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A história do Vale do Anhangabaú: conheça as mudanças ao longo do tempo e veja fotos

Área para plantação de chá, parque em estilo europeu e depois uma avenida para carros: a história do Vale do Anhangabaú é feita de muitas transformações durante os séculos 19, 20 e, agora, no 21, com a polêmica reforma de um dos locais mais emblemáticos de São Paulo

Conheça a história do Vale do Anhangabaú: o local já passou por várias transformações até chegar à configuração atual.

Denize Bacoccina

Ao longo da história, o Vale do Anhangabaú já teve várias configurações. Até o fim do século 19, era uma barreira ao crescimento de São Paulo, que tinha praticamente todo o seu núcleo urbano concentrado no que hoje chamamos de Centro Histórico, ou Triângulo (a região entre o Largo de São Bento e a Sé). Foi somente no começo do século 20 que o outro lado do Centro se desenvolveu.

Urbanizado, teve vários desenhos e funções. Já foi um parque em estilo europeu, depois uma avenida para carros e, com a construção dos túneis (que ainda passam por baixo da laje que forma o parque), virou um parque urbano.

O nome Anhangabaú é indígena e significa, em tupi, rio ou água do mau espírito. A história mais provável é que tenha sido batizado assim por conta de algum malefício feito pelos bandeirantes aos índios nas imediações desse rio, que hoje passa sob o asfalto no Vale.

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Já no século 17, a água do rio era usada para lavar roupas e objetos e até mesmo tomar banho. Até o ano 1822 a região era apenas uma chácara de propriedade do Barão de Itapetininga, onde os moradores plantavam chá e agrião. Para chegar ao outro lado do morro era preciso atravessar a Ponte de Lorena, que em 1855 se transformou na Rua Formosa.

A urbanização só veio a partir do projeto de construção do Viaduto do Chá, no fim do século 19, que resultou na desapropriação das chácaras que ficavam ali. No começo do século 20 o lugar foi jardinado, o rio canalizado, e, em 1910, tornou-se o Parque do Anhangabaú, dividindo a nova São Paulo da velha. A primeira grande reforma do espaço foi nos anos 1940 com a criação das ligações subterrâneas às Praças Ramos de Azevedo e Patriarca – hoje conhecida como Galeria Prestes Maia.

Acompanhe por meio dessas fotos as transformações pela qual o Anhangabaú passou desde o fim do século 19.

Vale do Anhangabaú em 1890, quando a região ainda tinha plantações de chá e formava uma barreira natural para a expansão da cidade. Foto: reprodução

Nesta primeira imagem, de 1890, a região ainda ficava nos limites da cidade, e tinha plantações de chá e agrião. No fundo do vale, corria o córrego Anhangabaú.

Vale do Anhangabaú em 1895, quando foi construída o primeiro Viaduto do Chá. Foto: reprodução

Em 1895, o primeiro Viaduto sobre o vale facilita a integração com o outro lado da cidade.

No fim do século 19, o local era um córrego poluído. Foi canalizado em 1906, como parte de uma campanha de saneamento.

Em 1911, a construção do Theatro Municipal é um marco no desenvolvimento do chamado Centro Novo, o outro lado do Vale do Anhangabaú, que agora pode ser facilmente atravessado pelo Viaduto do Chá.

Foto de 1911, pouco antes da inauguração do Theatro Municipal. Em primeiro plano no vale os viveiros da chácara Flora; em plano médio os sobrados que davam frente para a Rua Formosa, demolidos posteriormente em virtude da ampliação do Parque Anhangabaú. À esquerda o Viaduto do Chá e o teatro São José, onde atualmente é o Shopping Light. Fotógrafo desconhecido
Foto de 1911, pouco antes da inauguração do Theatro Municipal. Em primeiro plano no vale os viveiros da chácara Flora; em plano médio os sobrados que davam frente para a Rua Formosa, demolidos posteriormente em virtude da ampliação do Parque Anhangabaú. À esquerda o Viaduto do Chá e o teatro São José, onde atualmente é o Shopping Light. Fotógrafo desconhecido
Fotografia do alto do antigo Viaduto do Chá, por volta de 1916-1918. A esquerda, o ajardinamento, já terminado do Morro do Chá e da Esplanada do Teatro Municipal (atual Praça Ramos); mais para a direita o traçado da Rua Formosa. Ao fundo e ao centro, a Praça do Correio e o início da Rua Anhangabaú. Foto: Aurélio Becherini
Fotografia a partir do alto do antigo Viaduto do Chá, por volta de 1916-1918. A esquerda, o ajardinamento, já terminado do Morro do Chá e da Esplanada do Teatro Municipal (atual Praça Ramos); mais para a direita o traçado da Rua Formosa. Ao fundo e ao centro, a Praça do Correio e o início da Rua Anhangabaú. Foto: Aurélio Becherini
Em 1927, a imagem a partir do Teatro Municipal mostra o vale como um parque , ainda com os palacetes Prates e, no canto esquerdo, o Edifício Sampaio Moreira, na época o prédio mais alto da cidade, com 12 andares. Foto: reprodução

Na década de 1920, o espaço é ampliado e transformado num parque.

Vale do Anhangabaú, com vista para a zona sul, em 1938. Foto: Benedito Junqueira Duarte
Vale do Anhangabaú, com vista para a zona sul, em 1938. Foto: Benedito Junqueira Duarte

Nos anos 1930, o parque já é cortado por uma rua, como mostra a foto acima. Em 4 de janeiro de 1930, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou: “Cogita-se a construcção de um novo viaducto de cimento armado, no logar onde se acha o do Chá. Sob a principal area do viaducto se abrirá uma via de 50 metros em communicação directa com a avenida Anhangabaú que está sendo construída”. As obras do novo viaduto foram concluídas em 1938.

As transformações continuaram nas décadas seguintes.

Em primeiro plano à esquerda o Theatro Municipal e o Hotel Esplanada. No centro o cruzamento da Praça Ramos de Azevedo com o Viaduto do Chá. Ao centro o Vale do Anhangabaú, os Palacetes Conde Prates. Ao fundo o Edifício Martinelli e Altino Arantes (Banespa), ainda em construção e à esquerda o Mosteiro São Bento, em 1949. Foto: Aristodemo Becherini
Em primeiro plano à esquerda o Theatro Municipal e o Hotel Esplanada. No centro o cruzamento da Praça Ramos de Azevedo com o Viaduto do Chá. Ao centro o Vale do Anhangabaú, os Palacetes Conde Prates. Ao fundo o Edifício Martinelli e Altino Arantes (Banespa), ainda em construção e à esquerda o Mosteiro São Bento, em 1949. Foto: Aristodemo Becherini
Obras no Vale do Anhangabaú, em torno de 1949. Foto: Alice Brill


No início dos anos 1950, o Vale do Anhangabaú era uma rua aberta aos carros. À esquerda, o Edifício Mattarazzo. Foto: reprodução de cartão postal

Nos anos 1940, o parque deu lugar a uma avenida, que cortava o fundo do vale e fazia a ligação Norte-Sul.

Vale do Anhangabaú visto do Viaduto Santa Ifigênia, antes dos túneis. Foto: reprodução
Em 1971, o vale ainda era uma rua aberta aos carros. Foto: Lucrécio Jr/Estadão

Nos anos seguintes, foram construídos túneis que criaram uma laje sobre o qual o parque foi construído.

O Anhangabaú, visto a partir do Viaduto Santa Ifigênia, antes da reforma que “tampou” o restante do túnel. Foto: reprodução

Uma reforma feita em 1991, com projeto de Jorge Wilheim e Rosa Kliass, escolhido num concurso público, levou os carros para os túneis e criou uma laje, sobre a qual foi criado um parque.

Foi então recriado o espaço para área pública, para circulação de pedestres e shows, com a instalação do palco embaixo do Viaduto do Chá. Apesar de amplo, o espaço era pouco utilizado no dia a dia, com exceção dos grandes eventos, como Virada Cultural.

Vista do Vale do Anhangabaú a partir do Viaduto do Chá, em 2018 Foto: A Vida no Centro

O atual projeto de reforma foi desenvolvido em 2013 pelo escritório do renomado escritório de arquitetura dinamarquês de Jan Gehl, e doado à prefeitura pelo banco Itaú. Ele mantém o tamanho e a laje atual do parque, mas aumenta a área de circulação de pedestres, com retirada dos gramados na área central e concentração das árvores nas laterais, próximo aos prédios.

O projeto tem galerias técnicas nas laterais, para o cabos de iluminação, telefonia e outros serviços, é plano e acessível para cadeirantes e pessoas com baixa mobilidade e tem quiosques para a instalação de bares, cafés, floriculturas e bancas de revistas. A ligação da Avenida São João, que antes era interrompida por um chafariz abandonado, agora é contínua.

Avenida São João depois da reforma – junho de 2021

A gestão deve será feita pelo setor privado.

Pista de skate no Vale do Anhangabaú

Leia aqui sobre o projeto e veja fotos das várias etapas da obra: REFORMA DO VALE ANHANGABAÚ

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Denize Bacoccina

Denize Bacoccina

Denize Bacoccina é jornalista e especialista em Relações Internacionais. Foi repórter e editora de Economia e correspondente em Londres e Washington. Cofundadora do projeto A Vida no Centro, mora no Centro de São Paulo. Aqui é o espaço para discutir a cidade e como vivemos nela.