Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
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Evento discute como evitar que a recuperação do Centro resulte em gentrificação; fundo imobiliário comunitário é criado para garantir moradia acessível na região
Maria Alice Rosa
Iniciativas empresariais e da administração pública podem contribuir para evitar que a recuperação do Centro traga consigo o fenômeno da gentrificação: o afastamento de pessoas de baixa renda de locais que se tornam mais sofisticados, elevando custos de moradia, alimentação e todo o tipo de consumo. Este foi um dos temas tratados com destaque no primeiro Diálogos A Vida no Centro, realizado no dia 7 de julho no ULIVING 433 pelo A Vida no Centro, hub de inovação e cultura sobre o Centro de São. O evento teve o objetivo de promover debates e networking entre os atores que estão transformando a região em um polo vibrante de cultura e inovação. Alguns projetos já estão em análise e empreendedores locais já atuam com a intenção de contribuir para que o Centro se mantenha o mais democrático possível em termos sociais. Os moradores, porém, estão preocupados.
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Na abertura para perguntas da plateia após a apresentação dos painéis, uma moradora do Centro elogiou a chegada de empreendimentos na região, mas ressaltou que a diversidade da população é a riqueza maior do local e disse temer os efeitos da gentrificação, como ocorreu em outros bairros paulistas, assim como em cidades de várias partes do mundo. Ela sugeriu a criação de mecanismos para evitar o despovoamento de pessoas de baixa renda, como leis que obriguem a reserva de uma porcentagem para moradias populares em empreendimentos imobiliários ou estimulem o retrofit em prédios abandonados para que sejam destinados a essa faixa da população.
Pouco antes, o vereador José Police Neto havia relatado que a Câmara Municipal de São Paulo vem discutindo projetos de serviço de moradia, como locação social e locação incentivada, por entender que a forma de acesso à moradia não se restringe mais à propriedade de um imóvel. “Ser proprietário de algo que está a 25 quilômetros da sua alegria e felicidade não é ser proprietário de nada. E ter um serviço de moradia na região central pode proporcionar tudo o que a pessoa quer e precisa”, afirmou.
O que o Diálogos A Vida no Centro mostrou, no entanto, é que a questão social em regiões que passam por processos de revalorização não se restringe mais a ações da administração pública. Os próprios empreendedores demonstram que podem contribuir com ações nesse sentido. Um dos exemplos foi apresentado pelo arquiteto e urbanista Renato Cymbalista, professor Livre Docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), um dos criadores do Fundo Imobiliário Comunitário para Aluguel (FICA), gerido pela Associação Pela Propriedade Comunitária, organização sem fins lucrativos fundada com objetivo de garantir moradia acessível nas grandes cidades.
“O projeto começou com a ideia de comprar imóveis no centro e ‘desespecular’ com essas propriedades, oferecendo aluguel a preço de custo. Entendemos que não era no espaço público que iríamos ganhar ou perder a batalha contra a gentrificação, mas sim no espaço privado”, explica Cymbalista. Ele diz que os recursos do Fundo são provenientes de doações, um crowdfunding recorrente com o qual qualquer pessoa pode contribuir. No site, por exemplo, seus fundadores revelam que o saldo em 1° de maio deste ano estava em R$ 83.526,87 e a meta é chegar a R$ 150 mil até o fim de 2018 para comprar o segundo apartamento. De acordo com o site, com um apoio de R$ 15 mensais é possível reduzir em um mês o tempo necessário para aquisição de um novo imóvel. O foco principal são apartamentos pequenos em regiões centrais, servidas de infraestrutura e redes de transporte e empregos.
O primeiro apartamento do Fica já está aberto a visitações e foi doado por um casal, segundo Cymbalista. Será alugado por cerca de R$ 320 por mês – quantia que representada o custo de degradação do apartamento e a contribuição para que a Associação possa se manter, correspondendo a um terço do que valeria a preços de mercado. Somando condomínio e IPTU, o valor total deve ficar em torno de R$ 580.
Outra iniciativa foi apresentada pelo sócio do complexo de entretenimento Tokyo, Fábio Balestro. “Temos a preocupação de que isso não ocorra na área em que estamos e por isso estabelecemos que, em diversos dias, dependendo de como está a lista de entrada, o acesso às nossas atrações entre as 18h e 20h é gratuito”, afirma. Além disso, ele destaca que o aumento do movimento no local tem beneficiado o comércio do entorno, incluindo os ambulantes que trabalham ali para ganhar a vida.
Cymbalista considera equivocado quando as pessoas que temem a gentrificação se opõem ao empreendedorismo, criticando quem está levando opções de cultura, gastronomia, entretenimento ou mercado imobiliário para sua região. A questão, para ele, é que há meios de participar desse movimento de ocupação com projetos que ofereçam soluções com foco social. “Acho que podemos fazer diferente e, em vez de ficar somente falando em gentrificacão, agir para que ela seja evitada e respeitar os grupos empreendedores que, com muita dificuldade, estão fazendo seus projetos acontecerem no Centro da cidade”, afirma.
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