Quando o chão vira texto
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Debate reuniu no Badaró Art Caffé médicos, pacientes e voluntários para falar sobre a importância da autoestima no tratamento do câncer de mama
Por A Vida no Centro
Fotos: João Gil
O cuidado médico é importante, com prescrições individualizadas, mas ter uma rede de apoio que estimule a autoestima da paciente é fundamental para o sucesso do tratamento do câncer de mama. Essa foi a conclusão de especialistas, voluntários e pacientes presentes no debate Diálogos A Vida no Centro – especial Outubro Rosa, realizado no dia 29 de outubro no Badaró Art Caffé, no Centro Histórico de São Paulo, com o tema “A importância do equilíbrio emocional e da autoestima na superação do câncer”.
“Eu queria contar para vocês como começou a minha história de amor com o Pérola Byington”, disse a nutricionista Carmelina Amadei, diretora do Serviço de Nutrição, especialista em gestão da Humanização em serviços de saúde e Coordenadora do voluntariado do grupo técnico de Humanização do Hospital Pérola Byington.
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Ela contou que 70% das pacientes com diagnósticos de câncer de mama são abandonadas e que o grupo de humanização do Pérola Byington busca suprir essa perda, oferecendo atividades que ajudem as mulheres a recuperar sua autoestima e se fortalecer para enfrentar o tratamento. Entre as atividades, estão cantinho da beleza, com aulas de maquiagem, aulas de dança do ventre e outras.
“A gente sabe que é um tratamento doloroso, demorado, mas enquanto elas estão lá a gente tem que proporcionar momentos que façam com que elas esqueçam que estão em tratamento de câncer”, disse Carmelina.
Um acolhimento que dá resultado, na avaliação da médica oncologista Renata Suzuki Brondi, especialista em reconstrução mamária focada na melhora da qualidade de vida da mulher durante o tratamento e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia. “A cirurgia de reconstrução mamária, por exemplo, tem uma grande influência na autoestima da mulher. E a autoestima influi até no tamanho do tumor”, afirma. Atualmente, no Brasil, a reconstrução chega a 19% das pacientes atendidas pelo SUS, e um número muito maior entre as pacientes do setor privado ou de planos de saúde.
Também médico da Sociedade Brasileira de Oncologia e da Santa Casa, o oncologista e oncoplástico Evandro Fallaci Mateus disse que, embora a tecnologia de detecção de câncer de mama seja muito conhecida e barata, ainda existe um gargalo no tratamento na rede pública e nem todas as mulheres conseguem acesso aos exames preventivos. Com isso, no ano passado, cerca de 60 mil casos de câncer de mama foram diagnosticados, e mais de 14 mil pacientes morreram por causa da doença. “O pior dia é quando a mulher recebe o diagnóstico”, conta ele. “Daí para a frente, não é intransponível. Mas neste dia, dependendo de quem acolhe ou dá a notícia, pode ser.”
Para ajudar as mulheres a superar esta barreira, a publicitária Mariana Robrahn criou em 2013 a Cabelegria, uma ONG que recebe doação de cabelos naturais, confecciona perucas e doa a pacientes de câncer que têm queda de cabelo durante o tratamento. Para algumas mulheres, diz Mariana, é a peruca que permite a retomada da vida social. “Um dia eu ouvi de uma paciente que ela não queria ficar careca e que se ela fosse morrer ela preferia morrer com cabelo. A gente vê que para algumas pacientes isso faz muita diferença.”
Para Sandra Gonçalves, o diagnóstico de câncer de mama foi o estopim para a criação de vários projetos de autoestima, que servem para que ela ajude outras pacientes. Prova de que o atendimento médico ainda tem lacunas no Brasil, ela demorou a conseguir um diagnóstico definitivo da doença – apenas quatro anos depois da primeira suspeita, que foi descartada pelos médicos.
Quanto finalmente teve o diagnóstico confirmado, Sandra criou o Diário de Bordo, para documentar sua luta contra a doença. Logo ganhou um book sensual numa promoção e começou a postar uma foto por dia, com a hashtag #NamoreSe. Depois, em 2017, ela lançou o Apaixone-Se por Si, um projeto de valorização da vida e resgate da autoestima. Enquanto estava às voltas com o lançamento, fez os exames de rastreio e veio a recidiva do câncer de mama.
Sandra foi submetida a uma mastectomia radical. Mas não desanimou da missão de continuar sorrindo e ajudar outras mulheres a sorrir. “Eu não tenho medo de câncer, não tenho medo de morrer, não tenho medo de perder o cabelo. Meu único medo era não poder usar salto alto”, diz ela.
E do alto do seu salto, Sandra continua a inspirar outras mulheres e a dar a elas a força que precisam para atravessar o tratamento. “Eu posto minhas fotos para mostrar para as mulheres que me seguem que é possível passar por isso”, afirma.
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