Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
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Com programação intensa a preços acessíveis, o Theatro São Pedro traz consigo a história de São Paulo no século 20, da Cinelândia Paulistana ao teatro de resistência à ditadura militar e espaço de experimentação artística
Theatro São Pedro, uma trajetória que se confunde com a história do Centro de São Paulo
Por Clayton Melo
A história da cultura no século 20 em São Paulo passa por uma construção em estilo eclético, com predomínio do neoclássico e detalhes em art nouveau, erguida em 1917 na esquina das ruas Barra Funda e Albuquerque Lins, na região do Campos Elíseos. É nesse endereço que funciona o Theatro São Pedro. Instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado e gerida pela organização social Santa Marcelina Cultura, o local tem atualmente 636 lugares, distribuídos entre plateia e dois balcões. Até chegar aos dias de hoje, no entanto, o teatro atravessou diversas fases.
Concebido para receber operetas, teatro e show de variedades, ao longo das décadas funcionou também sala de cinema, fechou, reabriu, passou por crises financeiras, foi um dos palcos de resistência à ditadura militar por meio da cultura, foi tombado e reformado.
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O início e o período como cine-teatro
O engenheiro responsável pela obra foi Antônio Villares da Silva, que seguiu as premissas do projeto criado pelo arquiteto italiano Augusto Bernadelli Marchesini, que morava na cidade. Nas primeiras décadas de funcionamento, o espaço teve uma trajetória similar aos de outros teatros de bairro da cidade. Nos anos 1940, no entanto, ele foi incorporado ao circuito exibidor das Empresas Reunidas, controladas pela Metro–Goldwyn–Mayer.
O teatro passa então por uma reforma e começa a funcionar também como sala de cinema – era o período da Cinelândia Paulistana, época que teve seu auge entre os anos 1930 e 1950 aproximadamente e que se caracterizou por um grande número de grandes salas de cinema na cidade, muitas delas no Centro.
Com a crise da Cinelândia a partir da década de 1960, que acontece em certa medida pela mudança do eixo da cidade para locais como Avenida Paulista, Jardins e mais tarde a Faria Lima, o cinema São Pedro começa a perder público e, em 1967, é fechado.
Teatro de resistência
Nos anos seguintes, o velho Cine-Teatro São Pedro é reaberto por grupos de teatro que tentam resistir à ditadura militar. O primeiro passo dessa nova fase foi dado pelo grupo Papyrus, liderado pela atriz Lélia Abramo e pela diretora Maria José de Carvalho, entre outras pessoas. Nesse período, o espaço recebe projetos com uma nova proposta de teatro, mas também filmes, música, conferências e concursos de dramaturgia.
Mas a falta de recursos impede a continuidade desses planos, e o Theatro São Pedro é arrendado a novos inquilinos, o casal Beatriz e Maurício Segall e o ator e diretor Fernando Torres, que pensam o local como um centro de experimentação artística e resistência política.
Depois de algumas reformas, o São Pedro volta a funcionar no final de outubro de 1968 com apresentações de música erudita e, logo em seguida, de teatro, com a montagem de Os Fuzis da Sra.Carra, de Bertolt Brecht, com direção de Flávio Império.
Em 11 de setembro de 1970, uma segunda reforma acontece, e o teatro ganha uma nova sala, chamada Studio São Pedro. Assim, o Theatro São Pedro fica, além da sala já existente, com 700 lugares, com outro espaço menor para apresentações, construído a partir do foyer e do terceiro balcão do teatro, com disponibilidade para 200 pessoas. Nesse mesmo ano é apresentado na sala grande um dos maiores sucessos daquela década, o espetáculo musical Hair, dirigido por Ademar Guerra.
É nessa fase, como Studio São Pedro, que o espaço começa a abrigar artistas e grupos perseguidos e censurados, como os teatros Oficina e Arena (dentre os quais Renato Borghi, Celso Frateschi e Fernando Peixoto). Várias peças importantes são encenadas no Studio, como Os Tambores na Noite (Brecht), e Calabar (Chico Buarque e Ruy Guerra), entre outras.
Ainda que as montagens tenham sido bem-sucedidas, problemas financeiros e internos levam a atriz Beatriz Segall, seu marido Maurício e Fernando Torres a alugar a grande sala do teatro ao governo do Estado e a desistir de fazer produções próprias no Studio.
Sede temporária da OSESP
Assim, o teatro passa, a partir de 1974, a servir de sede também para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), dirigia na época pelo maestro Eleazar de Carvalho. A São Pedro Produções Artísticas, que administrava o local, encerra suas atividades em 1975, ainda que Maurício Segall tenha continuado na direção do teatro até 1981.
No final dos anos 70, o teatro é sublocado para vários grupos, apresenta ainda algumas peças com Beatriz Segall à frente do elenco, e tem três montagens marcantes: Macunaíma (Mário de Andrade), sob a direção de Antunes Filho, em 1978; Ópera do Malandro (Chico Buarque), dirigida por Luis Antônio Martinez Corrêa, em 1979, e Calabar, dirigida por Fernando Peixoto, em 1980.
Em 1981 começa outra fase de abandono, até que, no mesmo ano, o governo estadual inicia o processo de tombamento. Em agosto de 1984 o edifício do Theatro São Pedro é tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e declarado de utilidade pública para fins de desapropriação.
Reforma e a fase atual
A Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa de São Paulo prepara então um projeto de reforma ancorado em dois eixos: a recuperação do maior número possível de elementos arquitetônicos originais da construção edificada entre 1916 e 1917 e a reforma completa de sua infraestrutura, com implementação de novos equipamentos cênicos, de conforto acústico, térmico, funcional e de segurança.
Quase uma década e meia depois, em 24 de março 1998, o novo Theatro São Pedro é finalmente reaberto ao público. A inauguração do novo São Pedro foi pensada, segundo o governo, como parte de um de um conjunto de intervenções de recuperação do Centro de São Paulo. Nesse momento, o Theatro São Paulo funcionaria como sede provisória da OSESP até a conclusão das obras da Sala São Paulo, na Júlio Prestes, em 1999.
A saída da OSESP não muda a vocação operística do Theatro São Paulo, um processo que foi reforçado a partir do ano 2000, com montagens do repertório europeu tradicional, como O Barbeiro de Sevilha (Rossini), As Bodas de Fígaro, Don Giovanni e A Flauta Mágica (Mozart), e espetáculos brasileiros como Pedro Malazartes, uma comédia musical de Camargo Guarnieri com libreto de Mário de Andrade, e Ventriloquist e uma pocket opera dirigida por Gerald Thomas.
Gradativamente a ópera passa a ocupar lugar de destaque na programação do São Pedro. Essa vocação é reforçada em 2010, com a criação da Orquestra do Theatro São Pedro. Ao longo dos anos, suas temporadas líricas apostaram na diversidade, com títulos conhecidos do repertório tradicional e também obras pouco executadas, além de óperas de compositores brasileiros, tornando o Theatro São Pedro um ponto importante na cena lírica do país.
Hoje, ele é um equipamento que mantém uma programação intensa, com concertos, óperas, espetáculos de balé e música de câmara, tem orquestra própria, uma academia de ópera (para formar novos músicos) e se destaca como um dos espaços de cultura mais importante do Centro de São Paulo, com ingressos a preços acessíveis ou gratuitos.
Serviço:
Theatro São Pedro
Endereço: Rua Barra Funda, 171
Telefone: (11) 3221-7326
Instagram
Fontes de pesquisa:
Site do Theatro São Pedro
Itaú Cultural
Site Cidade de São Paulo, da São Paulo Turismo
Memorial da Resistência SP
Cinemas de São Paulo
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