A Vida no Centro

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Minha São Paulo, 468 anos: personalidades contam o que mais gostam na cidade

Perguntamos para paulistanos – de origem ou adoção – o que os atrai em São Paulo, o que cidade tem de melhor. Veja o que responderam

Por Denize Bacoccina e Clayton Melo

A Minha São Paulo. Boa parte dos moradores de São Paulo não nasceu na cidade. A metrópole não cresce mais de forma acelerada como nas primeiras décadas do século 20, quando chegou a ser a cidade que mais cresce no mundo, mas ainda continua atraindo gente de todos os cantos do Brasil e de outros países.

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Por que é tão bom morar em São Paulo? O que a cidade tem de especial para atrair tanta gente? Para comemorar o aniversário de São Paulo, que nesta terça-feira, dia 25, faz 468 anos, Perguntamos para algumas pessoas o que elas mais gostam na cidade. Veja o que responderam:

Aline Torres, Secretária de Cultura de São Paulo

São Paulo acolhe

Aline Torres

São Paulo é a terra que acolhe, que assusta, que é vanguarda. São Paulo é diversa. Em São Paulo tem vários Brasis. Eu gosto da explosão de criatividade que existe na periferia, de como São Paulo se torna palco de oportunidade para a juventude. Desejo, a partir desses 468 anos, uma São Paulo mais igualitária, da Brasilândia à avenida Paulista, da Cidade Tiradentes a Moema, com mais respeito entre todos.

Essa é a cidade que eu amo, e aproveito o “A Vida no Centro” para desejar os parabéns à São Paulo, pelos 468 anos de sua fundação.

Aline Torres é secretária municipal de Cultura de São Paulo

É bonito ver a cidade se reinventando

Rodolfo Garcia Vázquez

Eu acho São Paulo uma cidade incrível. Eu conheço muitas cidades do mundo e são poucas as que me trazem a mesma sensação que São Paulo me traz, que é uma sensação de liberdade no meio da multidão, um anonimato no meio da multidão. E isso é uma coisa que me instiga, desperta minha curiosidade, minha vontade de pesquisa, de investigar, de conhecer.

Amo São Paulo por isso.

E o lugar que eu destacaria, que eu acho incrível, é o Parque da Juventude, ali no Carandiru, porque ele tem a ver com a minha infância. Eu fui criado numa casa em frente à penitenciária do Estado e eu me lembro da rebeliões, dos tiros, me lembro dos guardas nos postos, e me lembro também que eu andava no meio dos blocos da penitenciária, nos fundos tinha um cafezal e um terreno baldio gigantesco, que dava para o lixão da cidade.

A gente ficava brincando naquele terreno e ouvindo os gritos dos presos e às vezes um preso batia na porta de casa pedindo comida ou dinheiro pra poder voltar pra cidade dele no interior, quando eles eram liberados da prisão. E a gente abria o vidrinho da janelinha da porta com muito medo. É incrível o que foi refeito, o que foi ressignificado neste parque. Acho que a cidade se reinventou e o parque é uma das provas dessa reinvenção da cidade. Fica pra mim este testemunho de como é bonito ver a cidade se reinventando.

Rodolfo Garcia Vázquez é dramaturgo, diretor de teatro e de cinema e cofundador da companhia de teatro Os Satyros.

Janaína Rueda

Eu amo a generosidade de São Paulo

Janaína Rueda

Eu amo a generosidade e a diversidade de São Paulo. Eu amo o Parque Minhocão.

Eu amo o edifício Copan e o Magg café (na galeria do Copan). Esses lugares mostram a generosidade e a diversidade da mais acolhedora cidade do Brasil.

Janaína Rueda é chef e proprietária do Bar da Dona Onça, no Copan.

O ator e dramaturgo Ivam Cabral mostra seu estilo de vida no Centro de São Paulo

Rezar em São Paulo

Ivam Cabral

Eu não sei rezar. Mas tenho uma admiração tão grande pelas pessoas que rezam! Assim, com um misto de invídia e contemplação, adoro entrar em igrejas e observar aqueles que rezam.

Também gosto de fazer o sinal da cruz toda vez que passo em frente a uma igreja. Um jeito que encontrei pra não esquecer de mim. Fiz um pacto comigo e, muitas vezes, não é fácil cumprir a promessa. Principalmente quando estou acompanhado. Mas como pacto é pacto, vou cumprindo minha promessa.

Dentre as dezenas de embaraços, não sei porque, toda vez que passo em frente à Biblioteca Mario de Andrade eu faço o sinal da cruz. Mas não tem leitura pensada nesse ato, não. Faço porque sou bobo e me confundo com o prédio, pensando mesmo que é uma igreja. Pensando bem, agora, pode mesmo até ser, não é? Uma igreja! Leia mais aqui.

Ivam Cabral é ator e dramaturgo.

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro

Heródoto Barbeiro é jornalista, historiador, apresentador de TV e autor do livro Meu velho centro (Boitempo Editorial).

Carmen Silva

Carmen Silva

O que eu mais gosto em São Paulo é a sua diversidade, a sua culinária. A diferença, o  tanto de pessoas que circulam por aqui. São Paulo tem várias cidades dentro de si. O que eu mais gosto de São Paulo é que por mais que se tenha crises, tem muitas oportunidades. Eu gosto dos lugares, eu gosto da arquitetura de São Paulo, o centro velho. Eu gosto do novo, gosto das discussões, das participações populares dentro dos conselhos, dos parques.

Carmen Silva é líder do MSTC (Movimento dos Sem´´-Teto do Centro).

Miguel Arcanjo Prado – Foto: Edson Lopes Jr.

São Paulo é diversidade

Miguel Arcanjo Prado

O que eu gosto em São Paulo, cidade que é meu lar desde 2007, é a diversidade cultural que só a metrópole tem, com artes e sotaques diversos vibrando em seus palcos, salas e prédios. Adoro assistir peças de teatro na Praça Roosevelt, onde todas as tribos se encontram e que abriga o efervescente Festival Satyrianas, organizado pela incansável Cia. de Teatro Os Satyros, grupo que é a cara da cidade.

Também amo ir à Festa do Imigrante, no Museu da Imigração, na Mooca, onde os sabores dos continentes se misturam, provando que o paulistano pode ter nascido em qualquer lugar do planeta.

Outro espaço que adoro frequentar é o Memorial da América Latina, que fica no bairro onde moro, a Barra Funda. Em meio à exuberante arquitetura de Oscar Niemeyer, minha família sempre se sente em casa, já que somos a mistura do Brasil e da Argentina.

São Paulo é isso: diversidade. Porque nesta grande cidade cabe todo mundo e sempre há espaço para mais um que acabou de chegar. E que bom que é assim.

Miguel Arcanjo Prado (@miguel.arcanjo) é jornalista, crítico, diretor do Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo de Cultura.

Luiz Campiglia, proprietário e chef do Paribar

Diversidade e liberdade no Centro

Luiz Campiglia

O que eu gosto em São Paulo, e isso vem crescendo com o tempo, é a quantidade de pessoas diferentes que se encontram aqui. Não digo diferenças de classe sociais, mas diferentes tipos de pessoas, culturas, comportamentos. E vem crescendo também as pessoas de outros países.

E no espaço onde eu estou, no Centro, é onde essa diversidade fica mais clara. Andar pelo Centro é uma das coisas que me anima a ficar nessa cidade ainda. Pela liberdade das pessoas, ver como as pessoas são livres para serem o que são.

O que eu gosto nesta cidade é justamente isso. O Centro tem esta vocação que me encanta tanto. Aqui, esse lugar da cidade que eu escolhi estar, é assim.

Luiz Campiglia é proprietário e chef de cozinha do restaurante Paribar.

Maria Cândida no relógio da Estação da Luz

A Estação da Luz é incrível

Maria Cândida

“Acho a Estação da Luz incrível! Um dos pontos arquitetônicos  mais bacanas de São Paulo. Hoje, falta segurança lá e obviamente, as pessoas têm medo de visitar. Mas ficar dentro daquele lugar e olhar pra cima já é uma viagem no tempo. Fico imaginando como era quando foi inaugurada, em 1867, as mulheres com vestidos da época, os homens de chapéu. Malas sem rodinhas… praticamente um filme.

Tive a oportunidade de subir até o relógio da Estação da Luz (gravei um episódio para o É De Casa) pra contar a história do Sr. Fiorelli, que é o relojoeiro oficial e neto do cara que ajustava todos os relógios da cidade. Loucura pensar na nossa relação do tempo atualmente, com celular, e o relógio tradicional, grandão. Lá em cima eu me senti no filme “A Invenção de Hugo Cabret”, de 2011. Sensacional! O episódio está no Globoplay, pra quem quiser assistir!“

Maria Cândida é jornalista e apresentadora de TV.

José Roberto Walker

Ruas que contam a história de São Paulo

José Roberto Walker

Nasci em São Paulo, filho de uma família de imigrantes que chegou à cidade em 1889, umas semanas antes da proclamação da República. Como a maior parte dos meus antepassados vivi a vida toda em São Paulo, não sei se saberia morar em outra cidade. Passei a infância na Liberdade e da minha janela ainda era possível ouvir no início dos anos 60 os sinos da Catedral que tocavam ao meio dia e às seis da tarde.

São Paulo é uma cidade estranha, que guarda o seu passado sempre escondido. Embora já tenha quase 500 anos, a sua história não está à vista de todos e é preciso procurá-la. Até os nomes das velhas ruas quase desapareceram. Na Liberdade, as marcas do passado estão mais ou menos visíveis e eu, até hoje, gosto de percorrer aquelas ruas procurando os vestígios de outros tempos. Leia mais aqui.

José Roberto Walker é historiador, publicitário, produtor cultural e autor do romance histórico Neve na Manhã de São Paulo, sobre o grupo de amigos que viria a dar origem à Semana de Arte Moderna.

Murilo Romão e amigos em passeio de bicicleta nas obras paralisadas da rodoanel norte

De bicicleta, descubro lugares novos

Murilo Romão

Eu gosto de pedalar por São Paulo, por lugares que eu nunca fui. Descobrir áreas novas que dá curiosidade de ir, bairro novo e com a bike dá pra atravessar a cidade. É uma outra sensação andar de bicicleta. Não tem nenhum filtro, você está cara a cara com a cidade. Não é como carro, ônibus, metrô. Bicicleta é mais aventura.

Uma dica que eu daria é esse rodoanel norte. A obra foi paralisada há um tempo e o pessoal do bairro usa como parque, como se fosse um Parque Minhocão, mas na quebrada. Brasilândia, Cachoeirinha. Tem uma fábrica de cultura também. E esse rodoanel tem uns tuneis, parece meio espacial. Em dia de sol o pessoal fica empinando pipa, jogando bola. Virou um lugar de lazer mesmo.

Tem também a região da Água Branca, Lapa de Baixo, umas partes da cidade que ainda estão meio misteriosas.

Eu gosto de São Paulo justamente por causa desses mistérios. Como a cidade tem muita coisa, é muito grande você acaba se enfiando nesses buracos e acha umas coisas que nunca imaginava. Até mesmo no centro. Com a bike dá pra entrar em vielinhas, uns lugares bem diferentes, que o pessoal não passa muito.

Murilo Romão é film maker e skatista.