Secretária de Urbanismo defende demolição do Minhocão; prefeito ainda estuda o que fazer

Secretária Elisabete França defende a demolição do Minhocão após a extensão da Avenida Marquês de São Vicente, já em projeto.

Denize Bacoccina

A secretária de Urbanismo e Licenciamento, Elisabete França, defende a demolição do Minhocão depois que a Prefeitura concluir as obras de extensão da Avenida Marquês de São Vicente até o Tatuapé, prevista para os próximos anos.

“Eu sou a favor da demolição, já escrevi artigos sobre isso”, afirmou em entrevista ao A Vida no Centro a secretária, após uma cerimônia em que o prefeito Ricardo Nunes havia mencionado a defesa da secretária pela derrubada do viaduto, construído em 1970, durante o governo Paulo Maluf, na ditadura militar, quando os governadores não eram eleitos, mas indicados pelo presidente da República. Elisabete França é arquiteta, mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela USP e doutora em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie e professora do Mackenzie e já foi secretária municipal de Mobilidade e Transportes em 2020 e Superintendente de Habitação na Secretaria de Habitação em 2012.

O próprio prefeito disse que ainda não tinha posição fechada sobre o assunto, e que a população seria consultada após a conclusão das obras na Marques de São Vicente e a avaliação do fluxo de veículos pelo Centro. “São temas complexos e polêmicos da sociedade. Mesmo dentro da Prefeitura temos algumas divergências”, afirmou, apontando a secretária de Urbanismo como a defensora da demolição dentro da equipe.

Assista no Instagram a entrevista da secretária:

Subvenção para retrofits para habitação social

O prefeito lançou nesta quarta-feira, dia 16, a terceiro chamamento público de apoio ao retrofit de edifícios no centro, com foco em habitação social. O investimento previsto é de R$ 200 milhões, no modelo de subvenção, a fundo perdido, para cobrir até 25% do custo das obras de retrofit de empreendimentos antigos. De acordo com a Prefeitura, o foco é ampliar a oferta de moradias na região, com prioridade para habitação social.

A Lei nº 17.844/2022, que institui e regulamenta a Área de Intervenção Urbana (AIU) do Setor Central, permite ao Poder Executivo promover chamamentos públicos para a concessão de subvenções econômicas. O Programa Requalifica Centro (Lei nº 17.577/2021) conta com um investimento total de R$ 1 bilhão para impulsionar a requalificação de imóveis na região.

Dois lotes de R$ 100 milhões já foram anunciados em editais anteriores, em novembro de 2023 e maio de 2024. Até o momento, 15 projetos de requalificação foram credenciados, sendo três no primeiro chamamento e 12 no segundo. Desses, dois edifícios serão destinados exclusivamente a famílias com renda mensal de até três salários-mínimos (HIS-1).

Empresários que atuam em projetos de retrofit na região têm reclamado de lentidão e dificuldades burocráticas para conseguir a liberação dos recursos, mesmo com a apresentação da documentação. Na cerimônia de anúncio do novo edital o prefeito Ricardo Nunes disse que o processo foi aprimorado para privilegiar os projetos voltados à moradia de até 3 salários-mínimos (HIS-1) e entre 3 e 6 salários-mínimos (HIS-2). O empreendedor deve se comprometer a manter a categoria de uso do imóvel por um período mínimo de dez anos.

O evento foi realizado num prédio recém-retrofitado pela empresa Citas, que faz retrofits residenciais para aluguel. “O mercado imobiliário ainda é muito focado em compra e venda de imóvel”, disse Isadora Rebouças, fundadora da Citas, que só trabalha com aluguel e cobra em torno de R$ 1,6 mil pelo pacote que inclui condomínio. Ela contou que não teve nenhum benefício nas obras do Edifício Taquari, na Avenida Ipiranga, e pediu o apoio do poder público para reduzir os custos dos retrofits, o que permitiria diminuir o número de imóveis ociosos que poderiam ser adaptados e virar moradia, atendendo a um público que não tem dinheiro para comprar um imóvel, mas quer morar no Centro para ficar mais perto do trabalho ou do estudo.

“Nem todo mundo quer comprar e nem todo momento de vida é para comprar. Tem que gente que só quer chegar na faculdade em menos de duas horas. E essa pessoa também pode morar bem”, afirmou. “Eu não quero fazer um prédio, eu quero fazer 50. Eu quero trazer 10 mil pessoas pra morar no centro. Mas pra isso eu não posso cobrar R$ 5 mil de aluguel. A população não tem essa renda. A gente precisa fazer um produto que seja acessível, pra que mais gente possa morar no Centro”, disse Isadora.

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