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Recém-criada, Associação dos Moradores da Praça Roosevelt quer estimular o diálogo entre os diferentes grupos que usam local e buscar a interação com o poder público para obter melhorias para a região
Uma praça aberta, cultural e democrática, com uma relação de respeito entre todos os grupos que dela participam, como moradores, frequentadores, bares e teatros. É a partir dessa visão que acaba de ser fundada a Associação dos Moradores da Praça Roosevelt. Formalizada em julho, a entidade foi idealizada por pessoas que tem como objetivo promover o uso plural do local, estabelecendo um ambiente favorável à atividade artística, esportiva, recreativa e ambiental, sempre respeitando os princípios da boa convivência e os direitos de quem vive em seu entorno.
“A associação foi criada por um grupo de pessoas que vê a praça como um local de convivência e que possibilita a interação com a cidade de uma forma mais aberta”, diz Fernando Mazzarolo, presidente da associação e morador da Praça Roosevelt, em entrevista ao A Vida no Centro. “Criamos a entidade para discutir as questões de convívio no local levando em consideração todos os grupos que circulam por aqui – e são grupos bastante diversos. Há desde skatistas e pessoas que vêm passear com cachorro a aposentados, estudantes e gente que vem só tomar uma cerveja. É preciso promover o convívio de uma forma harmônica. A Praça Roosevelt é de toda a cidade. Os moradores devem ser respeitados, mas não são os donos dela”, diz.
Um dos pontos mais vibrantes do Centro de São Paulo atualmente, a Praça Roosevelt por vezes é palco de atritos envolvendo parte dos moradores, bares e frequentadores. Mas é importante observar que, se hoje há conflitos por conta do espírito boêmio da região, a ocupação da praça e seu entorno por grupos teatrais, bares e skatistas foi decisiva na transformação positiva da Praça Roosevelt – uma região degradada e perigosa nos anos 1990 e início de 2000 e hoje um ambiente seguro e reconhecido como um importante polo de cultura e lazer.
Foi a intolerância de uma minoria barulhenta e higienista, no entanto, que conseguiu fazer com que o ex-prefeito João Doria baixasse um decreto, em 2017, proibindo qualquer tipo de evento na Roosevelt, em qualquer horário do dia. Isso fez com que o festival Satyrianas, um evento organizado pela companhia de teatro Os Satyros desde 2000, pela primeira vez em 18 anos só tivesse atividades dentro dos teatros e nada da programação infantil, gratuita, que costumava ocupar a praça durante o dia. Essa decisão acaba de ser revertida pela nova administração municipal, o que permitirá ao Satyrianas novamente realizar atividades culturais na praça, medida que a Associação de Moradores comemorou.
O que a associação pretende é, partindo da premissa de que a ocupação do espaço público é benéfica e necessária, estimular o diálogo entre os diferentes grupos que participam da praça e buscar a interação com o poder público para obter melhorias para o local, especialmente no que diz respeito à zeladoria. Os fundadores, aliás, já foram recebidos pelo Prefeito Regional da Sé, Eduardo Odloak. “Apresentamos a ele algumas sugestões, como a colocação de lixeiras maiores na praça. Em linhas gerais, o que queremos é participar de discussões com os agentes públicos para encontrarmos um caminho razoável para o bom convívio”, afirma Fernando.
Leia abaixo a entrevista com Fernando Mazzarolo, presidente da Associação dos Moradores da Praça Roosevelt.
Por que a Associação dos Moradores da Praça Roosevelt foi criada e quais os seus objetivos?
A associação foi criada por um grupo de pessoas que vê a praça como um local de convivência e que possibilita a interação com a cidade de uma forma mais aberta. Quando pensamos em criar a entidade, a primeira coisa que fizemos foi analisar melhor como se dão atualmente as discussões a respeito da Roosevelt. E avaliamos que o debate é muito radicalizado. Existem alguns moradores que consideram que a Roosevelt é só deles. Daí vêm propostas estapafúrdias, como cercar a praça com grade, restringir funcionamento dos bares e proibir atividades culturais na praça. Não concordamos com nada disso porque acreditamos que a praça é de todo o mundo. De outro lado há grupos que, ao argumentarem que a praça é de todo mundo, defendem uma postura um pouco anárquica. Acham que podem fazer o que quiserem a qualquer hora e sem regras. Nós, da associação, achamos que os moradores também devem ser respeitados. A gente quer dormir, né?
O que a associação busca é um equilíbrio no uso da Praça Roosevelt?
Sim. Criamos a associação para discutir as questões de convívio no local levando em consideração todos os grupos que circulam por aqui – e são grupos bastante diversos. Há desde skatistas e pessoas que vêm passear com cachorro a aposentados, estudantes e gente que vem só tomar uma cerveja. É preciso promover o convívio de uma forma harmônica. A Praça Roosevelt é de toda a cidade. Os moradores devem ser respeitados, mas não são os donos dela.
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Quais os planos da entidade?
A associação quer estimular a realização, por exemplo, de atividades culturais e esportivas na praça, desde que estabelecidas regras para sua utilização. Afinal de contas, o espaço tem suas limitações e o convívio social deve ser respeitado. E também precisamos discutir a questão da zeladoria, como limpeza, segurança e manutenção. A praça foi construída há alguns anos, e já começa a ter problemas de desgaste de bancos, além do paisagismo, que necessita de cuidados. O lixo é outra questão muito séria, porque, como o local atrai muitas pessoas e há vários bares no entorno, o volume gerado é grande. As lixeiras existentes são pequenas e em número insuficiente. Outro assunto que devemos discutir com o poder público são os moradores de rua, questão que deve ser tratada de maneira saudável e cuidadosa. Não defendemos que as pessoas em situação de rua sejam retiradas da praça, mas é preciso encontrar um modo de lidar com a questão. O país vive uma crise econômica muito séria, o que impede muitas pessoas de terem uma situação de vida melhor.
A entidade já teve algum contato com o poder público?
Tivemos uma reunião com o Prefeito Regional da Sé, Eduardo Odloak. Apresentamos a ele algumas sugestões, como a colocação de lixeiras maiores na praça. Em linhas gerais, o que queremos é participar de discussões com os agentes públicos para encontrarmos um caminho razoável para o bom convívio.
Pode contar um pouco mais sobre a reunião com o Prefeito Regional da Sé?
Foi uma reunião muito boa com o Eduardo Odloak. Conversamos sobre todas essas questões que comentei aqui, e ele se mostrou muito interessado em ouvir nossa opinião, em entender como vemos a Praça Roosevelt. Aparentemente ele tinha uma impressão – trazida por esses pequenos grupos radicais de moradores – de que a Roosevelt é uma área cheia de problemas e onde tudo é ruim. Mostramos a ele que não é assim. A gente acha que a praça é vibrante e que a presença dos skatistas e dos bares é muito positiva, assim como a dos teatros.
Os bares e toda a cena cultural na Roosevelt tornaram a região, além de interessante, muito segura.
Exatamente. Esse movimento todo oxigena o ambiente. A Roosevelt está viva, tem teatros importantes. Queremos que haja atividades culturais não apenas dentro dos teatros, mas também ao ar livre, na praça. Da mesma forma, é importante incentivar o esporte, o skate. Conversamos sobre tudo isso com o Prefeito Regional, observando apenas que não somos favoráveis ao uso da indiscriminado da praça, sem respeito aos direitos básicos de quem mora aqui. E ele foi muito receptivo a isso, dispondo-se, de imediato, a atender algumas demandas concretas, como a de colocação de lixeiras maiores na praça.
Quais os próximos passos da Associação dos Moradores da Praça Roosevelt?
A associação já existe juridicamente. Ela foi criada por um grupo inicial de pessoas, mas é aberta. Agora, vamos atuar em duas frentes principais: uma é a interação com a área pública, para poder interferir em questões que competem aos diferentes órgãos públicos, e com empresas e entidades que estão na praça, como os bares, os teatros e as igrejas. A outra é trazer cada vez mais pessoas para o movimento. Por isso vamos fazer chamadas públicas e convidar mais moradores para diferentes atividades, como palestras e rodas de conversas. A gente acredita que a maioria das pessoas que mora no local compartilha da visão que temos da Praça Roosevelt. Muitos vieram morar aqui justamente porque querem viver nesse ambiente vibrante da Roosevelt. Quem não gosta do convívio social não deveria morar no entorno de uma praça.
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