Viaduto Santa Efigênia passa por reforma. Prefeitura diz que vai manter desenho do mosaico do piso
Pastilhas estão sendo retiradas e serão trocadas por outras semelhantes, segundo nota oficial da Prefeitura de São Paulo.
Efervescência cultural do Centro nos anos 1940, 50 e 60 era garantida pelas redações de jornais e livrarias, que viram nascer ali museus e outros iniciativas
Quem tem menos de 50 anos ao passar pelas ruas do chamado centro novo (área compreendida entre o Theatro Municipal e a av. São Luiz) não pode imaginar a intensa vida cultural que havia nesse espaço nos anos 1940,50,60. Os que vivenciaram esse período certamente irão rememorar com saudades. Vamos lembrar neste post alguns dos locais que garantiam a efervescência cultural do centro novo nas décadas de 1940, 50 e 60. E locais que surgiram no Centro, naquela época, e deram origem a iniciativas culturais e artísticas que se expandiram para outras regiões da cidade.
Redações de jornais e museus
Nas esquinas das ruas Martins Fontes com Major Quedinho, de frente para a Praça D. José Gaspar, o prédio que na fachada ostenta o painel de autoria de Di Cavalcanti, numa alegoria à imprensa, foi construído pela família Mesquita para abrigar a administração, redação e parque gráfico do jornal O Estado de S. Paulo. A empresa ocupava oito andares e nos demais funcionava um hotel. Foi inaugurado em 18 agosto de 1953.
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O jornal permaneceu ali até junho de 1976, quando foi transferido para a av. Engenheiro Caetano Álvares, na Marginal Tietê. Nesse mesmo prédio, em 4 de janeiro de 1958, começou a funcionar a Rádio Eldorado. Voltada para um público diferenciado, além dos estúdios tinha um auditório onde orquestras, conjuntos e cantores se apresentavam para as pessoas que frequentavam o espaço. Em janeiro de 1966 começou a circular o “Jornal da Tarde”.
Bem próximo, na rua 7 de abril, número 230, no edifício Guilherme Guinle, ficava a sede dos Diários Associados. Ali estava instalada a administração, o parque gráfico e as redações dos jornais Diário de S. Paulo e Diário da Noite e a sucursal de O Cruzeiro, a revista com maior circulação no Brasil. Em 2 de outubro de 1947, no segundo andar, foi inaugurada a coleção particular de consagradas obras de arte que Assis Chateaubriand, com a ajuda do professor e marchand italiano Pietro Maria Bardi conseguiu adquirir na Europa, dando início ao que viria a ser o Masp (Museu de Arte de São Paulo). A arquiteta Lina Bo Bardi, esposa de Bardi, realizou várias adaptações no andar, criando o espaço onde os quadros seriam expostos, uma sala de exposições didáticas sobre História da Arte, duas salas para exposições temporárias e um auditório com cem lugares, demonstrando assim que a ideia era ser não apenas um museu, mas um centro difusor de arte. Foram realizados cursos de História da Arte, manifestações de teatro, cinema, música, e o local se tornou um ponto de encontro de artistas, estudantes e intelectuais em geral. Realmente se transformou num centro cultural e não apenas num museu, um dos pioneiros no mundo, antes mesmo do Centro Georges Pompidou, na França.
Em 1950 o Masp passou a ocupar três andares, com quadros no terceiro e no quarto e no décimo quinto cursos e palestras. Espaços para exposições, bibliotecas e livraria ficavam no segundo andar. Nesse ano é instalado o Instituto de Arte Contemporânea com cursos de desenho, gravura e escultura. Lina Bo Bardi cria a Escola de Desenho Industrial, pioneira no Brasil. Os professores eram artistas consagrados, como Warchavchik e Lasar Segall, entre outros. Também eram oferecidos cursos de fotografia.
Em 1968, foi transferido para a sede atual, na Avenida Paulista.
Em outubro de 1951, Rodolfo Lima Marthesen cria a Escola de Propaganda do Museu de Arte de São Paulo. Foi a pioneira no Brasil. Em 1961, no primeiro Congresso Latino-Americano de Ensino Publicitário, realizado em Buenos Aires, os currículos foram adotados como padrão para o ensino publicitário em toda a América Latina. Em 1970 é transformada em ensino superior passando a ser Escola Superior de Propaganda e Marketing funcionando em prédio próprio na Vila Mariana.
Em outro andar, no dia 8 de março de 1949 a exposição Do Figurativismo ao Abstracionismo inaugura o Museu de Arte Moderna, criado pelo grande mecenas Francisco Mattarazzo Sobrinho, o Ciccilo Matarazzo. Em 1948 ele realizou a Primeira Exposição de Arte Moderna, num espaço preparado para isso na Metalúrgica Metalma, de sua propriedade, na rua Caetano Pinto, no bairro do Brás. Em 1958 o MAM é transferido para o Parque Ibirapuera. Havia também o “barzinho” do Museu, ponto de encontro de artistas e intelectuais.
A Cinemateca Brasileira foi criada em 1940 como Clube de Cinema de São Paulo por jovens estudantes do curso de Filosofia da USP. Com a ditadura Vargas o Clube foi fechado. Várias tentativas foram feitas posteriormente para se organizarem outros clubes. Em 1949 é criada a Filmoteca do Museu de Arte Moderna após acordo realizado com o recém-criado museu. Permanece ligada a ele até 1956, quando passa a ser denominada Cinemateca Brasileira. Em 1957 sofre um grande incêndio que destrói todo o acervo. Vai então para o Parque Ibirapuera e depois para sua sede definitiva, o antigo matadouro municipal na Vila Mariana, doado em 1988 pelo prefeito Jânio Quadros e inaugurada depois de nove anos, após várias reformas.
Como relatamos no post O Nascimento da TV no Brasil e o Centro da Cidade de 1960 a 1965 a TV Cultura canal 2, pertencente aos Diários Associados, também esteve instalada nesse edifício. A emissora transmitia 10 horas de programas educativos.
Na Praça D. José Gaspar foi inaugurada em 25 de janeiro de 1942 a Biblioteca Municipal, instalada em majestoso prédio projetado por Jacques Pilon. Só a partir de 1960 passou a se chamar Biblioteca Mário de Andrade. Em quantidade de livros é superada no Brasil apenas pela Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Com milhares de livros em vários idiomas e dos mais diversos assuntos, enciclopédias, uma seção só de livros de artes, outra de livros raros, mapoteca, jornais e revistas de vários países, atraía muitos intelectuais, estudantes e pesquisadores, chegando muitas vezes a se formar filas de pessoas aguardando a vez para poder utilizar seu acervo.
Até 3 de fevereiro de 1952 quando começa a funcionar a Biblioteca Pública do Tatuapé, era a única pertencente à Prefeitura destinada a adultos. Além do seu acervo, sempre promoveu palestras, cursos e exposições. Havia uma seção de Arte, foi o primeiro acervo de Arte Modernista no Brasil. Posteriormente esse acervo foi transferido para a Pinacoteca do Estado. Nos seus jardins junto à entrada principal estão as esculturas de Camões, obra de José Cucé, ofertada pela comunidade luso-brasileira e de Cervantes, de Raphael Galvez, presente da comunidade espanhola. Nos jardins laterais ficam a escultura da cabeça de Goethe, presente da comunidade alemã e de Dante Alighieri, obra de Bruno Giorgi, oferta da comunidade italiana.
Livrarias
Na década de 50 no centro novo existiam 51 livrarias, muitas das quais haviam migrado do centro velho. Algumas, além da venda de livros realizavam exposições de arte, conferências e eram voltadas para um tipo específico de público. Na rua da Consolação, em frente à Biblioteca Municipal, ficava a Livraria Nobel, fundada em 1943 pelo italiano Cláudio Milano, inicialmente com encadernação e elaboração de apostilas escolares, depois vendendo todo tipo de livros didáticos.
Na rua Marconi, quase vizinhas, duas livrarias, ofereciam mais do que livros. Ofereciam convivência, troca de ideias, contato com escritores.
No número 54 ficava a Livraria Jaraguá, com tendências universitárias inglesas criada em 1941 por Alfredo Mesquita e Roberto Meira. Como diferencial, mantinha uma sala de chá para receber artistas e intelectuais como Tarsila do Amaral, Caio Prado Junior, Anita Malfatti, Flávio de Carvalho e muitos outros que por lá passavam para conversar. Foi vendida por Alfredo Mesquita em 1957.
A Livraria Teixeira, fundada em 1876, se instala em 1955 no número 40 da rua Marconi depois de ter funcionado em vários outros locais: rua São Bento, av. São João, Líbero Badaró. Ao longo dos anos teve vários proprietários. Um deles foi José Vieira Pontes Lourenço, que editou mais de 400 textos teatrais. Vendia também a revista da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) editada no Rio de Janeiro, muito procurada por admiradores do teatro, artistas profissionais e amadores. O interesse principal era o texto integral de uma peça de teatro apresentado em cada edição. Vendia também material para a confecção de barbas e bigodes postiços e diversos materiais para maquiagem. Aconteceram ali várias tardes de autógrafos bastante concorridas com consagrados escritores como José Mauro de Vasconcelos, Ligia Fagundes Telles.
Ainda na rua Marconi, nos números 91 e 93, ficava a Livraria Kosmos, que além de livros novos vendia livros antigos e raros.
Na elegante Barão de Itapetininga também havia várias livrarias.
A Livraria Brasiliense inicialmente ficava na rua D. José de Barros. Em 1944 ela é transferida para o recém construído prédio próprio na rua Barão de Itapetininga número 99. Em 1943 Caio Prado Junior e Monteiro Lobato criam a Editora Brasiliense. Podemos destacar a obra completa de Monteiro Lobato e a série Primeiros Passos (livros de bolso, cada um sobre um tema, com informações completas sobre o assunto) muitos livros de sociologia, política. Lembrando que Caio Prado Junior era comunista e as obras editadas e vendidas seguiam essa linha. Em 1968, com a decretação do AI-5, muitos livros foram apreendidos e queimados pelo regime militar. A presença de Caio Prado Junior, principalmente aos sábados, atraía uma grande quantidade de alunos e professores da USP. Havia espaço para exposições de arte e várias foram ali realizadas. Os pintores do Grupo Santa Helena também se reuniam ali. Fechou as portas em 1997. Chegou a vender 40 mil livros por mês.
No número 140 esteve instalada entre 1950 e 1960 a Livraria Italiana.
A Livraria Francesa, teve início em 1948 com o casal francês Paul e Juliette Monteil vendendo a revista Paris -Match de porta em porta. Depois estabeleceram a Livraria na rua Barão de Itapetininga 275 é a única dessa época que continua em pleno funcionamento. É especializada em publicações francesas, livros e revistas, por isso sempre atraiu grande número de intelectuais brasileiros e os professores franceses que vieram lecionar na Universidade, como por exemplo Roger Bastide. Em 1960 realizou uma tarde de autógrafos com Jean Paul Sartre.
A Livraria Parthenon do bibliófilo José Midlin, com mais de 3000 livros aparentava ser uma biblioteca e não uma livraria. Começou em 1944 na Vila Normanda na av. São Luiz. Em 1951 vai para a rua Barão de Itapetininga e permanece lá até 1978 quando é transferida para a av. Paulista.
Galerias de Arte
Uma das primeiras galerias de arte foi a Domus do casal de italianos Nina e Pasquale Fiocca. Ficava na Av. Vieira de Carvalho número 11, funcionou ali de 1947 a 1951.
Em 1962 o poeta Paulo Bonfim e sua esposa montam no conjunto Zarvos na av. São Luiz a galeria e livraria Atrium. Na exposição inaugural foram apresentadas telas do famoso pintor Diogo Rivera, cedidas por sua filha, que morava em Taubaté. Depois foram diversas exposições de artistas brasileiros. De quinze em quinze dias um acontecimento: lançamento de discos de Vandré, Caetano Veloso, concorridas tardes de autógrafos de Vinicius, Manoel Bandeira, com longas filas. “Foi ponto de encontro de quadros e homens, de livros e ideologias espelho de um mundo apaixonante que principiava a agonizar nas sombras que desciam sobre nossa terra” escreveu Paulo Bonfim sobre a Galeria Atrium.
Na Barão de Itapetininga haviam cinco galerias de arte: Rio Branco, Mercury, Itá, Ugo e Artesanal.
Além de todos esses espaços, muitos artistas e intelectuais moravam no Centro. Os que não residiam, iam até lá e se reuniam nos muitos restaurantes, cafés, confeitarias.
Mas isso é tema para um próximo post.
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