Quando o chão vira texto
A historiadora e antropóloga Paula Janovitch fala sobre a "gramática dos caminhantes", que pode ser percebida ao se andar a pé pela cidade.
A jornalista Luiza Pastor, moradora da Praça Roosevelt, defende uma conciliação para que todos aproveitem o local, sem preconceitos e rusgas inúteis
Por Luiza Pastor
Pois então, vem aí mais um Carnaval. Com ele, as multidões de foliões que, nos últimos anos, têm ocupado as ruas de São Paulo, despertando doses iguais de amor e ódio. Amor de quem se esbalda na festa, solta seus demônios, libera suas fantasias. Ódio de quem mora nas imediações das áreas tomadas de assalto pela baderna, o lixo e dejetos pessoais os mais variados, um mais fedido e nojento que o outro. Como lidar?
Desde que me mudei, há dois anos, para a Praça Roosevelt, no Centro fervilhante da cidade, tenho acompanhado as pendengas que antes via de longe. Moradores aproveitam a baderna generalizada para fortalecerem seu discurso de ódio e preconceito – são sempre os de fora, os da periferia, em resumo, os pobres os que a velharia ranheta aponta com o dedo como causa de todos os males de nossa vizinhança. A cada grande evento que rola na praça, seja ele cultural ou político, vem as “autoridades” locais reclamar que a praça tem que virar parque (leia-se ganhar grades que fecham ao entardecer).
Não, ela não tem que virar parque. Não foi pensada para isso. Seu projeto não comporta isso, vai ficar um horror, entende? Nossos resmungões não entendem chongas de arquitetura, coitados. Muito menos de urbanismo. Sequer sabem de segurança, uma vez que é o movimento das nossas noites, com seus teatros e bares, que assegura nosso direito de ir e vir com mais tranquilidade do que a Roosevelt nunca teve desde antes de os Satyros e os Parlapatões se instalarem e atraírem, com eles, toda a fauna que por aqui circula. Acreditem, eu saí dos Jardins por medo das suas ruas escuras. Quero as luzes e a vida da Roosevelt. Quero ver gente perto de casa, não o vazio da paranoia urbana. Percebem?
Só que nós, que defendemos a praça como área democrática para o povo se manifestar, no espírito romântico de Castro Alves, mas que também moramos nela, temos plena consciência do tamanho da encrenca que enfrentamos a cada domingo, com o lixo que a moçada espalha nos seus canteiros, por mais que as equipes da Prefeitura, reconheça-se, se esforcem para correr atrás do prejuízo, catando o que conseguem madrugada adentro.
A operação nunca vence a capacidade de emporcalhar de uns e outros. Tem também a chatice de não conseguirmos dormir com a gritaria e a cantoria até altas horas. O incômodo de não poder estacionar o carro dentro de nossos prédios porque a rua está interditada pela turba, que agride os carros que tentam furar o bloqueio da moçada manguaçada. Sim, temos o péssimo vício de sermos humanos e querermos defender nosso lado. Mas, e aí, como conciliar?
Acredito que a única equação que vai permitir o equilíbrio de forças, em nossa praça, essa que queremos emprestar com gosto aos folguedos, é a que soma educação a cidadania. Se as autoridades instalarem lixeiras maiores e, com elas, orientarem os guardinhas não a infernizar os que fumam seu baseadinho, mas a conversar com os porcalhões que jogam suas garrafas e caixas de pizza no chão, eventualmente obrigando-os a pegarem na hora o que descartaram.
Se as viaturas deixarem de circular inexplicavelmente a qualquer hora do dia em meio a crianças, velhos e cachorros que só querem aproveitar seu sol. Se os acordos de horários de silêncio forem cumpridos em troca da liberdade para a música, o teatro, a dança e a boa e simples risada no resto do tempo. Se todos cedermos um pouco e entendermos que não somos donos da área pública, mas iguais a todos os demais que a frequentam. Se tudo isso e mais alguma coisa que no momento não me lembro (mas que com certeza meus vizinhos vão apontar) acontecer, a vida seguramente vai ficar bem melhor para todos nós. Sem preconceitos, nem rusgas inúteis. Tem jeito?
Leia também: Praça Roosevelt: Grupo lança manifesto contra a violência policial no Carnaval
A historiadora e antropóloga Paula Janovitch fala sobre a "gramática dos caminhantes", que pode ser percebida ao se andar a pé pela cidade.
Pastilhas estão sendo retiradas e serão trocadas por outras semelhantes, segundo nota oficial da Prefeitura de São Paulo.
Há 50 anos, o incêndio do Edifício Joelma, no Centro de São Paulo, deixou 181 mortos e causou um trauma que nunca foi esquecido.
Love Cabaret, na Rua Araújo, quer se tornar um "parque de diversões para adultos" e mostrar diversidade de corpos
O colunista Thiago de Souza fala sobre o incêndio do Edifício Joelma e das 13 almas que pereceram no local
O guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho conta como eram os primeiros carnavais no Centro de São Paulo no começo do século 20.
O Parque do Rio Bixiga, ao lado do Teatro Oficina, já tem uma verba de R$ 51 milhões para sua implantação. O parque vai ocupar […]
A colunista Vera Lúcia Dias, guia de turismo, fala sobre as diferentes fases do Vale do Anhangabaú, por onde já passou um rio
O guia de turismo Laércio Cardoso de Carvalho conta a história de prédios ao redor da Igreja Santa Ifigênia.
O guia de turismo Laércio Cardoso de Carvalho fala sobre a história da igreja Santa Efigênia, que é oficialmente uma basílica.
Espaço, que fica no 42º andar do edifício Mirante do Vale, amplia a área para uma vista de 360 graus e recebe exposição que teve participação do A Vida no Centro
O guia de turismo Laércio Cardoso de Carvalho fala sobre sambistas de São Paulo, homenageados em estátuas no Centro
Clique no botão abaixo para receber notícias sobre o centro de São Paulo no seu email.
Clique aqui não mostrar mais esse popup