Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
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Psicanalistas se reúnem aos sábados para atender a quem procura ajuda ou quer apenas conversar. Veja como funciona
Por Denize Bacoccina
O analista de sistemas Renato Lazzari chegou na hora do almoço, com um caderno na mão. Lá dentro, as anotações que fez nos sábados anteriores, resultado de suas sessões de psicanálise. Desde o fim de julho, todos os sábados ele se desloca de Santo Amaro, onde mora, até a Praça Roosevelt, no centro da cidade, para participar da Clínica Aberta de Psicanálise na Praça Roosevelt, iniciativa de um grupo de psicanalistas para atender gratuitamente a quem procura o trabalho terapêutico.
Aos sábados, na hora do almoço, é possível ver várias duplas perto do jardim, sentados em cadeiras de praia, sob a sombra das árvores, conversando. Não parece, mas é uma sessão de terapia.
Clínica aberta
Renato soube da existência do grupo pelo Facebook, e resolveu tentar. Gostou tanto que voltou nas semanas seguintes. Como a proposta da clínica aberta é que cada paciente seja atendido por um profissional diferente a cada sessão, ele mesmo busca registrar, de forma sintética, o assunto que tratou em cada conversa.
Tudo anotado no livro que ele traz consigo. “Procuro usar o mínimo de palavras. De preferência apenas uma”, explica, exercitando seu poder de síntese e autoanálise. Ele já fez psicanálise em outros momentos da vida, e aprovou esta versão “livre da interferência neoliberal que domina o exercício de todas as profissões”.
Gratuito e acessível
Na prática, isso significa atendimento gratuito, colocando a psicanálise ao alcance mesmo de quem não pode pagar por ela nos consultórios particulares, ou não teria acesso nos poucos serviços públicos disponíveis.
Sonia, moradora da região, chegou no último sábado para sua segunda sessão. Ela soube do serviço por uma amiga e gostou da experiência de conversar ao ar livre. Gostou também de não ter que pagar – motivo pelo qual, embora já tenha feito sessões de terapia em outros momento, desta vez procurou o grupo da Roosevelt.
Em tempos de crise tanto econômica quanto de liberdade de expressão, quando muitos se sentem constrangidos para expressar suas opiniões numa sociedade tão polarizada, os organizadores consideram a iniciativa também um exercício político, de resistência.
“O Brasil sofreu vários golpes, com cerceamento dos espaços públicos. Parece que estamos numa distopia”, diz Augusto Coaracy, um dos psicanalistas do grupo. A terapia em espaço aberto, ocupando a praça público, é uma maneira de resistir.
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O grupo se formou a partir da experiência da Clínica Aberta de Psicanálise na Casa do Povo, que fica no Bom Retiro, orientada por Tales Ab’Saber. O grupo pioneiro neste tipo de trabalho, no entanto, é a Clínica Pública de Psicanálise, na Vila Itororó.
Uma diferença no trabalho realizado na Roosevelt é que os pacientes podem ser atendidos por diferentes psicanalistas a cada vez, não havendo uma obrigatoriedade de manter o mesmo profissional. Isso também diferencia o trabalho realizado na praça de uma filantropia ou trabalho voluntário, na medida em que todos os analistas tem a liberdade de poder faltar em algum sábado.
Na prática, segundo eles, o que leva os psicanalistas da Clínica Aberta à praça é fundamentalmente o desejo e o entusiasmo de atender segundo certo compromisso político.
A liberdade do espaço público
Os psicanalistas também acreditam que a sessão num espaço público, fora do ambiente tradicional dos consultórios, também pode influenciar a maneira de ouvir os pacientes. “O analista também ganha mais liberdade”, diz a psicanalista Adriana Marino.
Para atender gratuitamente, os psicanalistas também tiveram que ultrapassar barreiras corporativistas, já que alguns colegas consideram que o atendimento voluntário, gratuito, desvaloriza o trabalho profissional. Isso não muda, no entanto, a disposição dos voluntários, já que o grupo, que começou a atuar em abril, vem ganhando novos adeptos e já conta com 19 integrantes.
Os atendimentos acontecem aos sábados entre 11 h e 15h, por ordem de chegada e de acordo com a disponibilidade dos profissionais. Eles se concentram embaixo do pergolado ou, em dias de chuva, sob a estrutura de madeira do café ou no Espaço Satyros, em frente à praça.
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