Viaduto Santa Efigênia passa por reforma. Prefeitura diz que vai manter desenho do mosaico do piso
Pastilhas estão sendo retiradas e serão trocadas por outras semelhantes, segundo nota oficial da Prefeitura de São Paulo.
As vantagens de viver no Centro não podem ser um privilégio de poucos. As melhorias na região devem servir às pessoas. Não acontecer às custas delas
Na semana passada, eu falei aqui sobre como é bom morar no Centro de São Paulo. E é realmente muito bom. Tudo fácil, à mão, uma cena cultural e boêmia super vibrante, com exposições, teatros, bares e restaurantes de todos os tipos. Tudo com a facilidade extra de ser percorrido a pé. Mas é claro que isso é só uma parte do que é o Centro de São Paulo.
Essa é a vida que eu, e provavelmente você que está me lendo, levamos ou temos condições de levar. A vida de quem tem uma casa segura para onde voltar depois de um dia de trabalho – no meu caso, tenho a sorte de nem precisar sair de casa para trabalhar –, com um fogão pra cozinhar a comida que enche a geladeira, uma cama confortável pra descansar.
Esse tipo de vida não é, infelizmente, acessível a todos. Muitos vivem como os moradores da ocupação do edifício Wilton Paes de Almeida, prédio construído em 1961 e que, abandonado pela União, foi invadido e serviu de moradia precária para dezenas de famílias até pegar fogo e desabar, na madrugada de terça-feira.
Cabe à polícia e órgãos como Ministério Público investigar e averiguar se o dinheiro cobrado dos moradores era uma cotização de despesas para manter as precárias instalações de água e luz e a segurança no local ou um grupo explorando pessoas que não têm dinheiro sequer para pagar um aluguel num local formal.
Fato é que elas estavam lá porque é onde conseguiam pagar. Como disse o arquiteto e urbanista Nabil Bonduk em artigo na Folha de S. Paulo, “um cômodo de cortiço no centro não sai por menos que R$ 800, enquanto um espaço delimitado por tapumes no edifício incendiado custava R$ 200”. Para muitos, é a diferença entre comprar ou não comida para alimentar os filhos.
A outra opção é morar longe, longe, muitas vezes fora do município de São Paulo. O problema é que lá não tem trabalho. Ok, emprego também está difícil no Centro, mas é mais fácil encontrar algo para fazer em lugares com alta concentração de lojas e de pessoas. Nem que seja rodar as ruas catando papelão e latinhas de alumínio.
Sem trabalho, é preciso vir todos os dias para o Centro. O que custa dinheiro e tempo. Muita gente gasta quatro, cinco horas por dia nesse vai-e-vem. Tempo esse que deixa de ser gasto na educação dos filhos. Ou no descanso, necessário para repor as energias para continuar tudo no dia seguinte.
Os que defendem que pobres deviam se contentar em morar na periferia têm uma visão higienista que vai na contramão do que queremos para o Centro de São Paulo: um lugar de convivência de diferentes, onde pessoas com diferentes rendas possam usufruir do espaço público.
O mais trágico é que não falta espaço. Nem imóveis desocupados ou subutilizados nem espaço para a construção de novos edifícios. Apesar de densamente povoado, o Centro ainda tem muitos prédios ociosos, públicos e privados, abandonados à degradação pelo tempo. Muitos deles, apesar da degradação, já está ocupados. Segundo a Prefeitura, são cerca de 70 apenas no Centro. Quantos estão em condições semelhantes à do edifício do Largo do Paissandu? Quantas tragédias deste tipo podem ocorrer? E se outros tiverem que ser desocupados, para onde vão os moradores? As pessoas não desaparecem apenas porque não tem dinheiro para pagar aluguel.
A urbanista Raquel Rolnik, em entrevista ao HuffPost disse que um exercício na região de Campos Elíseos mostrou a existência de 3 mil unidades que estão vazias ou estão subutilizados e cujos proprietários já foram notificados. Por que então esses prédios não foram liberados para quem precisa?
Existe oferta e existe demanda. O que falta? Falta vontade política. Falta um Poder Público – aí incluídas as esferas municipal, estadual e federal – um Ministério Público e um Judiciário que queiram resolver o problema. Políticos que não estejam preocupados apenas com a próxima eleição. Mas em resolver o problema. É preciso enfrentar a ideia de que é preciso controlar a oferta para manter os preços elevados. Não é fácil e não será rápido. Mas é preciso começar.
As vantagens de viver no Centro não podem ser um privilégio de poucos. As melhorias do Centro devem servir às pessoas. Não acontecer às custas delas.
Pastilhas estão sendo retiradas e serão trocadas por outras semelhantes, segundo nota oficial da Prefeitura de São Paulo.
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