Quando o chão vira texto
A historiadora e antropóloga Paula Janovitch fala sobre a "gramática dos caminhantes", que pode ser percebida ao se andar a pé pela cidade.
Pessoas que furam fila, urinam na tampa do vaso, colocam a conversa em dia no cinema ou não recolhem os dejetos de seus cães podem transformar a nossa vida num calvário
Conviver é um exercício de tolerância. Mas tem pessoas e situações da vida urbana que testam os limites da nossa temperança. E, a menos que desejemos protagonizar um barraco público ou fazer besteira ainda maior, com frequência somos obrigados a respirar e agir como monges tibetanos. Listo aqui alguns casos, já com a certeza de que você tem muitos outros para compartilhar.
Tenho um certo temor em levantar a tampa superior do vaso sanitário em estabelecimentos públicos ou corporativos. Além do risco de receber informações que não solicitei sobre o almoço do dia anterior de alguém que não se dispôs a acionar a descarga, há a possibilidade de encontrar o assento completamente irrigado pelo sujeito que parece ignorar o fato de algumas atividades serem mais bem executadas com a pessoa sentada.
Há pessoas que se julgam mais importantes do que o restante da humanidade. Entre esses autodeclarados privilegiados, poucos superam aquele que ocupa o segundo lugar na fila. Mesmo que você esteja recebendo atendimento, a pessoa seguinte se julga no direito de desviar a atenção do funcionário e fazer várias perguntas. O atendente passa a respondê-las e leva mais um tempo para lembrar o que estava fazendo. É grande a tentação de usar os cotovelos e obrigar o segundo da fila a sorrir de boca fechada por semanas.
Ser um bom cidadão e respeitar as regras pode ser mais uma fonte de irritação. Que o diga aquele motorista que sempre trafega pela faixa e dentro da velocidade permitida. De repente, vem alguém pelo acostamento e, talvez temendo a presença da polícia, resolve tentar entrar bem na frente do condutor consciente. Eu não deixaria. E você?
Passeio todos os dias com a Clementina, a minha cachorrinha. Antes de sair de casa, sempre me certifico de que estou com o material necessário para coletar os dejetos dela e de que preparei uma boa playlist no Spotify. Apesar de ter tudo para serem tranquilas e relaxantes, as caminhadas exigem uma dose redobrada de atenção. Isso porque donos mais imprudentes não estão nem aí para o que seus cães deixam atrás de si. E obriga os demais transeuntes a serpentear pelas calçadas com a destreza dos esquiadores da categoria slalom.
O cinema é um dos meus passatempos prediletos, mas em várias ocasiões a sala se converteu em verdadeira sessão de tortura. Exemplos recorrentes são os casais que comentam cada passagem da trama, gente que acha que a poltrona da frente é um apoio para os pés, os grupos que aproveitam para colocar a conversa em dia durante o filme e aqueles infelizes que aproveitam aquelas duas horas para atualizar as redes sociais.
Ainda falando de cinema, tive de enfrentar o meu maior trauma na sala Imax do Espaço Itaú do shopping Bourbon. Sofro de misofonia, uma disfunção também conhecida como síndrome de sensibilidade seletiva do som. Ou seja, alguns ruídos são capazes de me provocar dores de cabeça terríveis. Dois desses sons se destacam: barulho de gente comendo de boca aberta e, pior, chupando os dentes. Durante uma sessão no ano passado, um vizinho de poltrona me ofereceu esse combo. Comeu a pipoca como se mascasse chicletes e fez a assepsia dos dentes pelo método a vácuo. Tive de trocar de lugar.
Amo música, e cantar me faz um bem danado. Mas tudo tem hora e lugar. Como não sou fã de sertanejo universitário ou axé (nada contra quem curte e canta com seus ídolos), vou a shows para ouvir o que vem do palco. Em maio de 2013, a cantora Céu se apresentou no Bourbon Street, em show que fazia parte do lançamento do álbum “Caravana Sereia Bloom”. Sentado numa mesa atrás da minha, um sujeito cantou, a plenos pulmões e de forma miseravelmente desafinada, durante toda a apresentação. E o show da Céu virou um inferno.
Agi civilizadamente em todas as situações acima. Em alguns casos, dialoguei. Em outros, chiei. Nos casos mais insuportáveis, afastei-me. Mas, como cresce o número de pessoas que vieram ao mundo com a missão de irritar e como não dá para apostar na temperança das vítimas, sou absolutamente contrário à liberação de armas de fogo.
Leia aqui outras colunas de Edson Franco no blog Franquezas.
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