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Edifício-sede do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), inaugurado nos anos 1950, é até hoje estudado como um importante projeto modernista. Saiba mais na quarta reportagem da série “Prédios Modernistas”
Denize Bacoccina | Em meados dos anos 1940, vários prédios modernistas já começavam a mudar a paisagem do Centro de São Paulo. A cidade ainda era dominada pelo estilo eclético do século anterior, muito influenciada pelo aspecto parisiense que a elite do café admirava, mas o Edifício Esther começava a mudar a cara da Praça da República e outros prédios modernos já frequentavam as pranchetas dos novos arquitetos.
Foi então a vez do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) dar a sua contribuição à face moderna de São Paulo. A entidade que reúne a seção paulista dos arquitetos, fundada em 1943, fez um grande concurso para escolher um projeto para o edifício-sede do IAB, que é tema desta reportagem da série “Prédios Modernistas”.
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A primeira sede do IAB em São Paulo ficava justamente no Esther, inaugurado em 1938. A mudança para uma sede própria começou com a compra de um terreno por um grupo de arquitetos, liderados por Vilanova Artigas, que se cotizaram para adquirir o terreno de 300 metros quatros na esquina das ruas Bento Freitas com General Jardim.
Em 1946, o concurso para a construção do prédio recebeu 13 propostas. A comissão julgadora, formada por arquitetos já consagrados como Oscar Niemeyer, Firmino Saldanha e Hélio Uchoa, com a colaboração de Gregori Warchavchik (autor e morador da primeira casa modernista em São Paulo, na década de 1920) e Fernando Saturnino de Brito, decidiu escolher os três melhores projetos. Rino Levi foi escolhido então para chefia a equipe formada também pelos colegas Miguel Forte e Abelardo de Souza.
Os princípios de Le Corbusier para o modernismo estão presentes, em elementos como a estrutura de pilotis do térreo, cercada por vidros, fachadas envidraçadas em duas faces do edifício e terraços de uso coletivo. Colunas e lajes são cobertas por pastilhas coloridas, destacando o prédio em relação aos demais. O IAB ficou com quatro andares: o subsolo, o térreo, o primeiro piso, com mezanino, e o quarto piso, enquanto arquitetos instalaram seus escritórios nos outros andares. Por lá já passaram profissionais do porte de Eduardo Kneese de Mello, Vilanova Artigas, Rino Levi. O maior arquiteto brasileiro em atividade, Paulo Mendes da Rocha, tem escritório lá desde os anos 1970.
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Além da arquitetura, o edifício recebeu obras de arte. A mais importante é o móbile Viúva Negra, do artista americano Alexandrer Calder, doado pelo próprio artista em 1954, quando veio ao país para a Bienal de Artes e a Bienal de Arquitetura. Calder, que era amigo de Rino Levi, visitou o prédio e ficou encantado.
Apesar da inovação e excelência do projeto, o tempo passou e o edifício envelheceu. Nos primeiros anos deste século estava em péssimas condições, com a marquise escorada por uma estrutura na calçada.
Quando assumiu a presidência da entidade (2012-2016), o arquiteto José Armênio de Brito Cruz, atualmente presidente da SP Urbanismo, reativou um projeto para restaurar o edifício. Já existia um projeto de Lei Rouanet aprovado, mas não havia recursos captados. O ex-governador Geraldo Alckmin abraçou a ideia e a Sabesp bancou parte dos gastos.
Outras empresas participaram, com doação ou desconto na venda de materiais. Além disso, um acordo com a Fundação Alexander Calder permitiu a restauração do móbile, que foi depois cedido para uma exposição sobre o artista na Tate Modern, de Londres.
Em 2017 a obra foi cedida em comodato para o Instituto Moreira Sales, o IMS, na Avenida Paulista, onde pode ser vista na Biblioteca de Fotografia.
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A importância do prédio é tão grande, diz José Armênio, que arquitetos de todo o país e do mundo inteiro vêm visitá-lo. “É um ícone da arquitetura moderna em São Paulo”, diz José Armênio. “Foi um marco na arquitetura e é um patrimônio não só dos arquitetos, mas de toda a cidade. Todo mundo que vem de fora quer conhecer, ver os detalhes do Rino Levi. É um prédio muito estudado”, afirma.
A renovação também inclui novas funções para espaços que eram subutilizados. A livraria do térreo deu lugar a uma filial da lanchonete Z Deli, que vive lotada. E a marquise do primeiro andar agora abriga o Bento 43, café que instalou um clima de praia no local, com vista privilegiada não apenas do próprio edifício como da paisagem urbana ao redor. O subsolo, que serviu de sede para o Clube dos Artistas e Amigos da Arte, conhecido como Clubinho, reabriu também em 2018 como uma galeria de arte, a Central Galeria, que promove exposições de artistas contemporâneos.
Se não tem mais os artistas que fizeram a fama do Clubinho nos anos 1950, época em que toda vida cultural e artística de São Paulo se dava em poucos quarteirões ao redor da Praça da República, a nova fase do edifício-sede do IAB está ajudando e estimulando este novo momento do Centro, com o aumento da percepção de que a boa arquitetura pode ajudar, positivamente, na qualidade de vida urbana.
Endereço: Rua Bento Freitas, 306
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