Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
O guia de turismo Laércio Cardoso de Carvalho fala sobre a história da igreja Santa Efigênia, que é oficialmente uma basílica.
No texto de estreia de sua coluna no A Vida no Centro, o advogado e compositor Thiago de Souza, idealizador do projeto O que assombra?, conta por que o Anhangabaú, além de ser o berço mítico da cidade, é uma potentíssima incubadora de assombrações
Por que o Vale Anhangabaú e suas adjacências são tão assombrados? A resposta é o Anhangá
Por Thiago de Souza
Paulistanos e Paulistanas…
Farei as vezes do molequinho do filme Sexto Sentido e, de uma maneira muito particular, vos direi:
Eu vejo gente morta o tempo todo.
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Digo sem reserva, pois acredito ser importante que saibam que as coisas não acabam depois do fim e aquele papo de “até que a morte nos separe” é conversa fiada.
Isso não tem qualquer aplicação religiosa, prometo.
O que posso afirmar é que quem morre pode até ser levado da vida, mas não da cidade de São Paulo.
Ou melhor… não do Centro de São Paulo.
E este fenômeno sócio/paranormal só é possível em razão da existência do Anhangabaú que, segundo este que vos escreve, além de ser o berço mítico da cidade, é uma potentíssima incubadora de Assombrações.
Entendam Assombrações em todas as dimensões possíveis, por favor.
E não é difícil entender o motivo. Especialmente se voltarmos um pouco no tempo para reencontramos uma das traduções de Anhangabaú, que é descrito há séculos como o rio dos malefícios do diabo.
Mas que diabo?
Anhangá.
Quem assentou Anhangá na condição de Diabo do Cristianismo foi o Padre Anchieta (hoje Santo), na estratégia de aculturação de seus processos evangelizadores.
É importante dizer isso, pois em outras regiões do país Anhangá não tem essa denominação maligna. Ao contrário, é conhecido por seu importante papel no equilíbrio da selva, tendo inclusive o papel de protetor dos animais e das matas.
Nestes locais, o diabo cristão, quando traduzido para a mitologia indígena, é reconhecido na figura de Yurupari.
Mas não em São Paulo.
Aqui, por um tempo, Anhangá até gozou da devoção dos povos nativos.
Por um tempo, chegou até a considerar a humanidade parte da Floresta, tolerando predação moderada de seus animais protegidos.
Mas, em uma ocasião, um prestigiado caçador resolveu tirar a vida de uma cerva mãe acompanhada de um filhote – hipótese consagrada no filme Bambi.
Anhangá percebeu a ação do caçador e, intuitivamente, previu que o resultado da morte da mãe acarretaria na morte do filhote, num futuro próximo.
Concluiu também que a morte precoce do filhote impediria que ele trabalhasse como semeador da floresta, além de quebrar o ciclo reprodutivo de sua espécie.
Anhangá não admitiu o evidente desequilíbrio que a morte do pequeno geraria e fez com que o caçador empreendesse perseguição contra a sua própria mãe.
E fez isso gerando um cenário ilusório, que teve como desfecho a triste consequência do eficiente caçador matando sua própria mãe, com uma flecha certeira.
Anhangá, que usualmente tem a forma de um cervo branco, possui “superpoderes” e habilidades, que passam por se transformar em outros animais, enlouquecer outros seres – como fez com o caçador – e desviar as almas do Guajupiá – que é uma espécie de paraíso mitológico indígena onde as almas encontram seu descanso.
O descaminho de almas promovido por Anhangá, inevitavelmente, torna seu reduto assombrado.
Por conta deste último “superpoder” os Tupinambás, enquanto embalam seus mortos, afastam Anhangá dispondo oferendas em locais distantes dos corpos – que são mantidos cercados por tochas flamejantes.
Para resumir:
Anhangá tem o poder de se transformar em praticamente qualquer coisa, a habilidade de enlouquecer pessoas e desviar as almas dos desencarnados, deixando-as vagando em seus domínios.
Ficou mais fácil entender o motivo do Vale Anhangabaú (e suas adjacências) serem tão assombradas?
Toda essa explicação foi necessária, pois é a partir do Anhangabaú que vamos reencontrar os medos originais da Cidade de São Paulo a partir das assombrações nativas de São Paulo.
Nessa viagem no insólito, além de algum medo e um pouco de história, encontraremos muitos diagnósticos sobre o caldo de cultura onde nossa comunidade eclode.
E juro…
Em vários momentos, o paralelismo entre as tragédias do passado – que são as responsáveis pela concepção de assombrações – e a atualidade, serão muito mais assustadoras do que qualquer história de fantasmas.
Deixo com vocês a íntegra do Manifesto Assombrófago: ato que inspira e define essa coluna:
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