Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
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Edifício Eiffel trouxe várias inovações, como o desenho em formato de um livro semiaberto. Saiba mais na segunda reportagem da série “Prédios Modernistas”, uma parceria entre A Vida no Centro e o Bem Viver General Jardim
Denize Bacoccina | Nos anos 1950, quando a Praça da República era o grande jardim de São Paulo, circundado de lojas luxuosas, restaurantes finos e bares e cafés frequentados pela sociedade, o arquiteto Oscar Niemeyer desenhou ali um prédio que até hoje impressiona. O Edifício Eiffel, apesar da alusão à famosa torre parisiense do século 19, era um legítimo representante do modernismo brasileiro, movimento arquitetônico que redesenhou a paisagem do Centro de São Paulo entre as décadas de 1930 e 1960 e até hoje se destaca pela beleza e funcionalidade das obras.
A Vida no Centro resgata a história deste período com a série de reportagens Prédios Modernistas, que conta com o apoio do Bem Viver General Jardim.
E aqui a primeira matéria da série, sobre o Edifício Esther: EDIFÍCIO ESTHER, O PRIMEIRO MODERNISTA DE SÃO PAULO. CONHEÇA A HISTÓRIA DO PRÉDIO E VEJA FOTOS
O Eiffel foi o primeiro prédio de luxo do famoso arquiteto e também um dos últimos edifícios que ele projetou, já que Niemeyer logo passou a dedicar-se exclusivamente a obras públicas.
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O edifício foi encomendado a Niemeyer pelo BNI, Banco Nacional Imobiliário, de Orozimbo Octávio Roxo Loureiro e Otávio Frias de Oliveira. Foi desenhado entre 1951 e 1952 e entregue em 1956. Não era o primeiro projeto do arquiteto carioca em São Paulo. Em parceria com Carlos Lemos, que virou seu representante na capital paulista, ele já havia desenhado o edifício Califónia, com sua galeria de lojas no térreo, na Rua Barão de Itapetininga, e o residencial Montreal, de apartamentos do tipo quitinete. Depois, desenhou ainda o edifício Triângulo, perto da Praça da Sé, e o mais famoso de todos, o Copan, que não chegou a acompanhar até o fim, com o início da construção de Brasília.
Embora o próprio Niemeyer tenha dito – quando passou a rejeitar obras para o setor privado e se dedicar apenas a encomendas de governo – que seus projetos feitos em São Paulo foram realizados sem o rigor necessário, o Eiffel traz inovações importantes.
A mais visível é o desenho, em formato de um livro semiaberto, de forma que todos os apartamentos tenham vista para a Praça da República. Como faria depois com o Copan, Niemeyer posicionou o prédio para aproveitar ao máximo o terreno em formato triangular, um pedaço que “sobrou” com as modificações no traçado da Praça da República.
Ao criar três corpos, um mais alto no meio e dois laterais, mais baixos, assegurou que a área construída fosse a máxima possível, de acordo com a legislação, que previa distâncias em relação ao outro lado da rua, também aproveitando o máximo de luz solar.
A outra inovação é a planta interna: os 54 apartamentos duplex, de dois, três e quatro dormitórios, com tamanho generoso, superior a 200 metros quadrados, têm a entrada pelo andar superior, onde ficam a sala e a cozinha, e uma escada para o andar inferior, onde ficam os quartos, protegidos do barulho dos vizinhos de cima.
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Como era comum na época, o Eiffel contempla também espaços comerciais – o uso misto, que facilita a vida dos moradores e dá mais segurança ao garantir movimento no entorno, acabou saindo de moda a partir da década de 1970, e agora está voltando, nos empreendimentos mais modernos. No térreo, uma galeria abriga dezenas de lojas, hoje ocupadas por lojas de roupas, presentes, cabeleireiros e lanchonetes. E no mezanino tem um restaurante com um jardim que dá vista para a praça.
Veja fotos do prédio:
Parceria com Carlos Lemos
O engenheiro e estudante de arquitetura Rolando Piccolo Figueiredo, estudioso das obras de Niemeyer pré-Brasília e autor do perfil de Instagram Oscar Niemeyer Works, em homenagem ao arquiteto, lembra que ele já era um profissional consolidado, com obras no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, quando veio a São Paulo. E que o apoio de Carlos Lemos, que acabou finalizando sozinho obras como o Copan, foi fundamental, já que Niemeyer não conhecia bem a legislação paulistana e suas exigências como recuo em relação à rua, altura máxima.
Foi para se adequar à legislação que o arquiteto posicionou o prédio daquela maneira. Outro motivo, diz Figueiredo, é a inspiração num projeto do arquiteto Le Corbusier, o precursor do Modernismo, com um desenho parecido, que nunca chegou a ser construído. Para Figueiredo, a cara de São Paulo é moderna, porque a cidade foi verticalizada nas décadas de 1940 a 1960 e esses prédios continuam marcantes até hoje. “São os mais bonitos ainda porque infelizmente a gente tem construído muito mal ultimamente”, afirma.
O arquiteto e professor do Mackenzie Valter Caldana, destaca que a implantação inusitada do edifício no terreno levou a uma relação muito boa entre o edifício e a cidade, por ficar de frente para a Praça da República e ao lado do Colégio Caetano de Campos, colégio público tradicional na época da construção do Eiffel e hoje sede da Secretaria Estadual de Educação. “É extremamente generosa para a cidade e respeitosa para o Caetano de Campos”, avalia Caldana.
De dentro dos apartamentos, a sensação é de estar em comunhão com a rua. As paredes de vidro e os cobogós na fachada, entre a sala e a cozinha, permitem a entrada de luz natural, ao mesmo tempo que protegem da vista de quem olha de fora. Já os quartos, na parte inferior, têm a iluminação garantida pelos amplos janelões.
Foi justamente a relação com a rua que atraiu Joanita Nascimento, proprietária de um apartamento no Eiffel desde 2015. Ela conheceu o edifício quando, morando em Brasília, vinha a São Paulo passear e numa dessas visitas fez um roteiro pelos prédios do Niemeyer. “Mapeei todas as obras dele e achei que o Eiffel era um prédio interessante. A partir daí, nos meses seguintes comecei a ver várias séries e filmes que tinham sido rodados aqui. Comecei a achar tão bonito, iluminado”, conta.
“Aí comecei a pesquisar obsessivamente sobre apartamentos aqui. Apareceu este e fiquei três meses em negociação, tive todo tipo de dificuldade, mas acabou dando certo”, diz ela. Depois de uma longa reforma que deixou o apartamento como novo, reforçando o estilo modernista, ela se mudou.
E se encontrou. “Aqui parece que a gente está na rua”, diz, sobre a relação com a Praça da República, um ponto emblemático do Centro de São Paulo, com seus pontos positivos e negativos. O contato com a diversidade que o Centro permite já era um ponto positivo na época do Modernismo e continua hoje. “Eu nasci em Salvador, morei no Rio na infância, depois voltei para Salvador. E, depois de morar em Brasília, eu sentia essa sede de rua, de diversidade, de encontrar todo tipo de gente, esse contraste entre decadência e novidade, esse abandono, apropriação do espaço coletivo. Isso é muito rico no Centro”, diz Joanita.
Endereço: Praça da República, 177
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