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Ex Africa, em cartaz no CCBB até 16 de julho, mostra face atual do continente ainda pouco conhecido dos brasileiros
A África contemporânea, tão pouco conhecida no Brasil, está em cartaz em uma ampla exposição no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB SP). Maior exposição de arte contemporânea africana já realizada no país, a Ex Africa traz à capital paulista nomes que são destaque na cena artística atual, cujas obras revelam, como nenhuma outra, a história e o novo momento do continente que, ao mesmo tempo em que tenta se reconstruir da ferida causada por séculos de tráfico negreiro e de colonização, volta a expandir as suas cores e cultura para outras fronteiras. A exposição fica em cartaz até o dia 16 de julho, com entrada gratuita.
São mais de 90 obras assinadas por 20 artistas expostas pelos andares do CCBB SP até 16 de julho. São esculturas, fotografias, instalações, performances, pinturas e vídeos que traçam um microcosmo da África de ontem e de hoje, por meio de quatro eixos distintos: Ecos da História, Corpos e Retratos, O Drama Urbano e Explosões Musicais.
“A interseção desses eixos mostra que o continente africano vive um contínuo e efervescente processo de renovação criativa e artística”, sublinha o curador da exposição, Alfons Hug, que foi diretor do Instituto Goethe em Lagos, na Nigéria, e tem um extenso trabalho de pesquisa sobre a arte desse continente.
O nome e o conceito da exposição vieram da frase Ex Africa semper aliquid novi (da África sempre há novidades a reportar), cunhada há mais de 2 mil anos pelo escritor romano Caio Plínio. São essas novidades que estão expostas no CCBB.
Entre os artistas, o ganês Ibrahim Mahama – autor de uma gigantesca instalação na entrada do CCBB –; o provocativo retratista senegalês Omar Victor Diop, o fotógrafo e ativista zimbabueano Kudzanai Chiurai. Outros 15 artistas de oito países africanos se juntam aos de dois brasileiros: Arjan Martins e Dalton Paula. Afrodescendentes, Arjan e Dalton possuem obras dedicadas à herança africana na cultura brasileira. Para isso, realizaram estudos no Brazilian Quarter, bairro em Lagos construído por brasileiros que retornaram ao continente após a abolição da escravatura, no final do século 19.
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“A exposição acontece num momento em que a herança africana volta a estar em evidência. Existe uma maior valorização da arte africana e afro-brasileira, porque a presença negra nessa cultura vem aumentando em quase todas as áreas. Além disso, os artistas africanos consideram o Brasil um país irmão e o intercâmbio cultural vem se intensificando aos poucos”, destaca Hug.
Uma crítica ácida ao colonialismo e ao tráfico de escravos estão em Ecos da História, primeira parte da exposição. Nela, destaca-se uma instalação formada por objetos do tempo do comércio de escravos (algemas, ferros de marcar, moedas, mandados de captura). Assinada pela artista nigeriana Ndidi Dike, a obra propõe uma obscura viagem no tempo, época impiedosa, marcada pelo sofrimento humano e pela cobiça.
As obras sugerem ainda uma reflexão amarga sobre a relação entre a pobreza, o desemprego, as recentes migrações e aspectos relacionados aos tempos dos navios negreiros. Não deixam de lembrar as imposições de uma cultura religiosa ocidental e herança colonial, evidenciada na série de fotografias de Leonce Raphael Agbodjelou, artista do Benim. Em parte de sua obra, ele evoca o Code Noir, decreto em que a administração colonial francesa da África Ocidental regulava a escravatura.
Veja algumas imagens da exposição:
Paisagens desoladoras, ordem e caos, modernidade e ruínas. Esses e tantos outros contrates das metrópoles africanas estão nas obras de O Drama Urbano. Um dos destaques vai para a videoinstalação Ponte City, nome de um arranha-céu no centro de Joanesburgo. Assinada pelos artistas Mikhael Subotsky e Patrick Waterhouse, a obra é composta por 12 janelas digitais que simulam a vista do edifício marcado por histórias de decadência e gentrificação.
Karo Akpokiere, nascido em Lagos (maior cidade da Nigéria e uma das maiores do mundo) assina ilustrações, com fortes elementos da cultura pop, que fazem uma sátira à miríade de anúncios publicitários que invadem diariamente a megalópole e refletem modismos, o mercado e suas desigualdades, a política e negociatas de toda natureza.
Cabelos trançados que lembram delicadas esculturas; retratos com ares ironicamente pomposos remetem a notáveis africanos que atuaram na Europa entre os séculos 16 e 19. A força expressiva da estética corporal está nas fotografias, vídeos e instalações de Corpos e Retratos, recorte que traz os famigerados autorretratos do senegalês Omar Victor Diop e a série Hairdo Revolution (revolução do penteado), com fotografias em preto e branco do nigeriano J. D. Okhai Ojeikere.
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Outro destaque do eixo Corpos e Retratos é a arte multifacetada do angolano Nástio Mosquito. Por meio de vídeos, performances, música experimental, instalações e poesia, o artista levanta questões em torno da fé, identidade, herança colonial, entre outros temas. “Para onde queremos ir? O que queremos construir?”, ele pergunta. “Não seja cool, seja relevante. E se conseguir ser cool de maneira relevante, melhor ainda”, diz. Na mostra ele apresenta uma videoinstalação da música Hilário.
Do afrobeat de Fela Kuti, ao pop nigeriano, Explosões Musicais transforma uma das galerias de “Ex Africa” no “Clube Lagos”. Poder, sexo, riqueza e religião são temas habituais da música africana e ganham relevância nesta sala onde os clichês da world music dão lugar à autenticidade do Naija Pop. O New Afrika Shrine, de Femi Kuti, muito popular na cena nigeriana, também está entre os destaques.
Serviço:
Ex Africa
CCBB
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro – São Paulo
Até 16 de julho de 2018
De quarta a segunda-feira, das 9h às 21h
Entrada gratuita
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