A cidade de São Paulo em vários assuntos conquistou o pioneirismo nacional, sul-americano e até mundial. Vários desses pioneirismos aconteceram na região central. Num tour poderemos passar por eles. Vamos?

Com certeza você deve estar curioso para saber qual é esse pioneirismo mundial. Vamos então começar por ele. Estamos no Parque D. Pedro, diante de um palácio no estilo florentino, desde 2009 sediando o espaço cultural Catavento. A construção feita pelo escritório Ramos de Azevedo teve início em 1911 e foi inaugurada em 29/4/1924 mas foi utilizada mesmo antes de estar concluída. Esse espaço ao longo do tempo teve vários usos. Em dois deles ocorreram pioneirismos, primeiro um nacional e depois, um mundial.

O pioneirismo nacional aconteceu logo na primeira função do prédio, construído para ser o Palácio das Indústrias, espaço para sediar exposições  agrícolas, pecuárias e os eventos  sociais a elas correlatos, além de exposições de arte. Em 12/10/1923 ali foi inaugurada a primeira exposição de carros no Brasil. Reuniu em diversos  salões o que havia de mais moderno em automóveis, caminhões, motocicletas e toda linha de acessórios. Foi organizada pela Associação de Estradas de Rodagem. Estavam expostos automóveis da Fiat, Renault, Packard, Nasch, Lincoln Ford, Buick, Chevrolet.

O pioneirismo mundial aconteceu em 6/8/1985, quando foi inaugurada ali a primeira Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher, pioneira no mundo. Criada no governo de Franco Montoro pelo decreto 23.769/85. O decreto estabeleceu a competência dessa delegacia especializada para investigar e apurar, entre outros, delitos de lesão corporal, ameaça, constrangimento ilegal, atentado violento ao pudor, adultério. Quando da assinatura do decreto estavam presentes jornalistas de diversas partes do mundo. Na época nesse Palácio estava instalado o Degran  (Delegacia de Polícia  da Grande São Paulo) funcionando ali várias delegacias: o primeiro distrito, a Delegacia de Estrangeiros, por isso ali foi instalada a Delegacia da Mulher. A primeira delegada foi Rosmary Correa.

Vamos agora para a estação Sé do Metrô de São Paulo, um ocorreu um pioneirismo nacional. Em 14/9/1974, na linha Norte-Sul  aconteceu  a primeira viagem para o público, apenas em um trecho. Em 11/2/1975  foi realizada pela primeira vez o percurso completo da linha Norte-Sul, que na época finalizava na estação Santana. Somente em 26/9/75 teve início a operação remunerada em toda da extensão, de 17 quilômetros. Nesse primeiro dia, segundo informação da Folha de S. Paulo, viajaram 155.277 pessoas.

Estação Sé do Metrô, um marco

Saindo da estação Sé do Metrô, olhando para a praça com quase 50 mil metros quadrados de área, vamos recordar que para a construção da estação Sé do Metrô aconteceu no dia 16/11/1975, às 7h30 a primeira implosão no Brasil. Foi a do edifício Mendes Caldeira, inaugurado em 1961, projeto dos arquitetos Jorge Zalzupin e Lucjan Korngold, com 27 andares, 30 pavimentos e 354 escritórios. Tinha 11.597 metros quadrados de área construída. Em 5 segundos foi ao chão. Foram necessárias 15 detonações de 1.400 cartuchos de dinamite, totalizando 360 kg de explosivos, gerando 20 toneladas de entulho.

Vamos até o número 411 da av. Brigadeiro Luiz Antônio.  Ali fica o Teatro Renault, que nem sempre teve esse nome. Já foi também Teatro Abril, mas quando inaugurado em 13 de abril de 1929 era chamado Cine Paramount ligado à Paramount Pictures.  Ao ser inaugurado exibiu o primeiro filme falado no Brasil, Alta Traição (The Patriot, com 1h53 de duração). Na fachada da época da inauguração, sobrevivente de vários incêndios, tombada pelo Patrimônio Histórico, consta uma placa mencionando o pioneirismo.

A mesma sorte não teve o luxuoso Cine Theatro Santa Helena, inaugurado em 12/11/1925, demolido para a construção da estação Sé do Metrô. Ali foi exibido em 2/9/1929, pela primeira vez no Brasil, o primeiro filme sonoro brasileiro Acabaram-se os Otários. Ficou 52 dias em cartaz. Somente no dia 26 de setembro é que foi exibido no Rio de Janeiro, então capital do país.

Chegamos agora no Largo S. Francisco. A Faculdade de Direito, criada por decreto de D. Pedro I, em 11 de agosto de 1827, divide com Olinda o pioneirismo nacional. Foi instalada no convento dos franciscanos, único local onde havia salas disponíveis e uma biblioteca, por isso está ao lado das duas igrejas dessa Ordem. O prédio atual, inaugurado em 1931, mas totalmente concluído só em 1941, substituiu o antigo convento e as reformas efetuadas ao longo do tempo.

Com relação à Faculdade de Direito ali tivemos dois pioneirismos nacionais. Em 1903 foi criado o Centro Acadêmico XI de Agosto, o primeiro no Brasil. Teve intensa atividade na vida política e cultural de São Paulo e do Brasil.

Em 4/4/1830 surge o primeiro jornal acadêmico no Brasil. O Amigo das Letras redigido por Josino do Nascimento e Silva, e outros estudantes. Teve 24 edições. Foi o primeiro de vários outros jornais acadêmicos. Antônio Barreto do Amaral publicou o livro Jornalismo Acadêmico onde menciona diversos jornais publicados pelos acadêmicos.

Edu Chaves

Vamos agora até a Rua São Bento. Paramos diante do número 189, uma casa de 3 andares, que  deve ter sido muito luxuosa, pelo tamanho, pelas vidraças, pela porta em pinho de riga toda trabalhada. Antes de se mudar para o palácio que mandou construir (que após seu falecimento virou Palácio dos Campos Eliseos), o grande fazendeiro Elias Chaves morou nessa casa. Ali nasceu em 18/7/1887 seu filho,  Eduardo Pacheco Chaves, conhecido como Edu Chaves. Em 28/7/1911 em Étamps, na França, se torna o primeiro latino americano a ser brevetado pela Escola de Aviação da França.

Ele vai ser protagonista de outros pioneirismos: primeiro brasileiro a voar nos céus do Brasil, primeiro brasileiro a montar uma escola de aviação nos terrenos de sua propriedade, onde fica hoje o Parque Edu Chaves. Como lá havia alagamentos mudou a escola para os campos do Guapira e, sabedor do problema da moradia, doou as terras para a construção de residências populares, com duas condições: que o local levasse o seu nome e que o problema das inundações fosse resolvido (isso só aconteceu bem depois de sua morte, em 21/6/1975).

Graças a Edu Chaves São Paulo tem o pioneirismo de Aviação Militar no Brasil. Lei número 1395 de 17/12/1913. Instalada inicialmente nos campos do Guapira, transferida em 1920 para o Campo de Marte e extinta pelo Governo Federal em 1932 pela participação na Revolução Constitucionalista de 1932.

Bem próximo da São Bento está o atual Farol Santander, que já teve outras denominações: Edifício Altino Arantes e popularmente Banespão. Ali recordamos de um pioneirismo sul-americano: a primeira antena de transmissão de televisão. A TV Tupi, inaugurada em 18/9/1950, foi pioneira na América do Sul e uma das primeiras no mundo. O Brasil foi o quarto pais a ter emissora de TV. O prédio com 161 metros de altura, num ponto bastante elevado era o local ideal para a antena de transmissão. Hoje estão em prédios  na Avenida Paulista, mas na época nela só haviam residências.

Agora nosso destino é o edifício Guilherme Guinle, prédio dos Diários Associados, (já fizemos um post falando de tudo o que aconteceu em prol da Cultura naquele prédio, leia aqui).

A Escola de Propaganda e Marketing, pioneira no Brasil. Em 1952 começou a funcionar o primeiro curso de propaganda do Museu de Arte de São Paulo, que também funcionava no prédio. O projeto foi apresentado em outubro de 1951 por Rodolfo Lima Marthesen.  Em 1961 os currículos são adotados como padrão para o ensino publicitário em toda a América Latina no I Congresso Latino-Americano de Ensino Publicitário realizado em Buenos Aires. Em 1970  foi transformado em curso superior com 4 anos de duração.

Museus que são centros culturais

O MASP, graças às ideias de Lina Bo Bardi, desde o início não tinha como objetivo ser apenas uma coleção de quadros, como Chateaubriand havia idealizado, mas um centro cultural antecipando-se em vários anos ao Centro Cultural Georges Pompidou em Paris.

Em 11/4/1953, no Museu de Arte Moderna, que também ficava no prédio dos Diários Associados, José Renato lança uma companhia de Teatro de Arena, pioneira  no Brasil. Nesse tipo de teatro os atores são colocados no centro da sala de espetáculo, não há cenários e os temas são mais reais. Em 1955 é instalado em  sede própria na Rua Teodoro Baima.

Finalizamos nosso passeio seguindo pela rua Nestor Pestana, em direção à Praça Roosevelt. Onde está o Teatro de Cultura Artística , em terreno que pertencia a Dona Veridiana, São Paulo obteve o pioneirismo nacional: a primeira praça de esportes. Entre 1890 e 1892, sob o comando de Giuseppe Valori, com projeto de Tomazzo Bezzi (autor do projeto do Museu Paulista, o popular Museu do Ipiranga) funcionou um velódromo, local para provas ciclísticas, esporte que estava em moda na Europa. Tinha raia elíptica com 380 metros de extensão por 8 metros de largura. Arquibancada coberta  com 70 metros de extensão, capacidade para quase mil pessoas.

O ciclismo estava em moda na Europa no final do século XIX, início do século XX. A elite cafeeira passava temporadas na França e os netos de Dona Veridiana praticavam lá esse esporte. Então ela manda vir as bicicletas e constrói o velódromo para eles.

Depois, com o chegada do futebol, também passa a sediar partidas de futebol no gramado que existia no centro do velódromo.

Foram ali realizadas partidas do primeiro campeonato paulista de futebol em 1902 e nos anos seguintes. O velódromo foi desapropriado em 1915 para ser aberta a rua Nestor Pestana.

Esses, e vários outros pioneirismos de São Paulo estão no meu livro Quando Começou em São Paulo? 458 respostas pelo Guia de Turismo Laercio Cardoso de Carvalho. Se quiser adquirir um exemplar é só entrar em contato pelo WhatsApp  11 9 98374063.

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