A Vida no Centro

Tipologias Ficcionais

Marcio Aquiles é escritor, crítico literário e teatral, autor dos livros Artefato Cognitivo nº 7√log5ie (Prêmio Biblioteca Digital 2021); A Cadeia Quântica dos Nefelibatas em Contraponto ao Labirinto Semântico dos Lotófagos do Sul; A Odisseia da Linguagem no Reino dos Mitos Semióticos; O Eclipse da Melancolia; O Esteticismo Niilista do Número Imaginário; entre outros. É um dos organizadores da obra Teatro de Grupo (Prêmio APCA 2021). Foi jornalista e crítico da Folha de S.Paulo, e desde 2014 trabalha como coordenador de projetos internacionais na SP Escola de Teatro. A coluna trará resenhas de espetáculos em cartaz na cidade e textos sobre literatura.

“Play Beckett” encara os mecanismos abstratos do autor irlandês

Em cartaz no Teatro da Aliança Francesa, na Vila Buarque, espetáculo de Mika Lins foge de didatismos e saídas fáceis

Publicado em:
Tempo de leitura:5 minutos

Pode-se entender Beckett como nonsense, qualificar como teatro do absurdo, tentar encaixar alegorias e símbolos como metáforas humanas, sociais ou até políticas, forçar a estranheza de sua dramaturgia dentro de algum molde estético, prever o resultado de seu desdobramento para o campo ontológico, achar que tudo não passa de verborragia randômica derivada da entropia que gera a imprevisibilidade crescente de nosso universo cognoscível, e, ainda assim, ficar perdido dentro de sua obra, sendo uma saída apelar para o adjetivo abstrato, com suas falibilidades e limitações, porém muito útil para implodir a apreciação artística do pictórico didático-descritivo e nos dar de presente, por exemplo, os quadros de Kandinsky e os filmes de Buñuel, experiências de décadas distantes, mas que surpreendentemente ainda causam desnecessários não entendo por quem ainda busca na arte a nitidez e a exatidão de uma equação matemática, por isso é admirável a coragem da diretora Mika Lins em encarar – num contexto histórico em que o teatro de verve político-militante compõe, para o bem e para o mal, 99% de tudo o que é produzido nessas terras – esses microdramas que compõem o espetáculo “Play Beckett” sem fugir àquilo que é essencial ao autor, o abstrato que se impõe como novo paradigma, em que as situações não precisam ficar presas às leis da lógica tradicional e pode-se substituir os dispositivos confortáveis de uma descrição cartesiana pelos riscos e incógnitas de um mecanismo quântico.

@marcioaquiles

Serviço
Teatro Aliança Francesa
Até 17 de julho, de quinta-feira a sábado às 20h; domingo às 18h
60 minutos | 14 anos | R$ 60,00 (sextas, sábados e domingos) e R$ 20,00 (quintas), ingressos pelo site sympla.com.br

Leia os outros texto de Marcio Aquiles aqui.