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Cultura, inovação, gastronomia e startups: entenda a importância e o impacto da economia criativa no novo momento do Centro de São Paulo
Por Clayton Melo
Uma boa ideia é uma rede. Quem diz isso é o autor americano Steven Johnson, um dos principais estudiosos do mundo na área da cultura da inovação. No livro “De onde vêm as boas ideias”, ele explica que uma nova ideia é uma “rede de células explorando o possível adjacente de conexões que elas podem estabelecer em nossa mente”. Isso vale para tudo, de colocar os neurônios para trabalhar no desenvolvimento de um produto a criar uma frase para um texto, como este.
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Uma ideia nasce da conversa alucinada de um enxame de neurônios. Isso quer dizer, entre outras coisas, que uma rede precisa ser densamente povoada. Mas só isso também não basta. É preciso que esses neurônios estejam conectados e que essa rede seja plástica, ou seja, capaz de mudar de forma e configuração, se expandir e estar aberta ao novo. É preciso que ela seja diversa e misturada, até mesmo bagunçada, para funcionar melhor.
Como a economia criativa se relaciona com o Centro de São Paulo
O que isso tem a ver com o Centro de São Paulo? Tudo. Essa analogia – poderia dizer ideia? – me vem à mente por conta do que vejo e experimento na zona central. A cada semana, sem exageros, surge um novo bar, café ou restaurante na região, cada um deles com uma proposta ou identidade diferente, buscando atender a públicos distintos. E não só isso: aos poucos começa a florescer uma cena de coworkings, algo ainda embrionário, mas um indício importante de que é questão de tempo para comece a se formar um ecossistema de inovação no Centro, com startups, investidores e empresas. O A Vida no Centro foi criado, em 2017, com a visão de que o Centro tem potencial para se transformar num polo de inovação e cultura e com a proposta de ser um hub de informação, networking e inteligência para ajudar no processo de ressignificação do Centro de São Paulo.
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A efervescência também é enorme na área cultural, com a abertura de novos espaços culturais de grandes instituições, além da intensa movimentação de coletivos e artistas independentes de diversas áreas. Um ponto importante a se observar é que um único guarda-chuva une esse “enxame”: a economia criativa. O Centro de São Paulo está sendo transformando pelos negócios criativos.
Alguns exemplos para tornar mais claro o que estou dizendo. Dos últimos dois anos para cá, abriram as portas no Centro de São Paulo o Sesc 24 de Maio e o centro de economia criativa Farol Santander, que se juntaram a espaços culturais importantes que já funcionam há algum tempo, como Teatro Porto Seguro, Centro Cultural Banco do Brasil, Red Bull Station e Caixa Cultural. Além disso, um dos maiores blocos de Carnaval da cidade, o Acadêmicos do Baixo Augusta, montou sua sede na Rua da Consolação para promover shows, debates e cursos ligados à cultura. Além disso, tem também o Isso Hub, um coworking que se propõe a fomentar negócios entre startups e empresas.
Gastronomia
Já em outra vertente da economia criativa, a gastronomia, o boom é ainda mais perceptível. Além da presença de chefs badalados, como Olivier Anquier (restaurante Esther Rooftop) e Jefferson Rueda (Casa do Porco), uma safra de novos empreendimentos transformou o Centro no novo corredor gastronômico da cidade. Bar dos Arcos, Sertó, Bia Hoi SP, BAB, Sputnik, Jaguar, Bar do Cofre Subastor, Bento 43, RomeoRomeo, Void, Tokyo e Modernista Coffee Stories são apenas alguns dos bares, restaurantes e cafés que chegaram ao Centro recentemente.
Todos esses exemplos, que carregam um DNA criativo, são parte de uma nova etapa vivida pelo Centro de São Paulo. A região, que foi a mais importante da cidade até os anos 1970 e em seguida amargou três décadas de decadência, com fuga de população e de estabelecimentos comerciais, vive agora um momento de ressignificação, com renovação no comércio, mais espaços de cultura e lazer e repovoamento. Essa mudança no perfil está alinhada ao novo espírito do tempo: redução do uso de carro ao mínimo, ocupação e uso de espaços públicos e preferência pelo acesso e busca de experiências, em vez do acúmulo de bens materiais.
Mudanças em curso
As mudanças em curso são tão profundas que, se num passado recente o que prevalecia era a ideia de uma vida dentro de carros e atrás dos muros de condomínios, hoje a tendência na metrópole já é a busca da rua como um local de encontro, diversidade, caminhadas, bicicletas, patinetes, skates e manifestações diversas. Estão aí a explosão do Carnaval de rua e a crescente reivindicação por mais parques para demonstrar isso.
Explosão do Carnaval de rua é exemplo da força da economia criativa
E, quando escrevo rua, leia-se calçada – e aqui entram em cena novamente os bares e cafés. Em qualquer cidade, seja numa metrópole como São Paulo, seja em outros centros urbanos do País ou do exterior, calçada movimentada é sinal de segurança. “É uma coisa que todos já sabem: uma rua movimentada consegue garantir segurança; uma rua deserta não”, escreveu a jornalista Jane Jacobs, um dos principais nomes do urbanismo internacional. “O requisito básico da vigilância é um número substancial de estabelecimentos e outros locais públicos dispostos ao longo das calçadas”, disse a autora de “Morte e vida nas grandes cidades”.
O ponto importante aqui é que todos estes fatores estão interligados: o novo zeitgeist, a vocação de São Paulo para a economia criativa e a força da diversidade no Centro, um fator-chave para a inovação. A inovação, aquilo que transforma e provoca impacto social, não se faz na homogeneidade, mas sim da diferença. E isso é o que o Centro tem de melhor: pessoas de origens, classes sociais, gêneros, estilos e comportamento variados convivendo no mesmo espaço. É da força da diversidade, algo que a economia criativa sabe valorizar tão bem, que estão vindo as boas ideias não só para o Centro de São Paulo, mas também para outras grandes cidades do país. A boa notícia é que esse movimento já começou.
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