A Vida no Centro

Denize Bacoccina

Blog da Denize Bacoccina

Denize Bacoccina é jornalista e especialista em Relações Internacionais. Foi repórter e editora de Economia e correspondente em Londres e Washington. Cofundadora do projeto A Vida no Centro, mora no Centro de São Paulo. Aqui é o espaço para discutir a cidade e como vivemos nela.

Virada Cultural 2019 mostra o poder da empatia em meio a tempos bicudos

Com quase 5 milhões de pessoas nas ruas, Virada Cultural 2019 mostra o poder da empatia e o desejo das pessoas de ocupar o espaço público – com cultura, arte e em harmonia

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Tempo de leitura:5 minutos

A Virada Cultural 2019 foi um sucesso absoluto. Quase 5 milhões de pessoas nas ruas entre sábado e domingo (18 e 19 de maio de 2019), shows para todos os tipos de público e gostos musicais, ampla oferta de gastronomia e um clima alto astral, de encontro entre iguais que se reconhecem e de diferentes que convivem em harmonia. Foi a celebração do espaço público, da arte e da empatia, sentimento que andava meio abafado num país cuja cultura e a educação estão sob ataque de um grupo tosco e obscurantista que pensa ser dono do Brasil.

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Você está indo para o show do Caetano, me perguntaram mais de uma vez, quando ainda estávamos a uma boa distância do Vale do Anhangabaú. Como eles sabem? Essa era a nossa reação ao ouvir a indagação. Difícil saber, já que nem mesmo a faixa etária era a mesma. O fato é que em meio a dezenas de shows que aconteciam naquele momento, desconhecidos se sentiam confiantes para abordar outros desconhecidos porque viam neles algo que todos tinham em comum: o desejo de andar pelas ruas da cidade, à noite, e vê-las com movimento. A presença de policiais por perto sempre ajuda na percepção de segurança, mas o que garante mesmo a segurança, quando se anda pelas ruas da cidade, é iluminação e mais gente ao redor.

Veja fotos:

O poder da empatia

O uso do espaço público como ambiente de convivência é uma tendência que vem crescendo nos últimos anos. Não é exclusiva de São Paulo e nem mesmo do Brasil. Mas é muito forte no Centro da capital paulista, especialmente em locais como a Praça Roosevelt, que já se consolidou como o ponto de encontro de todas as tribos, para ocupações tão variadas quando andar de skate, praticar yoga e passear com os cachorros.

O próximo ponto a se consolidar como o lugar do encontro com o espaço público, me arrisco a dizer, é o Vale do Anhangabaú. Sempre limpo e policiado, o local é o meu ponto preferido no Centro de São Paulo e ainda sofre de uma imagem negativa que talvez seja fruto de preconceito e desconhecimento. Por isso é subutilizado.

Mas isso começou a mudar. A conclusão das obras da Praça das Artes e a abertura da escadaria voltada para o Vale revelaram uma das vistas mais bonitas do Centro (de frente para o Edifício Martinelli, Farol Santander e todo o antigo centro financeiro de São Paulo) e o local agora é ocupado por animadas baladas nas noites de sexta-feira. Durante a Virada Cultural, além das festas, o público lotou o Vale em shows como os de Caetano Veloso, Criolo e Anitta, com estimativa de público de 200 mil pessoas em cada um desses dois últimos.

Nova relação com a cidade

A limpeza ainda durante os shows impediu que montanhas de lixo se acumulassem nas ruas e mostrou que, quando quer, o poder público é capaz de mostrar competência para cuidar do espaço público. O prefeito Bruno Covas prometeu, para os próximos meses, uma grande mudança na zeladoria, com mais recursos destinados à limpeza. A ver.

O fato é que, a Virada Cultural 2019 vai entrar para a história como o momento em que milhares de pessoas voltaram a frequentar o Centro de São Paulo. Puderam olhar para os prédios do Centro Histórico, ver o local onde a cidade nasceu, apreciar o antigo centro financeiro e se reconectar com a cidade. Que seja o primeiro ano de uma relação duradoura.

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