A Vida no Centro

Francine Costanti

Olhar literário

Francine Costanti é jornalista, e seus textos - na maioria sobre cultura e entretenimento - já passearam por algumas redações de portais e agências. Como inspiração pessoal, a ideia aqui é explorar a cena de música e literatura do Centro de São Paulo, desde os contos literários de Mário de Andrade até as letras de Emicida. Esse espaço é feito para e por todos. Por isso fique à vontade para deixar sugestões.

Casarão da Villa Fortunata: conheça a história por trás do Parque Mário Covas

Conheça a história do Parque Mário Covas, onde havia um casarão que foi frequentado por muitos artistas e intelectuais que fizeram a cultura do século 20

Pouca gente sabe, mas o terreno que hoje dá espaço para o Parque Prefeito Mário Covas – na esquina da Avenida Paulista com a Alameda Ministro Rocha de Azevedo – abrigava um imponente casarão pertencente à família francesa Thiollier.

Construída em 1903 pelo empresário Alexandre Honoré Marie Thiollier, a mansão – em estilo eclético, influência direta da arquitetura europeia – passou a funcionar como uma casa de férias, já que a família residia na Rua XV de Novembro, nº 60, no Centro (hoje Churrascaria Bovinos).

Em 1909, por conta de alguns problemas de saúde, Alexandre deixa o Brasil rumo à Europa e decide alugar o casarão para a família Burle Marx, onde nasce no mesmo ano um dos mais famosos paisagistas brasileiros, Roberto Burle Marx.

Em 1913, a casa passa a ser residência do filho de Alexandre, o advogado e escritor René de Castro Thiollier. Para homenagear a esposa, René batiza o palacete com seu nome, passando a ser conhecido como “Villa Fortunata”. Lá ele ficou até sua morte, em 1968.

Por mais de 50 anos, a casa foi palco de manifestações artísticas importantes onde grandes nomes se reuniam em jantares de luxo, como Anita Malfatti, Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia e Monteiro Lobato, que inclusive foi casado com uma prima de René, Purezinha.

René Thiollier foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922 e, neste mesmo casarão, planejou os detalhes do grande evento. Inclusive, foi ele o responsável por alugar o Theatro Municipal e pagar com dinheiro do próprio bolso. Ele acreditava que a manifestação artística devia acontecer em um palco importante e de relevância cultural.

Em 1972, o casarão foi comprado pelo Banerj (Banco do Estado do Rio de Janeiro) e demolido para ser um estacionamento. Em 1992, o terreno foi tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) por ser uma das poucas áreas verdes da região.

Em 2008, a Prefeitura de São Paulo aprovou o projeto para a construção do parque no local homenageando o Prefeito Mário Covas, fato que na época causou muita polêmica, já que Mário Covas nem ao menos era paulistano – nascido em Santos – e a família Thiollier acredita que René tinha sido uma figura muito mais relevante para a cultura paulistana.

Polêmicas à parte, é triste saber que a história está sendo apagada aos poucos. Muitos casarões de São Paulo foram e ainda estão sendo demolidos para a construção de centros comerciais e muitas vezes sem objetivos claros. Pelo menos este espaço esta sendo usado para entretenimento e área de lazer.

Nos próximos textos, vou contar um pouco mais sobre os antigos casarões do Centro. Aguardem!

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