Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
O guia de turismo Laércio Cardoso de Carvalho fala sobre a história da igreja Santa Efigênia, que é oficialmente uma basílica.
Síndico que liderou a transformação da Galeria do Rock, Toninho conta como o espaço, depois de viver a decadência nos anos 1970 e 1980, com baixa frequência e a convivência com o tráfico de drogas, se transformou num vibrante polo de cultura jovem. Confira a entrevista
Por Clayton Melo
Ainda me lembro como se fosse hoje. Estudava no Martins Pena, escola estadual que fica na Cidade Ademar, bairro da periferia da zona sul de São Paulo. As aulas eram de manhã, e pelo menos uma vez por semana – às vezes mais – eu tinha um compromisso no período da tarde: ir à Galeria do Rock.
Era demais! Como eu gostava daquilo… Pegava o ônibus e, mais ou menos uma hora depois, descia no ponto final, no Largo São Francisco. De lá ia andando até a rua 24 de Maio, onde fica uma das entradas da galeria. É por isso que durante um bom tempo muita gente chamava o local de “Galeria 24 de Maio”.
Como nunca tive mesada e era um durango total, o máximo que conseguia levar no bolso eram alguns cruzados – depois reais – que minha mãe me dava para comprar um lanche, mas que eu trocava por um vinil usado ou fita cassete com gravação pirata. Eu disse levar no bolso? Coisa nenhuma. Eu colocava era na meia. Mais protegido, né? Ia dar mole para batedor de carteira? O centrão, naquela época, vivia uma de suas piores fases, talvez o ápice da decadência e abandono. Era um ambiente hostil.
Quer ver como a Galeria está hoje? Veja aqui uma galeria de fotos.
Essa talvez fosse uma das explicações para haver poucas mulheres nos corredores da Galeria. Famílias? Nem pensar. A Galeria era o point de cabeludos que usavam calça rasgada e tinham tatuagem quando isso era coisa de marginal. Ou da galera do hip hop, no subsolo, com figurinos, cabelos e estilo que também não eram bem vistos na época.
O centro e a Galeria do Rock nos anos 1990
Chegando à Galeria, eu subia a escala rolante e ia direto para os andares das lojas de rock – eu vivia na Baratos Afins e na Aqualung, entre outras. Detalhe: não me lembro de, naquela época, ver alguma escada rolante funcionando. Elas tinham quebraram em algum momento e assim ficaram.
Estamos falando do final dos anos 1980 e início dos 1990, época em que a Galeria fazia a cabeça de quem curtia rap ou rock, mas que não era o que se poderia chamar de um “lugar família” ou preocupado em atender aos “consumidores”.
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Em meio aos fãs de música também havia traficantes, e o consumo de drogas nas dependências era comum. E a vibe, se era bacana por um lado (ir com os amigos descobrir sons que a gente sabia que só encontraria ali), por outro era barra pesada. Dentro e fora da galeria.
Isso começou a mudar pouco antes de metade da década de 1990, quando um novo síndico entrou em cena na Galeria do Rock. O nome dele é Antonio de Souza Neto, conhecido como Toninho da Galeria. Liderando um grupo de lojistas insatisfeitos com aquela situação, ele assumiu a administração com o propósito de transformar radicalmente o cenário.
O primeiro passo era tirar o tráfico de lá, o que lhe rendeu ameaças de morte. Limpar a área era essencial para aumentar a frequência de público e estimular a abertura de mais lojas.
A transformação
Foi um trabalho árduo e de longo prazo. E que deu certo. Quem vai à Galeria do Rock hoje encontra um clima bem diferente daquele de quando comecei a frequentá-la, no início dos anos 1990. As instalações estão em bom estado, há uma variedade enorme de lojas e também de frequentadores.
Se no passado o público era basicamente composto por homens, hoje muitas mulheres também frequentam o espaço. De adolescentes tatuadas e de piercing a mães que vão com o marido e crianças em carrinhos de bebê. O astral é leve.
O perfil dos negócios também mudou, mas sem perder a essência de cultura jovem. Se antes a maioria das lojas era de LPs, CDs, camisetas de bandas e locais de serigrafia, hoje o comércio se diversificou. Além dessas, há uma série de lojinhas de skate, artigos para o público nerd, cervejaria, bonequinhos de astros de rock e personagens de desenho animado, produtos veganos, moda, acessórios de decoração e por aí vai.
Isso é reflexo das transformações do mercado e da própria sociedade. A internet acabou com o império da indústria fonográfica e hoje o vinil é um artigo para apreciadores, um nicho, com um público fiel que continua indo à Galeria atrás de preciosidades e do prazer de ouvir o chiado das vitrolas. Eu mesmo sou um deles. Nesta década, a economia criativa ganhou espaço e deu uma nova dinâmica ao local. Ir à Galeria do Rock, hoje, é uma experiência. Tem até horta urbana e visita guiada para conhecer a história do empreendimento.
Microcosmo de São Paulo
Isso reforça, a meu ver, uma característica marcante na Galeria do Rock: ela é um grande radar da cultura jovem, que não apenas reflete, mas também ajudou a catalisar mudanças importantes de comportamento e estilo de várias gerações. Ela é isso, mas não só. É também uma espécie de microcosmo de São Paulo e, em particular, do centro.
As transformações econômicas, sociais e culturais por que passou a metrópole nas últimas cinco décadas estão alguma maneira refletidas ali, naquele prédio elegante e modernista inaugurado em 1963 como um centro comercial que tinha como missão tentar frear o esvaziamento do centro, que já perdia o protagonismo econômico para outras regiões da cidade.
A própria região central de São Paulo também melhorou muito e já é bem diferente daquela da década de 1990. Continua com problemas, sem dúvida, mas também tem muita coisa bacana e um clima bem mais atraente e repleto de opções de diversão e consumo.
Na busca por entender melhor como se deu esse longo trabalho de transformação da Galeria do Rock, fui conversar com aquele que é responsável direto por tudo isso, o Toninho da Galeria.
O papo com o síndico do rock você confere a seguir.
A Vida no Centro – Você tem uma relação de cerca de 40 anos com a Galeria do Rock. Como começou sua história com ela?
Toninho da Galeria- Vim para cá ainda adolescente, no fim dos anos 1970, quando me preparava para entrar em minha primeira faculdade. Entrei na Escola de Sociologia e Política, todo jovem e idealista, naquele momento com aquela linguagem marxista, querendo transformar o mundo no período ainda difícil, da ditadura. Montei minha primeira empresa aqui, um laboratório de fotografia, depois montamos uma empresa de locação de equipamentos fotográficos, algo que na época não existia no Brasil, e abrimos um laboratório, com uma equipe que atuava em vários lugares do Brasil. E a empresinha cresceu, tomou corpo.
Como era a Galeria quando você começou a trabalhar aqui?
Naquele momento ainda tinha algum glamour porque contava com muitos dos remanescentes do começo, que eram as pessoas ligadas à moda. A Galeria foi ideia do prefeito naquele período, chamado Toledo Pizza. Ele criou uma lei de incentivo para atender a uma demanda reprimida na cidade. Havia resquícios da Cinelândia, da Pauliceia desvairada dos modernistas. Tinha algum encantamento, embora já meio decadente. Em 1963, a galeria começou a ser ocupada. Os primeiros ocupantes foram artesãos, camiseiros, os calceiros e pessoas que faziam calçados sob medida. A partir daí começaram a vir os fotógrafos independentes, muitos deles ligados à fotografia publicitária, um segmento de serviços ainda embrionário.
Quando a cultura da música chegou à galeria?
A música começa a aparecer aqui em meados da década de 1970. A galeria foi construída com a finalidade de atender a essa demanda reprimida que comentei. Só que, na inauguração, havia uma folga, digamos assim. Todo o mercado financeiro, que ficava aqui na região da rua Boa Vista, começou a subir rumo à avenida Paulista. Isso fez o centro ficar um pouco abandonado. E a galeria, assim com outros prédios, ficou abandonada durante a gestão de muitos governos – até hoje a região continua abandonada. Tanto que ela nunca foi ocupada inteiramente – são 458 lojas no total – até a nossa chegada. Então ficou um espaço abandonado. Assim, quem eram os frequentadores? Geralmente eram os negros daqui da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Eram os filhos dos negros que vinham para cá. Como tinham os calceiros, eles faziam calças boca de sino, muito usadas na década de 1970, tinham cabelo black power. Outras influências da música negra também começaram a aparecer. Então o início da música na galeria foi com um pouco da música negra. Nesse percurso, começou lentamente a entrar alguma coisa ligada ao rock. Em 1976, surgiu a primeira loja alternativa, a Wop Bop. Depois veio a Grilo Falante e a Baratos e Afins, mais tarde a Aqualung e outras. Isso começou a proporcionar uma dinâmica diferente. A fixação mesmo do rock and roll aconteceu em meados da década de 1980, quando uma das lojas, que era punk, começou a causar muitos problemas. Era uma meninada diferente, o antigo síndico aqui era um delegado de polícia. Tinha muita briga.
Brigas de tribos, né?
Eram atritos de grupos diferentes. Uns não gostavam de heandbangers (metaleiros), outros não gostavam de punk rock, de gótico. Era uma coisa caótica e confusa. O síndico da época mandou embora todo mundo ligado ao rock, principalmente de punk rock e skin heads. Conseguiu limpar a área achando que aquilo era o que estava causando confusões. Mas os headbangers continuaram e as brigas também. Foi quando nós, no final da década de 1980, criamos um grupo, uma associação, para retirar esse antigo síndico porque ele estava brecando o desenvolvimento que já estava acontecendo. Em 1991 criamos a associação e em 93 retiramos o antigo síndico. Era resquício do regime militar, então ele mandava. Comecei a ter apoio de um coletivo, que é quem faz esse trabalho todo.
E como vocês fizeram para mudar isso?
O que vamos fazer com essa bomba que pegamos? Porque tinha muito bandido, ladrão, a polícia não entrava aqui. Isso era pior que a Cracolândia e num momento em que a droga era extremamente combatida, o preconceito contra as minorias era muito forte. A ditadura militar ainda existia psicologicamente na cabeça das pessoas. A droga consumida aqui dentro representava uma coisa violenta, pesada, perniciosa. Então assumimos em meio a todo esse consumo de drogas. Pegamos 16 pontos de tráfico de drogas na Galeria.
Dentro da Galeria?
Dentro da Galeria. Encaramos. Nada contra drogas, cada um consome o que quer. Só que dentro de um comércio não é legal. Porque as pessoas roubavam na rua, vinham para a galeria e a polícia não entrava. Gente fumava, cheirava e ninguém tomava partido porque ninguém queria se meter com isso. As pessoas sérias não entravam na galeria, e eram poucas lojas funcionando, umas 70 ou 80 só. Foi nesse período que começamos o trabalho. Um primo meu trabalhava no palácio do governo. Ele mandou pra mim uns dois ou três policiais para começarmos a minar essa coisa. Ele falava para mim: “Deixa disso, vão te matar aí dentro”. Comecei a receber ameaças de morte de tudo quando é lado e acabei deixando meu trabalho de fotografia para assumir isso aqui. Eu faturava bem, tinha me especializado em fotografia aérea no Brasil inteiro. Fazia fotografia de algodão e ganhava uma grana preta. As pessoas achavam que eu tinha ficado louco por ter largado. “Mas eu falei: vou encarar essa porra aí”.
E quando houve essa mudança no perfil dos lojistas?
O Fábio, da banda Olho Seco, que era dono da loja que trouxe todos os punks pra cá, foi expulso alguns anos antes. Falei para o pessoal: “Agora tá liberado para todo mundo, pode montar loja de rock”. Eu tive essa ideia porque estava fazendo pós-graduação em administração e marketing e pensei: “Opa, esse ramo aqui é legal, vamos pegar esse negócio de rock and roll”. Aí a Vejinha fez uma reportagem de oito páginas sobre a Galeria. Explodiu! A matéria despertou a curiosidade das pessoas. Aí veio a Globo. O jornalista Maurício Kubrusly fez uma matéria para o Fantástico. Essa movimentação toda que estávamos fazendo virou um fenômeno antropológico. Todo queria saber o que estava acontecendo aqui na Galeria. Das 70 a 80 lojas que tínhamos, passamos para 160. Dois anos depois fomos para duzentas e pouco, três anos mais tarde 300 e pouco. Em quatro anos o prédio todo estava ocupado. Paralelamente, fazíamos desfile do pessoal da cultura hip hop, que estava começando no Brasil. Organizávamos os desfiles porque eles pautavam o pessoal da moda, que vinha aqui pesquisar tendências. Até hoje eles vêm. Fizemos desfiles, colocamos bandas para tocar no primeiro e no segundo andares. Começou a explodir, era uma movimentação maluca. Por volta de 1996, o Bruce Dickinson (vocalista do Iron Maiden) veio aqui. A Galeria ficou entupida de gente. Inúmeras bandas vinham. Já houve desfile da Fashion Week e até uma novela da Globo se baseou no meu trabalho. Chamava-se Tempos Modernos. Eles queriam colocar o nome de “Galeria dos Manos”, mas não permitimos. Foi uma briga. Fiz até eles mudarem o roteiro da novela – e mudaram. Quem fazia o papel do síndico era o Antonio Fagundes, e outro era o líder dos lojistas. A Galeria chegou a ser fechada pela prefeitura.
Quando?
Duas vezes. Logo quando entrei, deu a maior confusão. Mas, como eu tinha algum envolvimento político, conseguimos reabri-la. Sempre tive envolvimento político porque isso era necessário. O preconceito contra a galeria era muito grande.
A economia criativa vem crescendo bastante no Brasil, especialmente nas grandes capitais, e hoje representa uma oportunidade de carreira para muitos jovens. A Galeria já estava ligada a esse universo antes de surgir o conceito de economia criativa e numa época em que não havia um ambiente tão propício ao empreendedorismo pelo jovem. Como você enxerga a Galeria do Rock nesse contexto todo?
Esse termo – “economia criativa”- surgiu mais recentemente, mas realmente começamos a fazer isso lá atrás, no início do nosso trabalho. Fizemos o alternativo. Toda aquela meninada que frequentava aqui era gente de vanguarda. Não havia emprego para muitos deles porque eles tinham tatuagens, usavam um cabelo diferente, mas eram extremamente criativos. E o mercado ia buscar gente criativa em outros lugares, até mesmo no exterior. Depois começaram a perceber que muitas dessas pessoas estavam aqui na galeria. O cinema, por exemplo, começou a pegar esse pessoal, assim como a mídia, entre outros setores. Então a economia criativa aconteceu na galeria há muito tempo e continua acontecendo. Há alguns meses, tivemos aqui um campeonato de drones.
Drones dentro da Galeria? Como foi isso?
Dentro. Foi uma coisa fabulosa, deu mídia para caramba. Teve muita gente, foi uma coisa espetacular. É isso que nós queremos, que as pessoas tenham espaço na economia criativa porque isso dá prazer e gera oportunidades. A galeria prioriza a felicidade e o bem-estar das pessoas. Também já fizemos um Startup Weekend. O prefeito de Amsterdã veio e ficou encantado com aquela molecada cheia de energia. A Galeria está a todo o momento se renovando, incorporando novos elementos.
Como parte dessas mudanças, hoje há um Jardim do Rock aqui e projetos com alimentação orgânica. Pode contar mais sobre isso?
O Jardim do Rock é consequência do Museu do Rock, que é um sonho antigo, mas que está parado por conta parte financeira. A Galeria do Rock é pobre, não tem grana do Estado. Já tivemos alguns incentivos, como do Proac (Programa de Ação Cultural, do Governo do Estado de São Paulo), mas não temos grana. Como parte de estudos que fizemos, encontramos na alimentação orgânica uma maneira de mostrar para as pessoas a importância de não ficar tão dependente da indústria alimentícia. O mais importante do Jardim do Rock é alertar as pessoas para aquilo que elas estão colocando dentro delas, a preocupação com a alimentação.
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