Museu da Imigração destaca memórias e relatos de migrantes em nova mostra permanente

Migrar – Histórias Compartilhadas Sobre Nós, amplia a visão do museu, antes muito focada na imigração europeia entre século 19 e 20, e inclui outros grupos de migrantes

Denize Bacoccina

O Museu da Imigração reabre nesta terça-feira, dia 9 de dezembro, com uma nova exposição permanente. Migrar – Histórias Compartilhadas Sobre Nós, segue a mesma estrutura da anterior, mas inclui outros grupos e novas experiências migratórias, para além dos movimentos oficiais que aconteceram no fim do século 19 e início do século 20 e que resultaram especialmente na vinda ao Brasil de europeus e asiáticos.

“Reaproveitamos parte da expografia por uma questão de sustentabilidade, mas o conteúdo é totalmente novo”, disse ao A Vida no Centro Alessandra Almeida, diretora-executiva do Museu da Imigração. “A estrutura é mais ou menos a mesma, mas é outro conteúdo, completamente diferente.”

Museu da Imigração Foto: A Vida no Centro

A exposição é dividida em onze módulos que abordam aspectos como territórios e fronteiras, viagens, deslocamentos negros e indígenas, imigração no Brasil, migrações internas e diáspora brasileira, mostrando onde vivem os brasileiros ao redor do mundo e como essa diáspora mudou ao longo do tempo. Estados Unidos, Portugal, Paraguai e Japão lideram entre os países com maior comunidade de brasileiros.

A exposição conta com recursos audiovisuais, iconográficos e instalações que mesclam suportes analógicos, digitais e inteligência artificial, quadro em acrílico sobre tela, xilogravuras, cordéis, lambe-lambes, vídeos, HQs e outros. Seis artistas visuais de diferentes origens e trajetórias, que têm suas pesquisas e vivências correlacionadas com aspectos do migrar foram convidados a criar obras para o museu: Adriane Kariú; Paulo Chavonga; Daniel Jablonski; Marcelo D´Salete; Marco Haurélio e Lucélia Borges.

Hospedaria dos Imigrantes

Continuam expostos no Museu da Imigração itens que contam a história da Hospedaria de Imigrantes do Brás, antiga função do prédio do museu até meados do século 20. Entre eles, a instalação que reproduz as camas da antiga Hospedaria. A novidade é que agora as pessoas podem deitar e ouvir relatos e memórias de migrantes que passaram pelo local. As gavetas que guardam cartas históricas também continuam por lá, e algumas contam com narração e Braille. Já a parede de sobrenomes, que também já existia, agora conta com uma reflexão sobre pertencimento e origem e como o sobrenome interfere na vida de uma pessoa, abrindo portas ou o contrário.

Alessandra Almeida, diretora-executiva do Museu da Imigração Foto: A Vida no Centro

“Fizemos um projeto de três anos, com um trabalho de escuta com as comunidades imigrantes que fazem parte do nosso rol – especialistas, ativistas, acadêmicos, instituições e organismos que tratam da temática. E a partir disso tivemos um direcionamento, as linhas de seriam adotadas para a curadoria e tentamos trazer a pessoa como centro da migração”, contou.

A ideia é mostrar que o Brasil, e especialmente a cidade de São Paulo, foi e continua sendo formada por todos os povos que se estabeleceram por aqui, num processo de construção que envolve memórias do lugar de origem e criação de novos laços no novo local de residência.

“O museu é historicamente muito conhecido por conta da migração histórica, da imigração europeia, e quisemos dar luz também à migração dos negros, dos indígenas, dos migrantes nacionais. Muitos migrantes do Norte e do Nordeste que também passaram por dentro dessa hospedaria”, disse Alessandra.

Veja fotos:

Dados expostos numa linha do tempo da hospedaria mostram que entre 1887 e 1908 cerca de 1 milhão de pessoas passaram por lá, a maior parte imigrantes italianos. Nas décadas seguintes, a maioria vinha da Espanha, Portugal e do Japão e nas últimas década aumentou o número de latino-americanos e africanos. “No Observatório MI trazemos essas notícias atuais sobre migração, as coisas que estão acontecendo agora. Um paralelo entre o histórico e o contemporâneo”, conta Alessandra.

Além do prédio histórico, o Museu da Imigração tem um amplo e belo jardim, onde se fazer piqueniques, leituras e práticas de yoga. Tem ainda um café, com área interna e vista para o jardim.

Museu da Imigração

Rua Visconde de Parnaíba, 1.316
Mooca (estação Bresser – Mooca)

Aberto de terça a sábado, das 9h às 18h
Domingo, das 10h às 18h
(bilheteria fecha às 17h)

Ingressos: R$ 16 (gratuito aos sábados)

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