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Pianista e maestro João Carlos Martins, que ganha exposição no Centro Cultural Fiesp, dá entrevista ao A Vida no Centro
Denize Bacoccina e Clayton Melo
No mês em que completou 81 anos, o pianista e maestro João Carlos Martins ganha uma mostra retrospectiva interativa sobre sua vida e obra. A exposição João Carlos Martins – 80 anos de música, está em cartaz no Centro Cultural Fiesp até 26 de setembro. A entrada é gratuita mas é preciso pegar o ingresso antecipadamente por este link.
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Dois dias antes da abertura oficial, no dia 16 de junho, o maestro visitou a exposição pela primeira vez, acompanhado do diretor artístico e curador, Jorge Takla. Tanto João Carlos Martins quanto Jorge Takla conversaram com o A Vida no Centro, e você pode ver as entrevistas no nosso Instagram.
Além de grande pianista, reconhecido internacionalmente por suas interpretações da obra de Johann Sebastian Bach, o maestro é cofundador da Fundação Bachiana, entidade sem fins lucrativos criada em 2006 para promover formação musical e cultural e que já ensinou música clássica a milhares de jovens.
O maestro abandonou definitivamente os palcos como pianista em 2002 por problemas físicos e, a partir daí, desenvolveu uma carreira de sucesso como regente, tendo já se apresentado como regente convidado em Londres, Paris e Bruxelas. É também o regente da Bachiana Filarmônica Sesi-SP, primeira orquestra brasileira a se apresentar no Carnegie Hall, em 2007 e 2008.
Leia a entrevista concedida ao A Vida no Centro:
O que o senhor achou desta exposição sobre a vida e obra?
Eu realmente fiquei profundamente emocionado porque estou conhecendo a exposição agora. O Takla não permitiu que eu visse antes. Quando eu entro num palco, ou para tocar ou como maestro, eu geralmente sou o protagonista. E entrando aqui eu fiquei muito emocionado. Eu vi que desta vez eu sou o coadjuvante e o Jorge Takla é o protagonista. Ele fez um trabalho genial. Coisas que eu nem me lembrava da minha vida. Ele conseguiu fazer o resumo da ópera. Já teve filme, já teve três documentários no exterior, aqui no Brasil já teve peça de teatro. É profundamente emocionante passar na linha do tempo e descobrir coisas que ele foi pesquisar. Conseguiu fazer com que um velho sonho se transformasse em realidade. Essa exposição é como se fosse a cereja do bolo da minha vida.
E tem coisas da sua infância, tem coisas da carreira internacional. O que mais tocou o senhor?
Tem a minha estreia como regente no Carnegie Hall, a minha estreia (como pianista) no próprio Carnegie Hall quando eu tinha 21 anos. No dia 19 de novembro do ano que vem vou comemorar os 60 anos dessa estreia com um concerto dedicado à distonia focal. Eu sofro disso desde os 18 anos e desde 1980 é considerada uma doença rara. Por aí você pode imaginar o que eu tive que fazer para conseguir manter uma carreira, sendo portador de uma doença rara e enganando o cérebro sempre que eu pudesse.
O senhor conseguiu colocar este assunto em pauta. Poucas pessoas conseguiram superar um problema de saúde tão grave com essa determinação. O senhor acha que isso pode inspirar outras pessoas?
Eu posso dizer, porque aconteceu isso comigo: você pode dar um salto para o abismo. Ou de uma adversidade construir uma plataforma para tentar voar mais alto. Eu já pensei em dar um salto para o abismo. Mas a minha decisão final, há 29 anos, foi fazer de uma adversidade uma plataforma para voar mais alto e graças a Deus estou cumprindo a minha missão. E a minha missão agora é cumprir o sonho de Villa-Lobos, que dizia: não é um público culto que vai julgar as artes, são as artes que mostram a cultura de um povo. Sem dúvida alguma este é o tema da exposição: a ciência cura o corpo e a arte cura a alma.
E o senhor também tem um trabalho também muito importante com os jovens, com a Fundação Bachiana. Conta um pouco deste trabalho.
Muito mais do que um trabalho, eu considero uma missão. Tem milhares de jovens que trouxemos para o universo da música clássica e alguns diamantes que já encontramos neste Brasil afora. Se em cada dez, 20 mil você encontra um diamante já é uma vitória. Nós encontramos alguns diamantes neste país, que vão dignificar o nome do Brasil.
Além dos diamantes, tem as pessoas cujas vidas foram transformadas pela música.
Tem aqueles que no futuro poderão se tornar músicos profissionais, tem aqueles que terão a música como hobby e tem aqueles que vão fazer parte de um público.
O Takla também encontrou cartas muito emocionantes de ex-alunos.
Milhares. Milhares de cartas. E também nós visitamos a Fundação Casa, presídios. Para mostrar o que a música pode fazer na vida de uma pessoa.
A Fundação Bachiana fica no centro de São Paulo. Qual a sua relação com o Centro?
Nos anos 1970 eu morei no Centro durante uns cinco anos. E como morador eu considerava que o Centro pertence a você e de segunda a sexta é invadido por outras pessoas. No sábado e domingo você tem a sensação que é dono do Centro. É uma relação de amor e paixão pelo Centro que eu tenho.
E hoje em dia o senhor circula pelo Centro? Antes da pandemia, claro.
Sim, antes da pandemia, ia nos concertos do teatro Municipal, às vezes eu caminhava. Só que atualmente caminhando são tantas fotos, que ficou mais difícil. Mas o amor ao Centro continua.
Nos últimos anos o Teatro Municipal vem passando por uma abertura, busca por um público novo. Como o senhor está vendo o teatro nesse processo de democratização cultural?
Eu acho o Teatro Municipal o grande símbolo da cidade de São Paulo. E a revitalização do Centro vai depender muito do próprio Teatro Municipal. O Teatro Municipal é o símbolo da revitalização do Centro, sem dúvida alguma.
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