Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
O guia de turismo Laércio Cardoso de Carvalho fala sobre a história da igreja Santa Efigênia, que é oficialmente uma basílica.
Rodolfo García Vázquez, dos Satyros, produtor e diretor do filme junto com Ivam Cabral, diz que eventual boicote ou protesto pode ter efeito contrário, como aconteceu com a filósofa Judith Butler. Leia a entrevista
Por Denize Bacoccina
Peça escrita pelo Marquês de Sade em 1795, “A Filosofia Na Alcova” estreia no cinema nesta quinta-feira, 23 de novembro, numa produção da companhia de teatro Os Satyros. Sim, cinema no singular, já que o filme estará disponível em apenas uma sala e em apenas um horário – 21h10, no cine Belas-Artes. Um sinal, talvez, de que esse momento mais conservador do país tenha assustado os programadores de cinemas – já que tanto o Marquês de Sade quanto os Satyros são conhecidos o suficiente para despertar o interesse do público pela obra, que vem tendo boa acolhida dos críticos de cinema.
O longa-metragem não foi selecionado para a Mostra Internacional de Cinema – a produção anterior do grupo, “Hipóteses para o Amor e a Verdade”, foi até premiado, há três anos, e ficou oito meses em cartaz.
Mas o momento atual da sociedade brasileira – em que performances com pessoas nuas ou mesmo obras de arte sobre sexo chocam e causam escândalo – não preocupa os produtores do filme. “Acho que o Marquês de Sade fez questão que a gente estreasse agora. Ele falou: eu vou esperar dar todo esse escândalo para vocês estrearem. E a gente obedece”, brinca Rodolfo García Vázquez, que junto com Ivam Cabral roteirizou, dirigiu e produziu o filme, encenado por atores da cia de teatro.
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Um eventual protesto, na visão dele, teria o efeito inverso, como aconteceu com a palestra da filósofa americana Judith Butler, que foi de protestos e agredida em sua passagem pelo Brasil por causa de sua teoria sobre gênero – embora tenha vindo participar de um seminário sobre democracia. “Se quiserem nos transformar na nova Judith Butler vamos ficar mais conhecidos”, diz ele.
O grupo vem levando a peça aos palcos teatrais desde os anos 1990. Primeiro na Europa e, depois, na sede do grupo na Praça Roosevelt. Atualmente, outro texto de Sade, 120 Dias de Sodoma, está em cartaz, sem provocar nenhuma comoção no público.
O filme conta a história de Eugénie, uma jovem virgem que vai receber, a pedido do pai, aulas téoricas e práticas de libertinagem de Dolmancé e Juliette. Publicado clandestinamente em 1795, “A Filosofia na Alcova” transformou-se em um dos mais famosos romances da época.
Ele sintetiza todas as principais ideias do universo literário do Marquês de Sade: a busca radical do prazer egoísta, a falta de moralidade no universo natural e o sexo como o centro da pulsão humana. No filme, cenas de sexo e discussões filosóficas se alternam, revelando uma grande semelhança entre as questões morais colocadas no final do século 18 e este início de século 21.
Nesta entrevista ao projeto A Vida no Centro, Rodolfo fala sobre as expectativas para o filme e as experiências que já teve com a peça teatral em apresentações na Europa.
O filme contém a maior cena de orgia já filmada no Brasil, com 60 integrantes. E sai num momento em que estamos vendo censura a obras de arte, exposições. Que tipo de reação vocês esperam?
Nós já passamos por muitas situações com a peça teatral Filosofia na Alcova, em cartaz desde os anos 1990. Para nós faz parte do jogo.
O momento atual é que está um pouco diferente.
Acho que o Marquês de Sade fez questão que a gente estreasse agora. Ele falou: eu vou esperar dar todo esse escândalo para vocês estrearem. E a gente obedeceu. (risos)
Vocês estão preparados para mobilização, boicote, coisas desse tipo?
Todo esse escândalo que está acontecendo está muito relacionado à questão da criança e do adolescente. Criança não pode ir em exposição, criança não pode tocar em perfomer nu. Acho que está muito em cima disso, de assuntos que na opinião deles não devem ser abordados na frente de crianças. Como nosso filme é para adultos (censura 18 anos), não acredito que desperte uma fúria como nesses outros caros. Se despertar, aí acho que a gente vai entrar num campo bastante perigoso, que é a censura. Na verdade, já estamos. A experiência da Judith Butler eu acho que foi um tiro pela culatra, porque tornou a obra dela muito mais conhecida no Brasil. O que era para ser um boicote acabou gerando uma curiosidade e daí as pessoas foram estudar e ler Judith Butler por causa do escândalo. Acabou funcionando como uma propaganda. O Marquês de Sade é muito atual.
Este texto é do fim do século 18. O que ele tem de hoje?
É uma adolescente que se apaixona por uma mulher e esta mulher é uma grande libertina. Ela tem um pacto com o pai da menina, e ele pede que a mulher ensine a ela tudo sobre libertinagem. Já a mãe da menina é uma mulher muito religiosa. Quando ela chega à casa dos libertinos, eles vão dar uma perspectiva diferente sobre o que é moral, o que é ético, o que é correto ou não. Na verdade, ela vai ter aulas de moral, de ética, mas de um ponto de vista libertino. E eles vão trazer para ela o que realmente vale na vida e como a hipocrisia moral é um jogo de poder. Isso é a parte filosófica. A formação dessa jovem para este mundo, onde ela entende a hipocrisia moral e descobre que tem que lutar para ter uma vida de prazer. Muito atual. Só que nós estamos falando de 1795. Mas o texto parece que está falando de agora, desta semana em Brasília.
Tem uma adaptação para esta cena contemporânea?
Temos uma mistura de época, tem carruagem e tem helicóptero. O texto tem algumas referências a coisas contemporâneas, como internet, apresentadora de TV. Mas os personagens do Sade eram bispos, duques, pessoas que tinham cargos públicos. Ele faz uma crítica à usurpação do poder, mas ao mesmo tempo diz que eles é que estão certos, que a gente tem que defender o nosso prazer e a luta é acima de tudo egoísta. Sade é um autor muito complexo do ponto de vista filosófico. Metade do filme é uma discussão filosófica. A outra metade é a formação, aulas práticas. Tem uma combinação explosiva do discurso, altamente ácido, provocador, e as imagens do sexo. A tendência é as pessoas acharem as imagens chocantes. Mas essas imagens estão dialogando com o texto que está sendo dito. Ela discute onde está o mal, e onde está o mal hoje. Essa discussão é bastante contemporânea. A gente não quer dar respostas, mas trazer questões para as pessoas pensarem.
Você acha que essa grande orgia pode ter o efeito de afastar as pessoas, ou de atrair um público que só quer ver cenas de sexo?
Sade é altamente complexo, mas é o tipo do autor que você pode fazer muitas leituras. Tanto a pessoa que nunca foi ao cinema pode achar o filme sensacional, como a pessoa que estuda filosofia pode gostar muito. Tem muitas camadas. É claro que a cena da orgia chama a atenção, como outras. Mas vivemos um tempo de muito dessensibilização. Se você vê os filmes de Hollywood, quantas explosões, quantas pessoas morrem. Neste filme, só uma pessoa morre. Mas em Hollywood normalmente tem uma violência justificada moralmente porque é o mocinho que está defendendo um bem maior. Neste, só uma pessoa é assassinada, mas é mais chocante.
Eu li que vocês falaram que estavam preocupados com uma perseguição pessoal.
Nós já fomos perseguidos, quando apresentamos a peça na Europa, em 1993. As pessoas estão trabalhando hoje muito com o discurso do ódio. Quando a gente estreou na Escócia, no Festival de Edimburgo, metade da plateia saiu no meio. E no fim da apresentação o dono do teatro perguntou se era sexo ao vivo ou se era teatro. Falamos que era teatro e ele disse que se fosse sexo ao vivo teríamos problemas. E no final, o carro da polícia nos seguiu até em casa, e isso se repetiu nos 21 dias que ficamos em cartaz. E o segundo foi em Kiev, na Ucrânia. Estreamos, o ministro da Cultura estava na plateia. Os críticos diziam que o espetáculo era libertador. Fizemos três dias, no quarto foi cancelado.
No Brasil nunca teve problema?
Tivemos uma manifestação no Festival de Curitiba. Aqui, nos Satyros, nunca. Estamos com 120 dias de Sodoma em cartaz. Se quiserem nos transformar na nova Judith Butler vamos ficar mais conhecidos.
O filme custou R$ 200 mil. Como foi financiado?
Totalmente por nós, sem nenhum recurso público ou lei de incentivo. Tivemos alguns apoios e esse orçamento foi diluído em dois anos. Conforme foi entrando dinheiro fomos fazendo. E muita gente não recebeu para fazer o filme. Fez por acreditar no projeto.
Vocês tiverem participação em festivais negada?
Na Mostra Internacional de Cinema o filme não foi aceito. Eu acho estranho, porque a gente se inscreveu com o primeiro filme e fomos indicados para um prêmio. Ficamos oito meses em cartaz com o “Hipóteses para o Amor e a Verdade”, há três anos. Pensamos que agora seríamos aceitos.
Veja trailer do filme:
Qual é a sua expectativa em relação ao público?
Não sei. No Mix Brasil (pré-estreia, na semana passada) as pessoas gostaram muito. Espero que não sejam apenas eles.
E como está a preparação par ao próximo filme, Pessoas Perfeitas?
Estamos querendo filmar no ano que vem. O “Pessoas Perfeitas” começou como um roteiro de cinema. Aí fizemos a peça, que ganhou muitos prêmios. E resolvemos voltar para o cinema. É um modo de produção muito diferente do cinema tradicional. Este filme só foi possível porque foi feito desta maneira, um modo de produção mais teatral, mais artesanal. E isso dá mais liberdade. Este filme jamais seria possível com um patrocínio do Banco do Brasil, por exemplo. E isso acho que nos protege também das críticas, porque não tem dinheiro público. Embora o dinheiro público seja de todos: também dos maconheiros, do pessoal do candomblé, dos homossexuais. O dinheiro público é de todo mundo que paga imposto.
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