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Museu das Favelas: a potência periférica que busca um novo olhar para o Palácio dos Campos Elíseos

Instalado numa das construções-símbolo da elite cafeeira, o Museu das Favelas quer ressignificar o local como espaço de encontro da cultura periférica por meio de exposições, palestras, oficinas, ciclo de debates e programação cultural

Museu das Favelas foi instalado do Palácio dos Campos Elíseos

Por Clayton Melo

Um ponto de encontro inspirado na potência das favelas e que traz um novo entendimento a respeito do papel de um museu na sociedade: um espaço que inclui as vivências que partem da periferia, dos assentamentos, ocupações, quilombolas e populações ribeirinhas. Em outras palavras, uma experiência que marca pessoas, saberes, conhecimentos e territórios.

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Com essa visão, o Museu das Favelas começou a funcionar no Palácio dos Campos Elíseos, uma das construções mais tradicionais da cidade, que faz parte da história de São Paulo por ter sido a sede do governo estadual entre 1935 e 1965. E o fato de o museu ser nesse local, um palácio que nasceu da e para a aristrocia cafeeira e política, na passagem do século 19 para o 20, tem um significado simbólico importante: a proposta do Museu das Favelas é trazer um novo olhar para esse espaço, tornando-o mais inclusivo e com estímulo a reflexões sobre a história da cidade e suas contradições sociais e econômicas, por meio de exposições, instalações, debates, oficinas, atividades para crianças, palestas e progamação cultural.

Palácio dos Campos Elíseos

“Quando trazemos aqui historiadores que vão contar a história pela visão dos que foram esquecidos, marginalizados, vencidos em guerra, gentrificados, é simplesmente dizer para o que viemos. É mostrar que o Palácio dos Campos Elíseos terá uma nova composição, que essa arquitetura, hoje, servirá para visibilizar aqueles que outrora foram postos pra fora daqui”, diz Carla Zulu, Coordenadora de Relações Institucionais do Museu das Favelas. “As exposições e instalações propostas mostram o quanto valorizamos os nossos artistas e teóricos”, afirma.

Carla Zulu, Coordenadora de Relações Institucionais do Museu das Favelas. Foto: Carlos Pires/ Divulgação

Programação de abertura

Equipamento público da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, o Museu das Favelas é gerido  pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), organização social de cultura. Ele terá atividades no jardim do palácio e nas salas do piso térreo, como ciclos de debates, instalações e exposições temporárias, além de atividades de fim de semana, como prática de yoga, atividades infantis literárias, oficinas de produção musical, shows e espetáculo teatral.

Museu tem intensa programação cultural, com shows, cursos, plaestras e exposições. Foto: Carlos Pires/ Divulgação

Os andares superiores vão receber, ao longo dos meses,  exposições de longa duração e instalações. Toda a programação é gratuita, com funcionamento de terça a domingo, das 9 às 18hs.

Nessa fase de abertura, o Museu das Favelas apresenta uma exposição  

sobre as raízes da favela, composta  por cinco partes, sendo três internas e duas externas.

No hall de entrada há esculturas tecidas em crochê criadas pela artista Lidia Lisbôa com a colaboração de sete mulheres do Coletivo Tem Sentimento e da Cooperativa Sin Fronteras, grupos de mulheres da vizinhança do Museu.

Em umas das salas laterais há uma instalação audiovisual sensorial, cuja curadoria selecionou imagens de 20 fotógrafos e produtores de conteúdos de diferentes periferias do Brasil. O projeto, chamado “Visão Periférica”, mostra a multiplicidade das experiências nas favelas, despertando memórias afetivas por meio do cruzamento de linguagens.

Na área externa, haverá uma instalação sobre a história do Palácio dos Campos Elíseos, com pesquisa de História da Disputa e produzido com artes em serigrafia pelo Coletivo XiloCeasa. Nos jardins, Paulo Nazareth – conhecido por suas andanças ao redor do mundo e seu trabalho que questiona os limites da performance como linguagem artística – traz uma das instalações de seu projeto “Corte Seco”, em homenagem a Maria Beatriz Nascimento: uma escultura de alumínio, de seis metros de altura retratando a historiadora, poeta, intelectual e ativista negra.

A programação completa e a atualização das atividades pode ser acessada no site do museu.

Origem da palavra “favela”

O termo “favela”, que se popularizou a partir do início do século XX ao denominar um sistema de habitações populares no país, é derivado de um tipo de árvore com espinhos, flores, frutos e sementes altamente nutritivas muito comum na caatinga e, especificamente, no Morro da Favela, em Canudos, no sertão da Bahia. Os soldados da Guerra de Canudos, que combatiam a comunidade liderada por Antônio Conselheiro, se instalaram ali por causa da ampla visão que tinham do vale. Ao retornarem ao Rio de Janeiro, sem o apoio prometido pelo governo, ocuparam o atual Morro da Providência, que passou a ser chamado de Morro da Favela. Desde então, “favela” passou a representar o tipo de organização urbana ali criada: barracões de madeira improvisados, sem infraestrutura, situados nos morros.

O Palácio Campos Elíseos

Localizado na Avenida Rio Branco, o palácio foi projetado pelo arquiteto alemão Matheus Häusler. A construção começou em 1890 e foi finalizada em 1899 para ser a residência do cafeicultor e político Elias Antônio Pacheco Chaves e sua família. O imóvel, dividido em quatro pavimentos, com  uma área construída de aproximadamente 4 mil m², foi inspirado no Castelo de Écouen, na França.

Palácio dos Campos Elíseo. Foto: Carlos Pires/ Divulgação

Em 1911, o palacete foi comprado pelo Governo de São Paulo, tornando-se residência oficial dos governadores. Após uma reforma de ampliação, em 1935 ele se tornou a sede oficial do governo até 1965, quando houve a transferência para o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi. Durante os anos de 1967 e 1972, ficou fechado para restauro por causa de um incêndio que destruiu parte do edifício.

O palácio foi tombado em 1977 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), sendo sede administrativa de diferentes secretarias e órgãos do governo até 2006, quando foi fechado novamente para seu segundo restauro. O Centro de Referência em Inovação do SEBRAE foi a última instituição que ocupou o prédio (2017-2019) antes do Museu das Favelas.

SERVIÇO

Museu das Favelas

Endereço: Palácio dos Campos Elíseos

Entrada pela Rua Guaianases, 1024 – São Paulo

Funcionamento:

De terça a domingo, das 9h às 17h (com permanência até as 18h)

Entrada GRATUITA | ingressos poderão ser retirados de forma antecipada no site e, também, de maneira presencial no dia da abertura.

Site:  https://museudasfavelas.org.br/

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Clayton Melo

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero com MBA em Marketing pela FGV, é curador cultural, analista de tendências, com formação na Escola Panamericana de Artes, e palestrante – já falou em instituições como Facebook, Google Campus, Mackenzie, ESPM, Cásper Líbero, Anhembi Morumbi, Campus Party e Festival Path. É especialista no desenvolvimento de projetos digitais de conteúdo, com estratégias de construção de audiências e comunidades, e experiência em Storytelling (ESPM), Inbound Marketing, Growth Hacking e Planejamento de Conteúdo para SEO. Neste espaço, escreve sobre tendências urbanas, futuro das cidades, inovação e cultura.