A Vida no Centro

CalçadaSP

Wans Spiess e Tony Nyenhuis são publicitários e criadores do CalçadaSP, iniciativa de ativismo urbano com olhar artístico. Aqui, eles usam as calçadas do centro para caminhar sobre diferentes temas da região mais pulsante da cidade.

Precisamos falar sobre calçadas

Semana da Mobilidade e Dia Mundial Sem Carro fazem de setembro um mês nobre quando se trata de aproveitar a cidade

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Tempo de leitura:5 minutos

Setembro é mês de festa quando se trata de fruir pela cidade. Dia Mundial Sem Carro (22 de setembro), Semana da Mobilidade (este ano de 23 a 30 de setembro) e muitos outros eventos acontecem em São Paulo em torno do tema. Há muitos holofotes voltados para as discussões sobre calçadas. Melhor ainda é verificar que a arte tem assumido papel de protagonista neste cenário.

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A começar pelo prédio da FIESP na avenida Paulista. A obra de arte digital Calçada-SP, do artista Ivan Souto (sim, podia ser nosso, mas não é =D), explora as múltiplas possibilidades que podem surgir a partir de um clássico da cidade: a calçada paulistana. Um sistema computacional gera mutações na configuração de padrões geométricos, como os ladrilhos da tradicional calçada desenhada por Mirthes Bernardes. A cada execução do programa, configurações únicas são apresentadas, trazendo à memória as mesmas formas distorcidas do piso que muitas vezes vemos no nosso caminhar diário.

Imagem: Centro Cultural FIESP / Divulgação

Já o desafio da XII Bienal de Arquitetura de SP, organizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), foi apresentar pensamentos menos técnicos sobre o espaço e a cidade, tornando-os mais acessível a todos. E o que pode haver de mais “banal” no espaço público, se não a calçada? Com o dispositivo Calçadão, instalado no Sesc 24 de Maio, o artista Andrés Sandoval sugere uma discussões sobre o próprio cotidiano do edifício e suas relações com o entorno a partir da calçada. São espelhos alinhados ao nível do chão em toda a extensão do prédio, propondo uma continuidade sutil ao piso da rua.

Como parte da experiência, numa tarde nublada de sábado, foi realizada uma caminhada pelos calçadões históricos do centro da cidade que trazia reflexões sobre a percepção da topografia engolida pelos edifícios e sobre o recente projeto de substituição do calçamento de mosaico português por blocos de concreto. Andrés cita em sua obra o cientista português Acácio Nobre para dar vida ao calçadão: “A pedra que ainda não tem título mas que já tem olhos e que por isso já é, ou pode vir a ser, mais do que uma pedra. A pedra cresce assim mesmo sem sair do lugar. Nem mudar de chão. Só por causa de seu olhar.”. Adoramos!

Desenhos: Dispositivo Calçadões, Andrés Sandoval, 2019

Mas nem tudo é arte e diversão, e por isso precisamos caminhar lado a lado com a ciência. Publicada recentemente, a Campanha Calçadas do Brasil 2019 analisou a condição de calçadas, sinalização para pedestres, conforto e segurança para quem caminha no entorno de equipamentos mantidos pelo poder público. Os resultados de um levantamento inédito coordenado pelo Mobilize Brasil indicam que nenhuma das 27 capitais brasileiras oferece condições “civilizadas” para a circulação de pedestres e cadeirantes em suas calçadas, ruas e faixas de travessia. No total, 835 locais foram avaliados e a média nacional ficou em 5,71, numa escala de zero a dez. A pesquisa mostra como as cidades tem tratado mal seus pedestres.

Imagem: Portal Mobilize / Divulgação

Questões como esta só podem ser solucionadas quando avaliadas e discutidas junto à população. A Câmara de Vereadores de São Paulo convocou para o dia 24 de setembro o Seminário Paulistano de Calçadas, com a presença de grandes personalidades no assunto. Além das mesas de conversa, o evento contou com o debate público e dois pequenos vídeos: um onde técnicos e ativistas respondem: Por que nossas calçadas devem ser permeáveis?; e o outro é o Viva Chão Paulo, uma homenagem do CalçadasSP à cidade de São Paulo mostrando suas mais belas calçadas. Uma proposta de inversão do olhar, um caminho inverso para inspirar o debate, onde o passeio público recebe o tratamento de arte. Que bom que sempre podemos voltar para este olhar!

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