Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
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Como a expansão provocada pelo café no século 19 levou à construção do bairro de Campos Elíseos
Esta nova série A Vida no Centro, que conta com apoio da Magik JC, responsável pelos empreendimentos Bem Viver, vai trazer, a cada semana, uma matéria sobre o Campos Elíseos. Vamos falar sobre a história do bairro e dar dicas de bares, restaurantes, cafés e espaços culturais e de arte na região
Por Clayton Melo
De sua fundação, em 1554, até meados do século 19, São Paulo não passava de uma pequenina vila de casas de taipa – uma espécie de barro que era usado nas construções desse período todo. Mas tudo mudaria com o café. Quando ele se torna o motor da economia, a cidade cresce rapidamente, as primeiras ferrovias são construídas e São Paulo aos poucos se torna uma força política e econômica, um entreposto comercial estratégico para escoar a produção cafeeira, ligando o interior ao porto de Santos. A metrópole que veremos décadas depois começa a nascer aí.
E isso tudo resulta em mudanças profundas no desenho urbano – a cidade se expande para além do Vale do Anhangabaú, uma proeza que só foi possível graças à construção do Viaduto do Chá.
Assim, surge a necessidade de novas áreas habitáveis, com novos tipos de edificações e infraestrutura capazes de atender aos interesses da elite cafeeira. Estamos falando da década de 1870.
Foi esse contexto, de forma bem resumida, que levou à criação do primeiro bairro planejado de São Paulo. O Campos Elíseos surge a partir de 1879, depois da implantação das ferrovias, como a The São Paulo Railway (1867) e a Estrada de Ferro Sorocabana (1875), como mostra este documento produzido por pesquisadores da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. O estudo analisa o processo de urbanização da região central, com foco no bairro do Campos Elíseos.
Por aqueles anos, os fazendeiros do café passaram a ocupar os terrenos de uma área chamada primeiro de Campo Redondo, depois Chácara Mauá, por ter sido adquirida pelo Barão de Mauá, um dos pioneiros da industrialização do Brasil. Nessa época, a cidade ainda era cercada por chácaras. Diz o estudo:
“A partir do último quartel do século XIX, porém, começaram a se realizar os loteamentos dos belos sítios e vastas chácaras das redondezas do antigo centro urbano que, estruturando-se desde o Pátio do Colégio, correspondia às freguesias da Sé, de Santa Ifigênia, de Bom Jesus do Brás e da Senhora da Consolação. A Chácara das Palmeiras transforma-se no bairro de Santa Cecília, a do Carvalho na Barra Funda e no Bom Retiro, a do Campo Redondo nos Campos Elíseos, a do Bexiga na Bela Vista, e assim por diante.”
A dupla de estrangeiros que fez história
Os criadores do Campos Elíseos foram dois estrangeiros: os alemães Victor Nothmann e Frederico Glette, que dão nome a duas alamedas muito conhecidas no bairro, a Nothmann e a Glete. Responsáveis por outras obras na época – eles eram associados à empresa que ergueu o Viaduto do Chá, por exemplo-, eles compraram a Chácara Mauá em 1879. Para executar o projeto, contrataram o arquiteto Herman von Puttkamer, também alemão.
“Nessa área, entre 1882 e 1890, abriram ruas e inauguraram o bairro a que chamaram nada mais, nada menos, do que Campos Elíseos, evocativo não só do paraíso dos gregos, como da mais aristocrática avenida de Paris”, escreve o jornalista Roberto Pompeu de Toledo em “A Capital da Solidão – uma história de São Paulo das origens a 1900”.
Com a ideia de atender a uma clientela rica, composta pelos produtores de café, o bairro planejado inauguraria a era dos palacetes. O mais famoso deles está em bom estado e pode visto por quem passa na avenida Rio Branco: é o Palácio dos Campos Elíseos. Erguido na década de 1890, ele foi construído pelo fazendeiro Elias Pacheco Chaves, cunhado e sócio de Antonio e Martinico Prado numa empresa de exportação de café. Em 1911, o palácio foi comprado pelo governo do Estado e se tornou residência dos governadores. Entre 1935 e 1965, foi também a sede do Governo do Estado, até a mudança para o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, em 1965.
Mais recentemente, ele sediou o Centro de Referência em Economia Criativa do Sebrae, entre 2018 e 2021, e agora sedia o Museu das Favelas.
Um dos marcos do bairro é a Praça Princesa Isabel, na confluência da Avenida Rio Branco com a Duque de Caxias, conhecida na época como “Campo das Cavalhadas”, por ser o local onde ocorriam corridas de cavalos até 1876 – nesse ano, as corridas foram levadas para o Hipódromo Paulistano, na Mooca. Em 1865, o nome oficial do lugar era Largo do Campo Redondo, passando a se chamar Largo dos Guaianazes logo depois.
O nome Princesa Isabel foi dado em 1921, e de lá pra cá o local passou por várias transformações. A praça tem um dos maiores monumentos do Brasil, em homenagem a Duque de Caxias. Com 48 metros de altura, foi concebido por Victor Brecheret, construído pelo Liceu de Artes e Ofícios e levou 21 anos para ficar pronto (de 1939 a 1960).
O bairro começa a mudar de perfil, deixando de ser o local de residência da elite, por volta de 1930, com a inauguração da Estação Ferroviária Júlio Prestes. A estação aumentou o fluxo de pessoas na região e trouxe um forte movimento de transporte e cargas, o que resultou na construção de hotéis, pensões e outros serviços.
Esse movimento se acentuou a partir de 1961 com a inauguração da Estação Rodoviária na Praça Júlio Prestes. A partir daí, as famílias mais ricas começaram a se mudar para outros bairros – no caso, primeiro o bairro de Higienópolis, depois a região da Paulista, que naquela época era repleta de casarões.
O fotógrafo Juan Esteves fez, em 2017, um livro com fotos dos casarões do bairro (o projeto também contou com uma exposição em 2018 no Espaço Cultural Porto Seguro). Ele fotografou as construções no estágio atual, mas removeu digitalmente todas as interferências urbanas, como fios, grades e modificações nas fachadas. Ou seja, os elementos que interferem na visão dos prédios em sua arquitetura original (os “ruídos temporais contemporâneos”, como ele descreveu). “Faço dos prédios personagens”, como ele falou à época ao A Vida no Centro.
O resultado você pode ver nessas fotos (a imagem que abre esta reportagem, do Palácio dos Campos Elíseos, também faz parte desse trabalho do Juan Esteves):
Fontes:
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