Fundador do Oficina fala em entrevista exclusiva ao A Vida no Centro sobre a mobilização para transformar o terreno de Silvio Santos em Parque do Bixiga. Saiba mais
Por Denize Bacoccina
O diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, fundador do Teatro Oficina, quer mobilizar a sociedade para transformar o terreno de Silvio Santos, vizinho ao teatro, em Parque do Bixiga. A disputa com o apresentador de TV se arrasta desde os anos 1980. O Oficina foi fundado em 1958 e, em 1966, depois de ter a sede destruída por um incêndio, foi reconstruído com o projeto da arquiteta Lina Bo Bardi (a mesma que desenhou o Masp e o Sesc Pompeia).
Desde 1982, o teatro é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), o que vinha impedindo construções no terreno vizinho. Em 1983 o teatro foi desapropriado pelo Estado e seu prédio passa a integrar o domínio público como um espaço destinado à ação cultural, sob a direção do Oficina.
Em outubro, porém, o órgão autorizou que Grupo Silvio Santos construísse três torres no terreno, praticamente cercando o Oficina. Simulações feitas pelo teatro indicam que o local receberia apenas duas horas de sol por dia se as torres de 100 metros forem construídas.
Desde então, Zé Celso vem mobilizando artistas e a população de um modo geral para tentar evitar que o projeto seja realizado e o terreno se transforme no Parque do Bixiga. No dia 26 de novembro ele promoveu um grande abraço no quarteirão em volta do Teatro Oficina, num ato batizado de Domingo no Parque.
A Vida no Centro conversou com José Celso sobre a disputa e sua expectativa na negociação com Silvio Santos. Um vídeo da última reunião, com a participação de Zé Celso, Silvio Santos e João Dória mostra o prefeito tentando encontrar uma solução entre os dois lados, e Silvio Santos inflexível sobre sua decisão de seguir adiante com a construção.
A Vida no Centro – Como você acha que vai resolver essa pendência com o Silvio Santos?
Zé Celso Martinez Corrêa – Vai resolver com o apoio da multidão. Com o desacovardamento de todos, de toda a sociedade que está no andar de baixo. Não acredito que virá nada de cima. Mas pode ser que tenha uns caras que se abram e compreendam que a vida é mais importante do que o dinheiro, que a natureza aberta é muito mais importante.
Você acha que o Silvio não vai compreender isso?
Não. Pode ser, viu. Ele está louco. Ele está boçalnaurista.
Teve aquela reunião na prefeitura. Como você está vendo a postura do prefeito João Dória?
Justamente, eu consigo conversar com ele.
Ele parece estar a favor de uma solução. Qual é a sua avaliação?
Pareeece. Mas sei lá, ele tem feito coisas tão esquisitas lá.
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Mas ele prometeu alguma coisa?
Eu vou ligar pra ele. Ele me ligou a semana passada. Eu não saquei muito bem porque ele me ligou, dizendo que lamentava que tivesse sido divulgado a coisa do Silvio Santos.
Vocês que divulgaram?
Eu passei para a Monica Bergamo, que divulgou. Eu nem sabia que iam divulgar.
O Dória ficou chateado?
Ele também pode ter ficado, mas quem ficou foi o Silvio Santos, que tinha um almoço marcado e desmarcou. Não com ele, com um diretor.
Arte em defesa do Parque do Bixiga distribuída nas redes sociais
E sem acordo, o que acontece com o Oficina?
De qualquer maneira eu sei que aquele terreno está fadado a ser o parque do Bixiga. Independentemente de acordo com o proprietário. É o Estado que tem que dizer. Se não for o Estado, tem que ser nós. É um processo.
Qual é a postura do governo do Estado?
O Estado acabou de ceder o terreno. Contrariou o Condephaat. Eles não sabiam onde estavam mexendo. Como a repercussão está muito grande, eles estão querendo encontrar um jeito. O secretário da Cultura é do Partido Verde, mas eles passaram a bola para o município, porque parece que só o Dória pode trocar. Eu falei com o Doria por telefone.
Você acha que o Silvio Santos está meio chateado porque ele vem perdendo essa disputa há 30 anos?
Não, ele estava ótimo. Deu um chilique nele depois do impeachment. É a paranoia dos ricos. Eles estão provocando toda a população do andar de baixo. Eles sabem que as pessoas reagem.
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