A Vida no Centro

Painel 1 - Negócios de Impacto Social: o que são e o que isso tem a ver com Centro? Palestrantes: Ricardo Podval - CEO da CIVI-CO, polo de impacto social, Marcelo Linguitte - Head de Parcerias Estratégicas, Projetos e Mobilização de Recursos da Rede Brasil do Pacto Global (ONU), Elissa Fichtler - Área de Parcerias e inovação do Pimp My Carroça, Alexandre Mutran - Gerente de Comunicação Regional da TV Globo, Mediação de Clayton Melo (A Vida no Centro). Festival a Vida no Centro que aconteceu nos dias 09 e 10 de novembro (sábado e domingo) com debates, arena infantil, shows, festa com DJ, feira preta pocket, passeios guiados pelo centro histórico. FOTO TIAGO QUEIROZ/ AVIDANOCENTRO
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Veja como foi o Diálogos – Especial Festival A Vida no Centro

Diálogos A Vida no Centro teve boas conversas sobre gastronomia, diversidade, negócios de impacto social e atividade física; painéis foram realizados no CCBB e na Bio Ritmo durante o Festival A Vida no Centro

Maisa Infante

Conversas sobre gastronomia, diversidade, negócios de impacto social e atividade física fizeram parte da programação do Festival A Vida no Centro, que aconteceu nos dias 9 e 10 de novembro de 2019 no Centro Histórico de São Paulo. Além da programação de música e cultura, quem aproveitou o fim de semana para curtir o centro de São Paulo pode participar de debates da edição especial do Diálogos A Vida no Centro, no auditório do Centro Cultural Banco do Brasil e na academia Bio Ritmo.

Quem abriu a programação de conversas e debates foi o coordenador da Secretaria de Turismo e Casa Civil, Vander Lins, falando sobre como a ocupação do centro da cidade com eventos é importante para o desenvolvimento do território. “Só assim as pessoas vão conhecer e se apropriar deste espaço”. Por isso, ele disse, ao receber a proposta do Festival A vida no Centro houve uma sinergia imediata. “Quando nos encontramos com o Clayton Melo e a Denize Bacoccina, o festival já existia e quisemos muito estar juntos. Porque é preciso que vários atores pensem em projetos, não apenas o poder público”, disse.

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Cid Torquato, Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência, também participou da abertura do evento e falou sobre a importância do olhar para as calçadas da cidade. “Calçada não pode ser um investimento espasmódico. É preciso investir todos os anos, sistematicamente, afinal é o único elemento da rua que une a todos”, disse. O secretário contou sobre o trabalho de articulação dentro da secretaria para fazer uma grande reforma nas calçadas do centro de São Paulo e lançar o conceito de “São Paulo – a capital do turismo acessível”. “Tem que deixar tudo acessível e fazer com que São Paulo seja uma cidade que todos possam usar”, afirmou.

Acompanhe o que aconteceu em cada um dos painéis do Diálogos – Especial Festival A Vida no Centro:

Negócios de impacto social: o que são e o que isso tem a ver com o centro?

Com a mediação de Clayton Melo, Ricardo Podval, CEO do CIVI-CO; Marcelo Linguitte, head de parcerias estratégicas, projetos e mobilização de recursos da rede brasil do Pacto Global (ONU); Elissa Fichtler, da área de parcerias e inovação do Pimp My Carroça; e Alexandre Mutran, gerente de comunicação regional da Globo, falaram sobre como os negócios com foco no social são uma importante ferramenta para a transformação econômica e social.

À frente do CIVI-CO, polo de negócios de impacto, Ricardo Podval salientou a importância do trabalho em rede para transformar realidades, principalmente se houver uma aproximação entre o poder público e os empreendedores, que cada vez mais percebem que têm um papel de não apenas oferecer um produto ou serviço, mas também atuar pela transformação da sociedade. “As empresas já entenderam que fazem parte do problema das cidades e precisam trabalhar para transformar realidades. Uma nova geração vai parar de consumir se os produtos não estiverem alinhados com a crença do consumidor”, disse. E os negócios de impacto trabalham para gerar benefícios tanto para o empreendedor como para a sociedade, em uma via de troca fundamental para o desenvolvimento de pessoas e lugares. Além destes empreendedores e sociedade civil, o governo também tem o papel de olhar para as startups que estão desenvolvendo negócios e ajudá-las a crescer e ganhar escala, muitas vezes saindo de um território pequeno para ganhar o mundo.

Elissa Fichtler contou a história do Pimp my Carroça, um negócio de impacto que nasceu no centro de São Paulo em 2012 para valorizar o trabalho dos catadores de lixo reciclável por meio da arte. Ela salientou que os catadores são responsáveis por 90% do que se recicla no Brasil, o que mostra a importância de valorizar o trabalho dessas pessoas, muitas vezes invisíveis aos olhos que quem passa por elas no dia a dia.

Nascido no centro, o Pimp my Carroça é um trabalho que se espalhou pela periferia de São Paulo, mas também para outras cidades, inclusive da América Latina, já que possui duas sedes na Colômbia. Tem ainda o aplicativo Cataki, que conecta catadores aos geradores de lixo reciclável, um exemplo de como a tecnologia pode amplificar a atuação de uma iniciativa. “É uma cadeia em que todos ganham. E isso é muito importante porque, hoje, enterramos nos aterros 7 bilhões de reais em recursos. Ou seja, temos aqui uma questão econômica importante para ser olhada”, afirmou.

Alexandre Mutran falou um pouco sobre projetos da Globo que ajudam a conectar as pessoas aos territórios, como projetos que levam artistas para as ruas e também o Verdejando, que neste ano fez um plantio de mil árvores no Parque Dom Pedro, bem ao lado do metrô. “É preciso ocupar o Centro com coisas que interessam. Só assim as pessoas vão olhar para esse espaço com pertencimento e não com medo”, disse.

Marcelo Linguitte ressaltou que as cidades são um dos principais temas quando o assunto é sustentabilidade econômica e social porque, afinal, o consumo e o estilo de vida das pessoas acontece dentro das cidades. Ele também falou que, de alguma forma, todas as ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) conversam com as questões urbanas e devem ser usadas como um norte para que pessoas e empresas reflitam sobre seus hábitos e comportamentos e promovam as mudanças necessárias. “Não dá pra falar em sustentabilidade sem pensar em sustentabilidade urbana”, diz.

Veja fotos:

Como a gastronomia está transformando o centro de São Paulo

A jornalista Denize Bacoccina, cofundadora do A Vida no Centro e mediadora do debate, abriu o painel lembrando que a região central tem quase 10% dos restaurantes da cidade e que a gastronomia vem crescendo fortemente nesta região nos últimos anos.

Carolina Lafemina, secretária-adjunta de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, expôs alguns números de um pesquisa feita em 2016 que mostra como a cena gastronômica de São Paulo é pujante e cheia de potencial. A cidade é a segunda do mundo em número de restaurantes, com mais de 23 mil estabelecimentos de gastronomia que empregam cerca de 370 mil pessoas. E o Centro tem se mostrado uma área onde as novidades gastronômicas chegam e se estabelecem, o que contribui para que mais pessoas frequentem e ocupem as ruas. “Isso é uma grande oportunidade de revitalizar o Centro e também gerar renda a partir da gastronomia”, disse.

Janaína Rueda, criadora e chef do Bar da Dona Onça, contou que tem uma relação antiga com o Centro, já que nasceu no Brás, morou no Bixiga e aprendeu a andar de bicicleta no Copan, e que vê essa cena gastronômica como um elemento que oferece a oportunidade de a vida acontecer nas ruas, o que deixa o local mais vibrante e interessante. Ela ressaltou que é preciso olhar com cuidado para aquelas pessoas que já vivem e já empreendem no Centro para que não aconteça a gentrificação. “Precisamos conviver com essa diversidade, além de olhar para aqueles restaurantes que já estão aqui há anos e tomar cuidado para que não fechem as portas. O Centro precisa de todos eles”.

Dani Borges inaugurou o restaurante de comida vietnamita Bia-Hoi em 2017, na rua Rego Freitas, e está feliz em ver que a aquela região vem se transformando com o surgimento de novos negócios que levam vida e dinheiro para a região.

“Com mais opções, mais gente vem para o Centro e quem já mora na região tem mais opções de lazer perto de casa. Isso gera uma transformação muito grande porque as pessoas começam a ficar mais abertas ao centro”, disse. Ela lembra que, no começo, quando ela fazia jantares no apartamento em que morava, na Avenida São Luís, muita gente vinha para o Centro com o olhar curioso de ver como era viver nessa região de São Paulo. “Hoje, as pessoas já chegam com a intenção de aproveitar e se divertir”.

Empreendedor recente no Centro, Rodrigo Couto abriu a primeira hamburgueria do Centro Histórico, a Brgr Burger, justamente porque sentiu que faltava esse nicho na região. Ele também acredita no potencial do Centro como um catalisador de pessoas e negócios. “Em qualquer lugar do mundo, o centro seria o melhor lugar da cidade. Precisamos fazer com que seja o melhor lugar aqui também”, disse.

O vereador Police Neto participou do debate e contou que espera disponibilizar para os empreendedores, em 2020, uma lei que vai oferecer incentivos para a instalação de micro cervejarias na região central. O projeto já foi aprovado em três comissões e, agora, precisa passar pela Comissão de Finanças. “A cerveja é uma paixão nacional, o Centro tem muitos estabelecimentos que consomem cerveja e a ideia é produzir próximo de onde há o consumo para ter um produto mais fresco e uma logística mais simples”, contou. Ele acredita que esses estímulos ao empreendedorismo no Centro vão deixar a região ainda mais pujante e interessante. “A cultura gastronômica ajuda a trazer as pessoas de volta para o centro e precisamos estimular isso cada vez mais”.

O impacto da diversidade no centro de São Paulo e os benefícios da pluralidade para o desenvolvimento

O painel sobre diversidade foi mediado pelo jornalista Rosenildo Ferreira, da aceleradora Vale do Dendê, de Salvador. Na mesa, Michel Farah, da Social in, empresa especializada em inclusão social, falou sobre como é importante “praticar o centro” no dia a dia, ou seja, lidar com a diversidade que, no território central, apresenta-se naturalmente. “O Centro aprendeu a lidar com a migração urbana. É um território que recebe um milhão de pessoas por dia”, disse.

Ele ressaltou que seria importante para essa região um trabalho de inclusão digital e acessibilidade da informação, para que os espaços sejam ocupados por empresas de tecnologia com capacidade de oferecer mais emprego e diversidade.

“Hoje, os prédios do Centro não têm capacitação para receber empresas de alta tecnologia, como as de games, porque não tem banda. Então, é preciso arranjar um formato com a iniciativa privada para a inclusão digital, que vai gerar mais trabalho e mais diversidade”.

Vera Santana, produtora-executiva da Feira Preta, falou sobre a inclusão dos negros e também dos imigrantes no ecossistema empreendedor. Ela, que mora na região central de São Paulo e já trabalhou com diversidade em vários lugares, incluindo o Teatro Municipal, está desenvolvendo um projeto chamado Gentilização, uma plataforma para abrigar histórias de pessoas e gentilezas. “Hoje temos excesso de raiva e gentrificação e falta de gentileza. Então, queremos abrir espaço para mostrar o que é possível fazer para vivermos juntos”, diz. Esse trabalho passa pela cultura negra e também pelos imigrantes, que chegam à cidade e muitas vezes se abrigam na região central.

Para fechar a conversa, o mediador da mesa, Rosenildo Ferreira, disse: “O Centro vai ser o que a gente quiser que seja”.

A importância da atividade física e os riscos do sedentarismo

No domingo de manhã, dentro da Bio Ritmo da Rua 15 de Novembro, a mediadora Denize Bacoccina apresentou o dado da Rede Nossa São Paulo de que 48% dos paulistanos não praticaram atividade física nos últimos 12 meses, algo preocupante, já que o sedentarismo está associado a doenças sérias como diabetes, obesidade e depressão.

O consenso entre os debatedores foi de que a atividade física precisa fazer parte da rotina das pessoas e isso começa com encontrar prazer no exercício.

Para Juliano Ceglia, criador da Casa do Atleta, as pessoas precisam mudar hábitos e para que isso aconteça elas precisam encontrar informações reais. “O fitness foi um dos mercados que mais cresceu durante a crise, mas é para poucos. Aquele corpo perfeito que aparece acaba assustando as pessoas e o que a gente precisa é mostrar que exercício é para todo mundo”, disse. Ele acredita que só assim as pessoas vão mudar hábitos e entrar em um círculo virtuoso de mudança de estilo de vida, que é quando o hábito é incorporado e se torna parte da rotina sem sofrimento.

O médico Paulo Kertzman, coordenador no Brasil do movimento Exercício é Remédio, formado por médios que prescrevem exercício físico como parte do tratamento, acredita que a mudança no comportamento das pessoas precisa começar por uma mudança no comportamento dos médicos, que deveriam parar de receitar repouso e receitar atividade física moderada. “Todos os médicos deviam deixar no fim da receita um “vá caminhar” para os pacientes”, disse.

A mediadora Denize Bacoccina provocou o profissional para falar se todo mundo precisa passar por um médico antes de se exercitar, como muitos dizem. E a resposta foi que não. “Se a pessoa quiser correr 10 km, vai precisa passar pelo médico, mas caminhar é uma coisa que todo mundo pode fazer. E 30 minutos por dia já tem um efeito muito benéfico na saúde. O que a gente precisa é tirar as barreiras e deixar as pessoas se exercitarem”, disse.

Sílvia Gonçalves, da ONG Atletas pelo Brasil, levou para o debate a questão das políticas públicas, que precisam ser integradas para chegar com qualidade às pessoas e gerar boas experiências com o esporte, seja nas aulas de Educação Física ou nos centros esportivos. Outro ponto importante é a população reconhecer a atividade física como um direito para, assim, poder cobrar do governo as políticas que estimulem a prática de esporte. Silvia contou que os dados mostram que mais de 50% das pessoas reconhecem a importância da atividade física, mas dizem que não praticam por falta de tempo. Tem também a questão da desigualdade, que afeta o acesso a espaços e políticas públicas. “Tenho certeza que uma mudança de impacto vai acontecer quando todo cidadão brasileiro puder se desenvolver pelo esporte. Mas, para isso, é preciso investir em um planejamento conjunto entre diversas áreas do governo”.

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