A Vida no Centro

Blog do Clayton Melo

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e MBA em Marketing pela FGV, é analista de tendências, com formação na Escola Panamericana de Artes, e curador cultural. É palestrante em temas como futuro das cidades, tendências urbanas, inovação e jornalismo digital em instituições como Facebook, Mackenzie, ESPM, Cásper Líbero, Campus Party e Festival Path. Escreve sobre tendências urbanas, futuro das cidades, inovação e cultura.

As pessoas estão voltando a morar no Centro de São Paulo

A tendência de esvaziamento na região já foi revertida. Entenda por que morar no Centro de São Paulo se tornou o desejo de um universo cada vez maior de pessoas

Até não muito tempo atrás, uma pessoa que dissesse que pretendia se mudar para o Centro de São Paulo ia deixar a família, os amigos e os colegas de trabalho meio encafifados. No mínimo ouviria frases do tipo: “Como assim? Você quer morar no Centro?” Residir no coração da metrópole definitivamente não era visto pela maioria dos paulistanos como uma ideia sensata. Afinal, a região – que na primeira metade do século XX foi o palco político, econômico e cultural da cidade – passou por um longo processo de decadência, degradação e esvaziamento. Isso cristalizou uma imagem negativa no imaginário das pessoas, da mídia e das empresas. O resultado disso é que, sem visitar a região e impactados somente pelas notícias negativas, muitos paulistanos passaram a achar que o Centro todinho era uma imensa cracolândia, um local perigoso e que não deveria ser frequentado – o que dizer então de morar lá.

Morar no Centro de São Paulo 

Essa visão – exagerada – fez com que o restante da cidade se afastasse do Centro e, assim, não percebesse que o local vem passando por uma transformação positiva há alguns anos, especialmente nos anos mais recentes desta década. E a página virou. Hoje, o Centro é um lugar de desejo para um universo cada vez maior de pessoas, num movimento de retomada puxado por um público jovem antenado, conectado e cosmopolita que escolheu a região para morar e se divertir. Esse movimento se reflete no atual boom gastronômico e cultural da região – como já apontamos em outras oportunidades aqui no A Vida no Centro – e também nos dados demográficos e do setor imobiliário. Fizemos até um evento para discutir essa questão.

Efervescência cultural e gastronômica…

Só para dar uma ideia, de aproximadamente um ano para cá surgiram na região espaços culturais como Sesc 24 de Maio, Farol Santander, Casa do Baixo Augusta e No Arouche. Entre os bares e restaurantes surgiram Bia Hoi, Orfeu, Fel, Hot Park, Tap Tap, Bab, Z Deli e Tokyo, entre tantos outros.  É verdade que muitas pessoas ainda não enxergaram essa mudança, por desconhecimento ou por simplesmente terem riscado a zona central do radar.

…trouxe os moradores de volta

Os números não deixam dúvidas: a tendência de esvaziamento do Centro já foi revertida, num processo que tem reflexos em diferentes setores da economia, principalmente no de serviços e imobiliário.

De 2001 a 2017, por exemplo, a população nos distritos da Sé e da República cresceu 27%, enquanto na cidade o aumento foi 12%. São quase 10 mil novas moradias lançadas no mesmo período, a maioria nos últimos sete anos, segundo dados do Secovi (Sindicato da Habitação).

A região que faz parte da Prefeitura Regional da Sé agora é um dos principais polos de atração de empreendimentos imobiliários da cidade. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, em 2017, 18%  dos lançamentos imobiliários da cidade ocorreram no Centro. Para ter uma ideia, em 2009 foram apenas 3%. Veja o gráfico abaixo, no Relatório Informes Urbanos, elaborado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.

Esse processo todo é facilmente percebido numa simples caminhada pelas ruas no entorno do Copan, Baixo Augusta, República, Vila Buarque e Largo do Arouche. As principais incorporadas de São Paulo, como TPA Empreendimentos, Tegra, BKO, Settin e Cyrella, já entregaram ou devem lançar nos próximos meses novos empreendimentos no Centro.

Em comum, os novos imóveis são pequenos, com um ou dois dormitórios, e uma série de serviços inclusos pensados para atender a um público jovem adulto que não tem filhos. São pessoas cujo estilo de vida se encaixa perfeitamente ao que o Centro oferece de melhor: diversidade, praticidade, mobilidade, cultura e gastronomia. São pessoas que buscam uma vida social intensa, vibrante e ao alcance dos pés.