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Edifício Planalto, de Artacho Jurado, já foi cenário de novela da Rede Globo e de peças publicitárias; conheça a história e veja fotos desse ícone do Centro
Denize Bacoccina | As linhas retas do modernismo encantaram os paulistanos, que identificavam no novo estilo arquitetônico um símbolo do desenvolvimento da cidade, a cidade moderna, que crescia em ritmo acelerado e incorporava as novas tendências. O Centro de São Paulo se verticalizou, grandes edifícios criaram um novo skyline para a metrópole. Mas chegou um momento em que a ausência de ornamento começou a fazer falta. Aí, entra em cena João Artacho Jurado. Empresário, dono de construtora, Jurado nunca estudou arquitetura – na verdade não concluiu nem o ensino básico, porque o pai, anarquista, não concordava com os rituais de culto à bandeira obrigatórios nas escolas. Ainda assim, projetou alguns dos edifícios mais bonitos da cidade, hoje objetos de desejo de muitos moradores, estudados em escolas de arquitetura e extremamente valorizados no mercado. Um deles é o Edifício Planalto, terceiro empreendimento retratado na série “Prédios Modernistas”.
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Inaugurado em 1957, na Rua Dona Maria Paula, em frente à Câmara Municipal, o Edifício Planalto chama atenção por seu terraço de linhas sinuosas, suas varandas charmosas se debruçando sobre a cidade.
O Planalto não era um prédio de luxo, e a maioria dos apartamentos é pequena. O prédio tem 26 andares e 294 apartamentos com tamanhos entre 44 a 127 metros quadrados, divididos em três blocos. Mas a impressão, quando se olha de fora, é de grandiosidade. As varandas são divididas internamente, mas formam uma linha contínua quando vistas de fora. O mesmo artifício usado no Viadutos, que tem uma linha contínua de varandas em toda a área externa, com divisões imperceptíveis à distância.
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O prédio já foi cenário da novela da Rede Globo Amor à Vida, em 2013, e foi usada como locação em diversas peças publicitárias. Já abrigou também um show room da Nike e um bar temporário Heineken Up on the Roof.
O efeito das pastilhas rosas, azuis, amarelas, verdes e outras cores que a princípio não pareciam combinar não foi por acaso. Depois de uma viagem ao Rio de Janeiro, Jurado chegou em São Paulo dizendo que a cidade era muito cinza, e que era precisa colocar cor na paisagem.
Veja fotos:
Foi justamente este o tema de uma exposição realizada no térreo em 2017: Edifício Planalto: 60 Anos de Cor em São Paulo, com desenhos, projetos, fotografias e objetos que contam a história do prédio e de moradores ilustres.
Os elementos coloridos – não apenas pastilhas cobrindo os pilotis, mas também cobogós de louça, luminárias cheias de detalhes, detalhes em gesso e toda sorte de enfeites – trouxeram um glamour hollywoodiano para os edifícios residenciais, e agradaram em cheio aos compradores. Mas desagradaram, na mesma proporção, aos arquitetos e, especialmente, aos concorrentes.
Jurado incluía ainda, em seus projetos, instalações como piscina, salão de festas, jardins suspensos e outras áreas de convivência. Fazia, como ele mesmo dizia, edifícios para a classe média se sentir como se estivesse num clube.
Jurado vendia o marketing do sonho, num momento que os Estados Unidos vendiam a bonança e o sonho do pós-guerra, e Hollywood representava o ideal de vida glamourosa desejado por todos. O construtor era um grande anunciante dos jornais, revistas, teatros e programas de TV da época, e artistas conhecidos anunciavam seus prédios.
Mas ele também vendia um plano de pagamento que cabia no bolso da classe média baixa que queria atrair para seus imóveis menores. Os prédios já eram planejados para que os custos do condomínio fossem cobertos pelo aluguel do terraço para placas de publicidade, enquanto os salões de festas poderiam ser alugados para festas ou filmagens, gerando renda para o condomínio. O mesmo modelo foi utilizado no Viadutos, construído na mesma época e até hoje um ícone.
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O arquiteto Ruy Eduardo Debs Franco, autor do livro Artacho Jurado – Arquitetura Proibida e do documentário Arquitetura Proibida, diz que o sucesso dos imóveis lançados pelo empresário incomodava a patrulha modernista, que tentava desqualificá-lo. Os potenciais compradores, no entanto, adoravam. “Ele vai colocar o ornamento no modernismo, num momento em que as pessoas estavam pedindo por isso, já tinham cansado das linhas sóbrias”, diz Franco.
Por causa dos ornamentos, e do exagero em seu uso, os prédios de Jurado eram considerados não modernistas pelos críticos. Mas Franco diz que, apesar dos enfeites em estilo kitsch, a essência da arquitetura dele é modernista. “Todos os cinco pontos do Le Corbusier estão lá. As plantas são muito boas, muito generosas”, diz ele. O arquiteto franco-suíço Le Corbusier estabeleceu cinco princípios para a arquitetura modernista: fachada contínua, janela em fita, pilotis, terraços-jardim, para o lazer dos moradores e planta livre, permitindo integração entre os cômodos e flexibilidade interna.
A maior resistência a Jurado, diz Franco, foi o fato de não ter diploma justamente num momento em que os arquitetos tentavam se firmar como categoria profissional, excluindo do mercado os que não eram formados. Jurado, além de não ter diploma, era um sucesso de vendas, o que também incomodava os concorrentes. O arquiteto lembra ainda que a Construtora Monções trouxe inovações importantes, como a venda pelo preço de custo e um sistema de montagem de paredes que acelerava o processo de construção, utilizado em Cidade Monções, bairro construído por ele na década de 1940.
Entre os princípios modernistas estão elementos que nos últimos anos voltaram a ser valorizados como facilitadores da vida urbana. São essas facilidades que atraíram o arquiteto Daniel Korn, que mora no Planalto há quatro anos, desde que estudava na Escola da Cidade, a dez minutos do prédio. “Como estudante de arquitetura ,eu estava deslumbrado com a arquitetura modernista e queria morar num edifício emblemático deste período”, conta ele. Acabou encontrando um apartamento no Planalto que tinha tudo o que queria. “Uma das coisas que mais gosto no Planalto é estar inserido numa vida muito urbana. No térreo tem bar, papelaria, padaria, ao lado tem farmácia. Tem tudo muito perto”, diz ele.
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Outra moradora que escolheu mudar de vida em busca de um estilo mais urbano, onde pudesse se locomover a pé é Wans Spiess, sócia do CalçadaSP, projeto de ativismo na calçada. Em 2015, ela adquiriu o apartamento que havia sido comprado pelo avô na planta, já planejando sua mudança de Brasília para São Paulo. Embora o avô nunca tivesse morado no apartamento, que comprou como investimento, ele morava na Rua Aurora, também na região central. Por causa disso Wans passou a infância visitando os avós no Centro. Foi justamente a mistura da história da família com a história do prédio que a atraiu.
“Eu sabia que meu avô tinha um apartamento aqui e achava o máximo ser do Artacho Jurado. Sempre curti arquitetura, sempre fui interessada nas questões do patrimônio. Tanto que, em 2015, quando tinha acabado de comprar, abri meu apartamento para visitação na primeira Jornada do Patrimônio”, conta.
Ela também gosta da mistura de pessoas que vivem no edifício e que provocam um conflito saudável, obrigando todos a sair um pouco do seu lugar e tentar se colocar no papel do outro. “Tem pessoas muito diferentes morando aqui: famílias, pessoas sozinhas, casais homossexuais, heterossexuais. Tem de tudo. E essa é a beleza”, diz.
Endereço: Rua Dona Maria Paula, 279
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