A Vida no Centro

Blog da Denize Bacoccina

Denize Bacoccina é jornalista e especialista em Relações Internacionais. Foi repórter e editora de Economia e correspondente em Londres e Washington. Cofundadora do projeto A Vida no Centro, mora no Centro de São Paulo. Aqui é o espaço para discutir a cidade e como vivemos nela.

Progressista, solidário e de oposição ao governo: o perfil do morador do Centro em relação à pandemia

Pesquisa mostra como o morador do Centro reage à pandemia e à quarentena

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Tempo de leitura:5 minutos

Pesquisa Viver em São Paulo: Especial Pandemia permite conhecer o perfil do morador do Centro de São Paulo

Denize Bacoccina

O morador do Centro de São Paulo é progressista, solidário, se preocupa com o aumento da desigualdade, continua pagando quem presta serviços domésticos para que eles também possam ficar em isolamento e não considera que o governo federal fez um bom trabalho no combate à pandemia. É esse o perfil do morador do Centro que aparece na pesquisa Viver em São Paulo: Especial Pandemia, realizada pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência, com 800 entrevistas online entre os 21 de maio e 1 de junho, com pessoas de 16 anos ou mais das classes ABC.

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A pesquisa mostra um perfil de comportamento parecido entre as várias regiões da cidade em alguns temas, com pequenas variações entre os vários grupos sociais. Mas alguns assuntos mostram uma grande diferença, de acordo com o local de residência, especialmente nos impactos da pandemia na dinâmica familiar e na maneira de ver o mundo.

Diferentemente dos bairros mais residenciais, a maioria das residências no Centro tem famílias menores, poucas crianças e mais lares com pessoas que vivem sozinhas, tanto jovens quanto idosos.

Isso se reflete nas consequências do isolamento. Neste período, de acordo com a pesquisa, o morador da região central sofreu mais com a solidão (30% no Centro e 20% na média da cidade), teve mais dificuldade em conciliar o trabalho com os afazeres domésticos (26% no Centro e 19% na média) e em manter a disciplina para trabalhar (15% na média e 29% no Centro).

Por outro lado, o morador do Centro teve menos problemas relacionados a filhos em idade escolar. Ter que dar atenção integral aos filhos, dificuldade relatada por 4% da população em geral, foi citada por apenas 2% dos residentes da região. Outro indicador nesta direção: 10% contaram ter dificuldade para acompanhar aulas e lições de casa dos filhos na média geral, enquanto entre os moradores do Centro este problema foi relatado por apenas 4%.

Mudanças na mobilidade

Mudanças que estavam em curso na mobilidade urbana já podem ser percebidas nesta pesquisa, com uma possível reversão – ou paralisação do avanço – na tendência de usar mais o transporte coletivo, como ônibus e metrô, em detrimento do carro. Por outro lado, aumenta a intenção de se locomover mais a pé. Isso é percebido na cidade como um todo.

No Centro, porém, permanece a disposição de deixar de usar o carro para se locomover, enquanto aumenta também a intenção de andar e pedalar mais. Enquanto 16% respondem que pretendem usar mais o carro, no Centro são apenas 8%. Os que respondem que pretendem usar menos o carro somam 11% no total e 21% no Centro.

Muitos vão deixar os meios de transporte de lado e optar por caminhar. Segundo a pesquisa, 42% dizem que pretendem se locomover mais a pé quando acabar a quarentena. Já 38% pretendem usar menos ônibus para se deslocar (na média da cidade, são 26%) e 37% planejam usar menos trem e metrô (na média da cidade, 24%).

Sobre os planos para a mobilidade após a pandemia, a adesão a uma mudança na matriz, com maiores investimentos na locomoção a pé ou de bicicleta é maior no Centro (54% concordam a afirmação de que o governo deveria investir nisso) do que na média da cidade (40%).

Um aspecto que pode surpreender quem não mora e apenas frequenta a região central no horário comercial, sempre encontrando milhares de pessoas nas ruas e filas de ônibus, é a reclamação sobre o barulho. Uma vizinhança barulhenta, observada durante o período em que as pessoas ficaram mais em casa, é uma reclamação de 26% dos paulistanos. Entre os que moram no Centro, essa reclamação foi relatada por 17%.

Solidariedade

A solidariedade é um aspecto que chama atenção. No Centro, 21% se preocupam com o possível aumento da desigualdade social e 74% concordam que a pandemia deixou claro que é preciso investir na redução de desigualdades.

Questionados sobre o que estão fazendo para que os impactos da pandemia sejam os menores possíveis, a comparação entre a média da cidade e o morador do Centro mostra algumas diferenças, com comportamento mais ativista do morador do Centro. 78% dizem que não estão saindo de casa, 21% estão fazendo ativismo online e 14% doando dinheiro pra organizações de assistência (o dobro da média da cidade de 7%) e 20% estão doando produtos e higiene e alimentos para organizações movimentos (13% na média).

A aquisição de vouchers para apoiar estabelecimentos que estão parados vem sendo praticada por 7% dos ouvidos (4% na média da cidade) e 33% também responderam que vêm adquirindo produtos e serviços de produtores pequenos ou locais.

Entre as pessoas que têm prestadores de serviços domésticos, 4% dispensaram e continuam pagando o mesmo valor. Entre os moradores do Centro, esse percentual aumenta para 9%. Mas também é quatro vezes maior do que a média (4%) a parcela dos que não dispensaram o serviço doméstico.

Política atrapalha

Na opinião de 76% dos moradores do Centro, a polarização política está atrapalhando o combate à pandemia de coronavírus e 78% acham que as sucessivas trocas de ministro da Saúde prejudicam. E 64% concordam que é possível proteger vidas e salvar a economia se as medidas forem bem planejadas. Sobre a reabertura da economia, 61% discordam que é possível relaxar o isolamento porque o pior da pandemia já passou.

O apoio às ações tomada pelo prefeito de São Paulo é maior (59%) do que o apoio às ações do governo do Estado (55%) e às do presidente (13%). As ações do ministro da Saúde são consideradas acertas por 40% e do ministro da Economia por 21%.

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