A Vida no Centro

Diálogos A Vida no Centro - As transformações do Centro
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Tempo de leitura:5 minutos

Veja como foi o Diálogos A Vida no Centro sobre as transformações do Centro de São Paulo

Realizado em parceria com a STX, evento aconteceu no novo Ibis Styles Downtown, na Luz, e reuniu poder público, iniciativa privada e moradores

Maisa Infante

Empresários, moradores e poder público se reuniram no dia 22 de novembro para mais uma edição do Diálogos A Vida no Centro, que desta vez discutiu as transformações do Centro de São Paulo. Foram dois painéis que renderam boas reflexões.

Apresentado pela STX Desenvolvimento Imobiliário, o evento aconteceu no novo Ibis Styles Downtown, na Avenida Senador Queirós. A concepção e a realização foram do A Vida no Centro, com consultoria criativa de Junior Thonon.

Logo na abertura, Marcelo Conde, presidente da STX, falou sobre como o projeto do novo Ibis, que fica a poucos metros da Estação Luz do Metrô, está inserido no contexto da requalificação da região central.

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O empreendimento, que começa a operar no início de dezembro, será uma opção prática de estadia para empresários e compradores que visitam a região de compras do Bom Retiro, Rua 25 de MarçoSanta Ifigênia e Brás e também para o turismo. “Além de estarmos fazendo negócio, temos a satisfação de fazer parte dessa revitalização do Centro e do desafio de melhorar a região”, disse Marcelo Conde.

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Marcelo Conde, presidente da STX

Nelson Tranquez Jr., presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, lembrou que o bairro foi formado por migrantes e imigrantes e que hoje concentra 1,2 mil empreendimentos da cadeia de confecção. Os lojistas e empreendedores, disse ele, desejam um lugar cada vez melhor, com uma vocação não apenas comercial, mas também turística. Nesse sentido, ter um hotel por perto só traz benefícios. “O Bom Retiro já é um passeio completo. Temos o projeto do circuito de compras, que vai fazer com que a região melhore ainda mais e seja atrativa para todo o Brasil e também para quem vem de fora do Brasil. Sempre teremos bons negócios e excelentes oportunidades”, disse o empresário.

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Nelson Tranquez Junior, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Bom Retiro

Clayton Melo, do A Vida no Centro, apresentou toda a concepção por trás da plataforma, que é ser um instrumento desse processo de transformação da região central. Ele lembrou que, nos dias 9 e 10 de novembro, o Festival A Vida no Centro mostrou que é possível ocupar o Centro Histórico com arte, cultura e entretenimento.

“O Centro está passando pelo que todas as metrópoles do mundo já passaram, que é o ciclo do glamour, decadência e recuperação. Felizmente, a tendência de esvaziamento já se reverteu. E o mercado imobiliário tem muito a ver com isso. Hoje existe uma tendência do uso do espaço público pelas pessoas, e com o Centro não é diferente”, disse.

Os planos da Prefeitura para o Centro

Dois painéis discutiram as mudanças que estão em ação no Centro. No primeiro, o secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando Chucre, foi entrevistado pela jornalista Denize Bacoccina, do A Vida no Centro, sobre os planos e ações da prefeitura no centro de São Paulo.

Chucre lembrou que, diariamente, 2 milhões de pessoas se deslocam para o Centro, principalmente trabalhadores que saem de outros municípios da grande São Paulo e de outros bairros da cidade. E isso mostra o potencial da região. “É a oportunidade de requalificar um território que tem uma atividade econômica importante”.

Questões como mobilidade, obras de infraestrutura, incentivos fiscais e econômicos e desburocratização de processos estiveram na pauta do debate, que deixou evidente estarmos diante de questões complexas e fundamentais.

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O secretário destacou que a Prefeitura está investindo R$ 400 milhões na reforma de calçadas da cidade e o Centro, claro, está dentro dos planos. Ele explicou que o projeto não contempla apenas a troca de calçamento, mas a construção de uma nova infraestrutura para facilitar e organizar o cabeamento subterrâneo, de empresas de energia e telecomunicações, por exemplo, que diariamente quebram o calçamento para fazer reparos na sua rede. “Temos 27 empresas de telecomunicação que exploram o subterrâneo do Centro. Então, todos os dias alguma calçada é quebrada. Se não melhorarmos esta infraestrutura, não adianta refazer calçada”, disse.

Essa nova infraestrutura visa facilitar a manutenção das redes existentes e, mais do que isso, a ideia é que ajude a melhorar o serviço de banda larga no centro e, consequentemente, atrair empresas que precisam desta infraestrutura para a região. “Queremos trazer de volta o investidor para o Centro e essa infra vai possibilitar que as empresas tenham uma rede com maior capacidade”. Hoje muitas empresas desistem de se instalar no Centro por falta de uma rede de internet rápida.

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Fernando Chucre, secretário de Desenvolvimento Urbano, conversa com Denize Bacoccina, cofundadora do A Vida no Centro

Anhangabaú

O Vale do Anhangabaú, que já está em obras, terá uma espécie de túnel para a infraestrutura, que incluirá um reservatório de água da chuva e cabeamento. O cronograma prevê a conclusão das obras em junho, e Chucre disse que elas estão dentro do prazo.

Esse plano para a região central não contempla apenas as obras de infraestrutura, mas também incentivos fiscais e tributários e até a desburocratização de alguns processos para estimular a ocupação de edifícios que estão desocupados ou subutilizados. Nesse sentido, a Prefeitura está de olho na economia criativa, tecnologia e inovação. “Muitos empresários desistem de vir para o Centro por causa das dificuldades burocráticas. Queremos trazer este empresário de volta”, disse Chucre.

Uma das ideias que está em estudo no PIU (Projeto de Intervenção Urbana) Centro é a definição de um colegiado que trabalhe com prazos definidos para a aprovação de obras na região central. A ideia é reduzir o tempo de espera por uma autorização, que pode ser desestimulante. “Facilitar e desburocratizar procedimentos é uma medida central para trazer investimentos”, disse o secretário. Incentivos urbanísticos, como melhorar os instrumentos para a ocupação de edifícios históricos e execução de retrofit simples também estão em estudo, assim como isenção de IPTU e ISS para que empresas de cultura, tecnologia e inovação se instalem na região central.

A polêmica do Minhocão

Em uma conversa sobre requalificação do centro de São Paulo, a transformação do Minhocão em parque não poderia ficar de fora. É um debate que se estende há alguns anos e sempre provoca discussões entre aqueles que querem a desativação e demolição e quem defende a criação de um parque. “A tese da prefeitura é a construção do Parque Minhocão. Mas essa é uma questão que está no campo emocional e visceral e por isso é tão complexa”, disse Chucre. Ele acredita que a desativação do elevado para os carros é a única medida lógica e uma oportunidade de interligar parques, áreas verdes e equipamentos culturais ao longo da área central. “Seria uma grande via para as pessoas caminharem entre um equipamento e outro”, afirmou. Ele confirmou que a Prefeitura continua com os planos para a transformação do Minhocão, que já fica fechado aos carros de segunda a sexta das 20h às 7h e nos fins de semana durante todo o dia, num parque permanente, mas que na primeira etapa será instalada um gradil para proteção dos pedestres e acessos ao longo da vida. Será ainda instalado mobiliário nos fins de semana, retirado para a passagens dos carros durante a semana.

O vereador Police Neto, que esteve na plateia do evento, contou que o debate segue em andamento na Câmara de Vereadores e que o prazo para a desativação do Minhocão é 2030. Porém, há dois projetos de lei em tramitação. Um pede a revogação de todos os dispositivos que transformam o Minhocão em uma via para as pessoas, ou seja, o equipamento voltaria a ser apenas uma via para carros. O outro diz que a solução é o desmonte. Apesar das polêmicas, Police acredita que essa discussão é positiva. “Quanto mais olharmos para o Minhocão, mais certeira será a decisão”.

Diálogos A Vida no Centro - As transformações do Centro

João Varella, da Lote 42 e Banca Tatuí, André Czitrom, da Magik JC, Aline Cardoso, secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Roberto Arantes, subprefeito da Sé, e Clayton Melo, do A Vida no Centro

As transformações do Centro de São Paulo

No painel sobre as transformações no centro de São Paulo, a conversa foi sobre a importância da presença de pessoas nas ruas da cidade, principalmente nos horários em que há um esvaziamento, como aos finais de semana e durante a noite. Questões de zeladoria urbana e segurança também estiveram na pauta.

Mediado por Clayton Melo, do A Vida no Centro, o debate teve os seguintes participantes: Roberto Arantes, Subprefeito da Sé; Aline Cardoso, secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho; André Czitrom, sócio da Magik JC Empreendimentos Imobiliários; e João Varella, fundador da editora Lote 42 e da Banca Tatuí.

Aline contou que pela primeira está sendo desenhado um Plano de Desenvolvimento Econômico para São Paulo, iniciativa que pensa a cidade em um prazo de 10 anos. “Durante décadas São Paulo cresceu de forma orgânica, mas agora as transformações estão acontecendo muito rapidamente. Se não nos organizarmos, corremos o risco de perder investimentos da nova economia. Cidades como Recife e Florianópolis, por exemplo, têm políticas públicas mais atraentes”. Esse plano será entregue em 2020 e conta com pesquisas feitas com apoio da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) , além de consultas públicas das quais qualquer morador da cidade pode participar.

A secretária lembrou que o Centro tem as maiores possibilidades e os maiores desafios da cidade, como zeladoria urbana e a população de rua que, segundo o subprefeito Roberto Arantes, é de 11 mil pessoas na região central.

Diante deste cenário, como atrair investimentos e trazer mais gente para usufruir o centro da cidade? “O Centro tem uma vocação para economia criativa e serviços. Precisamos ver o que pode ser feito para potencializar estas vocações”, disse Aline Cardoso.

Uma das iniciativas foi a implantação de um coworking público, o Teia, na Biblioteca Mário de Andrade, que pode servir como um primeiro contato de muitos empreendedores com a região central. Eventos, festivais e empreendimentos gastronômicos também são importantes para atrair o público que vai usufruir do Centro, ocupar as ruas e fomentar um círculo virtuoso de ocupação do espaço público: mais gente atrai mais investimentos, mais empresas, mais negócios e, novamente, mais gente.

O case da Banca Tatuí

As micro intervenções também não podem ser ignoradas. João Varella, da Banca Tatuí, contou a sua experiência ao transformar uma banca de jornal que estava desocupada na região da Santa Cecília em uma livraria e editora. A princípio pareceu uma loucura, mas o negócio deu certo e ajudou a revitalizar um pedaço do bairro que era esvaziado e tinha problemas com usuários de drogas e roubos. Depois da banca, novos empreendimentos surgiram e a sensação de segurança melhorou. “São Paulo é superlativa, mas as pequenas ações ajudam as pessoas a ter uma vida mais amena e superar os obstáculos da cidade”, disse.

O empresário André Czitrom contou como a incorporadora Magik JC, que constrói empreendimentos do Minha Casa Minha Vida na região central, começou a transformar as áreas de construção em espaços temporários para a convivência das pessoas, como praças, feiras de artesanato ou gastronomia. “Empreendimentos imobiliários têm um ciclo de 5 a 7 anos entre o projeto e a entrega. Pensamos em como poderíamos trazer, ao longo desse processo, melhorias para o entorno. Porque é isso que faz a cidade mais conectada e mais humana”.

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O subprefeito da Sé, Roberto Arantes, lembrou que o orçamento da subprefeitura passou de 60 milhões para R$ 120 milhões em 2019, valor que deve continuar em 2020. Essa verba, segundo ele, é utilizada em infraestrutura viária, pavimentos e galerias, obras que dão base para as políticas públicas executadas.

Questionado pelo público sobre o problema de zeladoria urbana e dos moradores de rua, o subprefeito lembrou que o centro é a única região da cidade com terceiro turno de limpeza e disse que está em andamento um projeto para alterar a forma como os assistentes sociais lidam com os moradores de rua.

A ideia é que passem a trabalhar por indicadores e não por número de pessoas cadastradas. “A gente assume essa deficiência. Enquanto a questão social não for resolvida, vamos ter problemas de limpeza”, disse.

Com muito potencial e muita complexidade, o Centro mostra um enorme potencial econômico que já foi descoberto. Mas os desafios ainda são muitos e complexos, principalmente porque se trata de uma região com muita diversidade. Isso é um ponto positivo e ao mesmo tempo um dos maiores desafios do trabalho de requalificação, já que são vários atores e cenários que precisam conviver. Mas a transformação já começou.