Lina e Pietro Maria Bardi: conheça o novo Masp e veja fotos
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Entenda por que o retrofit é um aliado na preservação de patrimônio histórico e cultural e qual seu papel na ressignificação do Centro
Por Francine Costanti
Já reparou que alguns prédios antigos do Centro de São Paulo estão ganhando uma cara nova e transformando a cidade? Essas reformas são chamadas de “retrofit”: junção das palavras “retro”, que vem de movimentação para trás, e “fit”, de adaptação. Para explicar de maneira simples, retrofit é a modernização de algum lugar considerado ultrapassado e que pode ser renovado, mas preservando as características dos projetos arquitetônicos originais. A medida aumenta a vida útil do imóvel, moderniza e ainda mantém a memória do local.
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Prédios que passam pela reforma devem cumprir algumas leis de segurança e adequá-las às exigências atuais, que eram outras – ou nem existiam – na época da construção do edifício. Além disso, um dos grandes benefícios da renovação de prédios antigos é a economia de água e energia para os moradores, já que em geral equipamentos modernos consomem menos recursos. Um exemplo são edifícios antigos que ainda têm elevadores lentos e até perigosos. Aproveitando a mesma estrutura civil, o retrofit pode modernizar o equipamento, deixando-o mais seguro e ágil.
No Brasil, essa modernização de prédios chegou há pouco tempo, mas o retrofit é um velho conhecido na Europa e Estados Unidos. Nesses países, é muito comum apostar em edifícios desgastados e recuperá-los, tanto para criar novos espaços de moradia e atualizar equipamentos de segurança como para preservar o patrimônio histórico e arquitetônico.
O Centro de São Paulo vem ganhando novos retrofits nos últimos anos. Alguns exemplos são o Sesc 24 de maio (prédio que abrigou a antiga loja de departamentos Mesbla, ele foi totalmente reconstruído por dentro e hoje tem até uma piscina na cobertura), o Sesc Paulista (que era um prédio de escritórios) e a Secretaria Municipal da Fazenda (antigo Othon Hotel). De edifícios desativados, foram transformados em espaços de cultura, trabalho, entretenimento ou comércio.
Matteo Gavazzi, fundador da corretora de imóveis Refúgios Urbanos e do projeto Prédios de São Paulo, que conta a histórias de edifícios históricos, lembra que a tendência de afastamento do Centro com a expansão da metrópole – como aconteceu em São Paulo ao longo do século passado – é um processo pelo qual passaram cidades de outros países e que com o tempo acaba sendo revertido. “Nos últimos anos as coisas estão mudando aqui, e há um apreço maior e novos planos para o Centro.”
Matteo enxerga esse tipo de edificação como um convite a essa reaproximação das pessoas com a região central de São Paulo: “Os retrofits são importantes não só por requalificarem edifícios abandonados ou com baixa utilização. São uma maneira de trazer novas pessoas para cá”, afirma. “Quem passa na frente desses prédios sente um ar de mudança, é bom em vários sentidos.”
Um novo projeto que ilustra bem o papel dos retrofits na requalificação e preservação da história arquitetônica do Centro de São Paulo é o do edifício Jacques Pilon Residence, da TPA Empreendimentos, incorporadora com 44 anos de mercado. Localizado no bairro da Luz, ele tem 161 unidades de 20 a 41 metros quadrados, terá estabelecimentos comerciais no térreo e um terraço que promete se transformar no novo ponto de referência da região.
O projeto da construção original, o antigo Edifício Irradiação, abrigou escritórios entre 1940 e 2016 e foi feito pelo francês Jacques Pilon, um dos principais arquitetos modernistas do Brasil. Com o retrofit, o prédio ganhou um novo uso e agora se tornou residencial. Nascido em Le Havre (França), em 1905, Pilon veio com a família para o Rio de Janeiro em 1910 e se mudou para São Paulo em 1934. Entre as décadas de 1930 e 1960, o francês fez parte de um grupo de arquitetos estrangeiros que ajudaram a construir a história da cidade através de suas obras. Uma delas é a da Biblioteca Mário de Andrade, em 1942.
Marcos Gavião, autor de onze projetos no Centro de São Paulo é o arquiteto encarregado de transformar o prédio comercial em residencial. “Buscamos a atualização da edificação existente com a adequação ao novo uso pretendido e a preservação das características mais significativas da obra original”, afirmou.
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Gavião aponta a questão de custos como um dos desafios enfrentados pelos projetos de retrofit. Como exemplo, ele cita o caso de outro empreendimento em que está envolvido, espaço que também funcionava como hotel há até poucos anos. “O local tinha banheiros de mármore lindos. O comprador (do prédio) nunca imaginou que uma parte das prumadas em ferro fundido estava apodrecida. Esse problema no encanamento gerou um custo não previsto, pois todas as prumadas verticais tiveram de ser refeitas. E onde elas desciam? No mármore. É igual reforma de casa (pode custar mais do que se prevê inicialmente)”, afirma.
Como a construção de retrofits é algo relativamente novo no Brasil, a questão jurídica para esse tipo de obra ainda não está plenamente definida. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) afirma que, “apesar de apresentado no Código de Obras e Edificações (Lei 16.642/17), o retrofit necessita da definição de parâmetros para ser implantado”. Com esse objetivo, a Prefeitura de São Paulo diz que, por meio da SMDU, está discutindo com a sociedade civil ajustes na Lei de Zoneamento, a fim de estimular a reabilitação do patrimônio arquitetônico, sobretudo na área central, criando regras que facilitem o retrofit das edificações para novos usos – uma diretriz do Plano Diretor Estratégico.
A proposta em debate reconhece que o retrofit é um instrumento diferente da reforma convencional, visto que as suas obras buscam a atualização tecnológica, preservando as características dos projetos arquitetônicos originais e buscando maior eficiência do sistema estrutural, de energia, comunicação e hidráulico, entre outros.
Outro exemplo de retrofit no Centro é o do edifício Uliving 433, residência estudantil que fica na Avenida Duque de Caxias – antes, ali funcionava o Hotel Jaguar. O 433 funciona apenas no sistema de locação, atendendo em sua maioria estudantes de outras cidades e estados que vêm para São Paulo. “Vimos a oportunidade de oferecer uma boa experiência aos estudantes em um prédio já existente, que poderia ser mais um espaço abandonado na região central de São Paulo”, diz Juliano Antunes, um dos fundadores e CEO da Uliving Brasil.
O projeto procurou respeitar a estrutura original do edifício, com pé direito alto e janelas com grandes aberturas. “As áreas comuns ganharam um novo significado e os 83 quartos se tornaram habitações individuais e compartilhadas, totalizando 125 camas. A fachada foi totalmente mantida e o número do prédio ganhou protagonismo na pintura cinza e branco”, diz.
Um prédio, antes degradado e agora totalmente renovado, pode fazer com que as pessoas passem a enxergar a cidade de outra forma. “A Uliving é um exemplo claro de que nós, empresários, temos a oportunidade de trazer esse benefício para a população e para a cidade. No 433 temos dois restaurantes no térreo que são novas opções não só para quem mora, mas também para a comunidade. Queremos trazer pessoas de outras regiões para curtirem o centro de São Paulo”, completa Juliano.
Moradora de um prédio retrofitado na Vila Buarque, Lissa Marchesini e seu namorado, Rafael, ficaram impressionados com a qualidade do retrofit em que moram. Isso porque, além de ser tudo original, o edifício manteve o piso do hall de entrada. “Os azulejos são em estilo art nouveau e formam um desenho lindo. Eu adoro saber que estou num lugar que foi restaurado e manteve as condições originais”, afirma Lissa.
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