A Vida no Centro

Francine Costanti

Olhar literário

Francine Costanti é jornalista, e seus textos - na maioria sobre cultura e entretenimento - já passearam por algumas redações de portais e agências. Como inspiração pessoal, a ideia aqui é explorar a cena de música e literatura do Centro de São Paulo, desde os contos literários de Mário de Andrade até as letras de Emicida. Esse espaço é feito para e por todos. Por isso fique à vontade para deixar sugestões.

Conheça a história do misterioso casarão que sobrevive na Avenida Paulista

Palacete Joaquim Franco de Mello completou 115 anos em 2020, o misterioso casarão da Paulista, é da primeira geração de construções imponentes da avenida

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Tempo de leitura:5 minutos

Qualquer pessoa que tenha passado pela Avenida Paulista já se deparou com esse lindo (e, infelizmente, bastante depredado) casarão que fica no número 1919. Como qualquer imóvel antigo, em meio a construções modernas e grandiosas, o palacete provoca muita curiosidade e não é raro ver alguém erguendo os pés ou tentando capturar fotos entre as frestas dos portões. É impossível não querer entrar ali para saber como é cada espaço da casa, já que foi erguida em 1905. Muita gente conta que o casarão é mal-assombrado, como qualquer imóvel antigo e abandonado, mas tudo não passa de lenda.

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A residência foi construída pelo português Antônio Fernandes Pinto para ser moradia da família do agricultor e coronel Joaquim Franco de Mello e foi uma das primeiras a surgirem na avenida entre 1891 e 1937, período em que muitos barões de café e empresários paulistanos decidiram fincar residência em suas gigantes casas na nova e luxuosa avenida. Felizmente, a residência é uma das únicas dessa época que sobrevivem.

Sala de jantar com móveis luxuosos de madeira. Foto: Pedro Napolitano

Apenas pela fachada fica difícil saber como a casa é por dentro, mas sabe-se que tem 4.720m² entre cômodos e espaços externos, que inclui uma área verde imensa. Na frente da casa ficavam a sala de visitas e o escritório, no centro a sala de jantar e os quartos. Nos fundos, a cozinha, despensa e os banheiros. No subsolo havia uma biblioteca e um depósito, além de um porão e um jardim lateral, que era feito para os lados justamente para aumentar a distância entre as casas vizinhas. 

Palacete Joaquim Franco de Mello em seus primeiros anos. Foto: Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo

Tombado pelo patrimônio histórico em 1992, ficou totalmente abandonado, sofrendo depredações e pichações até 2010, quando o neto de Joaquim, Renato, decidiu morar no palacete e foi o último a residir lá. Ele usava apenas um dos quartos e a cozinha, já que o espaço era gigante. Na época, Renato contou à Revista Piauí que foi morar lá com medo de invasão dos sem-teto da cidade. Foram realizados alguns eventos públicos de arte e feiras de adoção de animais na área externa, mas acabaram porque Renato faleceu em fevereiro de 2019. 

O casarão antes de sofrer depredações, em 1985. Foto: Nair Benedicto/Itaú Cultural

A boa notícia é que, em junho de 2019, depois de 27 anos de empasses na justiça, o palacete passou da mão dos herdeiros do coronel para o governo estadual. Com isso, a Secretaria Estadual da Cultura assume a propriedade e pretende criar um espaço cultural, mais precisamente um museu ligado a assuntos e atrações científicas. Por enquanto, o imóvel permanece fechado até o início das obras. 

A sala de estar acompanhava o estilo francês da construção. Foto: Pedro Napolitano

Enquanto não podemos visitar o centro cultural, ficamos só por conta das especulações quando passamos em frente ao lindo palacete. Quem tem a imaginação mais aguçada, já consegue até ouvir uma música clássica de fundo, ver homens de gravata borboleta e mulheres com longos vestidos andando pelos cômodos. E que bom que a modernidade, nesse caso, não conseguiu derrotar a história.

A biblioteca da família ficava no subsolo. Foto: Pedro Napolitano

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