilda era o nome de uma tia-avó minha — diz, enquanto vai descendo a rua.
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